A experiência mostra que é possível ajudar mulheres e homens em circunstâncias difíceis
Desde que foi liberalizado o aborto, mais de 22.875 crianças deixaram de ver a luz do sol, porque foram abortadas. É o número da nossa vergonha! Que seria deste país com mais 22.875 crianças? Quantas salas de aula, infantários e creches não teriam de abrir para estas 22.875 crianças? Quantos professores teriam emprego ao dar aulas a 22.875 crianças? Quanta alegria teríamos ao dar de comer a mais 22.875 crianças?
A lei foi a ferro e fogo imposta ao país e as vítimas aí estão - somos hoje uma sociedade mais pobre e menos solidária, mais violenta e menos ousada. As vítimas são também, muito em particular, as mulheres (mais de 22.000) que no último ano e meio se submeteram ao flagelo de ir ao centro de saúde, receber uma "guia de marcha" ou credencial que as conduziu ao aborto. Quantas mulheres o fizeram sob ameaça? Quantas o fizeram sob pressões sociais? Quantas mulheres o fizeram solitariamente? Quantas tiveram uma mão amiga, um ombro ou um gesto de carinho que lhes apontasse outro caminho? Quais as respostas sociais a este flagelo? O Estado oferece o aborto. Ponto. Porém, não baixamos os braços.
Muitos de nós, nas instituições de apoio à vida, temos estado ao lado de mulheres que caminhavam para o aborto e têm hoje consigo o filho ou a filha, com muita alegria. A experiência mostra que é possível ajudar mulheres e homens em circunstâncias difíceis. É um imperativo de solidariedade. É um trabalho difícil, mas com um retorno e uma nobreza incomensuráveis.
Por isso, apelamos a todos aqueles que disseram "não ao aborto" (mais de 1.700.000 portugueses) para que, no seu local de trabalho, no seu grupo de amigos, de relacionamento, na colectividade a que pertencem, no centro de saúde onde são utentes, estejam atentos, informem e intervenham ao lado de cada mulher que está em vias de fazer um aborto. Que nos organizemos em pequenos grupos (duas a três pessoas) para, pelo menos, dar uma palavra amiga, de coragem e de ajuda, a cada mulher que está em risco de aborto e também àquelas que o fizeram e agora descobriram as suas terríveis sequelas. Ninguém é feliz sozinho. O sofrimento que vive paredes-meias connosco é também uma dor nossa.
E, por fim, um forte apelo aos 308 presidentes de câmara, aos 4259 presidentes de juntas de freguesia do meu país. As mulheres do vosso concelho, da vossa freguesia precisam de ajuda, quando em risco de aborto.
É preciso criar em cada freguesia, em cada concelho estruturas de apoio às mulheres em risco de aborto. Senhores presidentes de câmara, tendes ao vosso dispor as comissões de Protecção de Crianças e Jovens que podem lançar mão deste trabalho. Senhores presidentes de junta de freguesia, os gabinetes de atendimento podem ajudar a que a vossa freguesia dentro em breve tenha mais felicidade na cara de cada mulher e tenha mais crianças e mais jovens nas creches e nas escolas. Bastará criar o apoio, noticiar a oferta, informar os centros de saúde e hospitais e tudo será diferente.
Perante o vazio de respostas do poder central, vamos mostrar que o poder local é solidário e amigo da vida.
Isilda Pegado, Presidente da Federação Portuguesa pela Vida