quarta-feira, 9 de julho de 2014


O sexo das palavras


Gonçalo Portocarrero de Almada

Anda por aí uma flamante moda de chamar «presidentas» às senhoras que chefiam alguma instituição, seja ela um Estado, como a auto-denominada «presidenta» do Brasil; um parlamento, como a Assembleia da República; ou uma fundação, como a que administra o legado do Nobel português José Saramago.

Não decorrendo esta extravagância do nefasto desacordo ortográfico, talvez proceda da ideologia do género, que muito gosta de baralhar, na vida e na linguagem, o masculino e o feminino.

Como é sabido, mas não de todos, quando se denomina um sujeito que exerce a acção expressada por um verbo, adiciona-se à raiz verbal os sufixos «ente», como em docente; «ante», como em navegante;  ou «inte», como em contribuinte. É esta a forma correcta, qualquer que seja o sexo ou género do indivíduo de quem se predica. Uma mulher polícia é uma agente da autoridade e não uma «agenta»; quem fabrica é uma fabricante e não uma «fabricanta»; uma mendiga é uma pedinte e não «pedinta». Portanto, pela mesma razão, quem ocupa a presidência, seja mulher ou homem, é presidente e não «presidenta». Outro tanto se diga dos substantivos invariáveis quanto ao género como, por exemplo, atleta, autista, doente, belga, motorista, etc.


É curioso que as promotoras destes femininos não defendam, que se saiba, uma forma masculina para os mesmos étimos. Se a forma «presidente» não é, a bem dizer, feminina nem masculina e se se pode dizer «presidenta», porque não também «presidento»?! Portanto, quem diz «presidenta» também deveria referir-se ao «presidento» da República, aos ex-«presidentos» do parlamento e ao «presidento» da Fundação Gulbenkian ...

Desculpem o atrevimento de quem não é «especialisto» na matéria, nem «jornalisto», mas um mero «cronisto», que espera chegar, um dia, a «pensionisto» … E valha-nos a Sophia, que não era «pedanta»!


Nota da redacção

O artigo é óptimo. Só peca ao pretender absolver destes disparates a Sofia (com pH ácido), que era uma feminista igual às outras, tão tola como todas as feministas. E substancialmente mais pedante que as demais. Esta não era presidenta mas dizia-se poeta em vez de poetiza... O poema é o mesmo. As moscas é que variam.

                                                                                             L.Lemos