terça-feira, 21 de julho de 2015


Avisem o António Costa.

Sem austeridade não há euro


António Ribeiro Ferreira, Jornal i, 20 de Julho de 2015

O revolucionário Alexis Tsipras percebeu bem as regras. Um país da moeda única não pode andar a contaminar os outros com défices e dívidas.

A Grécia não foi humilhada coisa nenhuma. Estava de novo na bancarrota, sem dinheiro para pagar aos credores, bancos fechados e controlo de capitais, com as importações limitadas e em risco de falhar salários e pensões. Pediu um terceiro resgate, que pode chegar aos 86 mil milhões de euros, e ouviu dos seus parceiros as condições necessárias e suficientes para receber mais um empréstimo. Tudo normal, nada de capitulações, rasgar de vestes e tratados de Versalhes. Claro que para o Syriza e para o primeiro-ministro Alexis Tsipras, são sapos difíceis de engolir. É normal. Depois de uma campanha eleitoral cheia de slogans contra a austeridade, apoiada e aclamada pela extrema-esquerda e extrema-direita europeias, com alguns socialistas pelo meio, chegar a Atenas com um caderno de encargos recheado de reformas e cortes não é fácil nem agradável.

Ainda por cima, depois de um referendo em que o governo do Syriza apelou de novo a um chumbo da austeridade e recebeu o apoio de 61% dos gregos. Mas Tsipras deve ter aprendido bem a lição de estar numa moeda única. A austeridade só é exigida a quem não tem as contas públicas em ordem, tem défices excessivos e dívidas incomportáveis e não consegue avançar para reformas no mundo do trabalho e no Estado social que garantam crescimento económico, emprego e excedentes orçamentais que permitam baixar o endividamento. Um país que aceitou pertencer à União Monetária e adoptou a moeda única está obrigado a cumprir regras. Não pode, com a sua indisciplina, andar a contaminar as economias dos países que fazem esforços, aplicam medidas duras aos cidadãos, fazem reformas e depois vêem os seus esforços deitados para o lixo por erros alheios. A cimeira de 12 e 13 de Julho fica, naturalmente, na história.

Não por se ter chegado a acordo com a Grécia para o terceiro e, provavelmente, último resgate do país. Mas pelo facto de os países do euro terem, pela primeira vez, posto em cima da mesa, de uma forma clara, a possibilidade de um país sair da zona euro. É um passo em frente, um grande e sério aviso a toda a navegação europeia. E deve, por isso mesmo, ser levado em conta em Portugal, numa altura em que os partidos estão na estrada a vender aos portugueses os seus programas eleitorais, as suas promessas e as suas ilusões para o futuro. Os portugueses, que acompanham com muita atenção o que se passa na Grécia, já perceberam com certeza que as regras da moeda única não só não vão mudar como não vão ficar mais flexíveis, como anda por aí a vender o líder socialista António Costa. Não há alternativa ao Tratado Orçamental e às suas regras.

As contas têm de estar equilibradas, os défices claramente abaixo dos 3%, e os países devem apresentar excedentes orçamentais primários para tornar as dívidas públicas sustentáveis. A promessa socialista de encher os bolsos dos portugueses de dinheiro para aumentar o consumo, fórmula mágica de fazer crescer a economia e o emprego, é o caminho certo para o desastre. A promessa socialista de voltar ao investimento público para aumentar o emprego e o PIB é o caminho certo para o país voltar ao desastre não só de 2011 como de 1976 e 1983. Os portugueses devem lembrar-se que o país já caiu três vezes na bancarrota em 41 anos de democracia. Se cair na quarta, sai do euro e entra no caos e na miséria. Na hora do voto, a Grécia deve estar na ponta da caneta.