Daniel Pipes, The Washington Times
Embora os acontecimentos no Egipto se tenham desenrolado da melhor maneira possível, as perspectivas sobre o futuro permanecem incertas. A fase empolgante acabou, agora é hora das preocupações.
Comecemos com três notícias boas: Hosni Mubarak, o homem forte do Egipto que parecia estar à beira de fomentar um desastre, felizmente renunciou. Os islamitas, que pressionariam o Egipto na direcção do Irão, tiveram um pequeno papel nos recentes eventos e permanecem longe do poder. E as forças armadas que, nos bastidores, desde 1952 governaram o Egipto, é a instituição melhor equipada para adaptar o governo às exigências dos manifestantes.
Agora, vamos aos problemas. As forças armadas em si representam o menor dos problemas. No comando há seis décadas, causaram muita confusão. Tarek Osman, escritor Egípcio, demonstra de maneira eloquente no seu novo livro, Egypt on the Brink: From Nasser to Mubarak (Yale University Press), a rapidez do declínio na posição do Egipto. Qualquer que seja o indicador escolhido, desde o padrão de vida até ao poder de influência, o Egipto de hoje fica aquém do seu antecessor monárquico. Osman compara o Cairo dos anos 50 do século passado à cidade "superpovoada, tipicamente de terceiro mundo" de hoje. Ele também se desespera com a maneira em que o país "que já foi marco de tranquilidade … se tenha tornado o solo mais fértil para a geração de agressões do Próximo Oriente".
A Irmandade Muçulmana representa o maior problema. Fundada em 1928, organização islamita líder no mundo, tem de longa data evitado a sua confrontação com o governo, esquivando-se em revelar a sua ambição em realizar uma revolução islâmica no Egipto. O presidente do Irão Mahmoud Ahmadinejad articulou a sua esperança acerca da revolução ao reivindicar que devido aos acontecimentos no Egipto, "estava emergindo um novo Próximo Oriente sem o regime sionista e sem a interferência dos Estados Unidos ". Numa avaliação amarga, o próprio Mubarak fixou-se nesse mesmo perigo: "Vemos a democracia que os Estados Unidos lançaram no Irão, e em Gaza com o Hamas, e esse é o destino do Próximo Oriente … extremismo e islamismo radical".
De sua parte, a administração dos Estados Unidos, ingenuamente, não expressou tais preocupações. Barack Obama minimizou a ameaça da Irmandade Muçulmana, chamando-a apenas de "uma facção no Egipto", enquanto o director do Serviço Nacional de Informações, James Clapper, elogiou a irmandade com sendo "um grupo muito heterogéneo, consideravelmente secular, que desistiu da violência" que procura "a melhoria da política no Egipto".
Esse contra-senso aponta para uma política dos Estados Unidos profundamente desordenada. Em Junho de 2009, durante a revolução não concretizada contra o regime hostil do Irão, a administração Obama permaneceu calada, esperando com isso obter a boa vontade de Teerão. Mas com o Sr. Mubarak, um ditador amigo sob ataque, a administração Obama adoptou a impaciente "pauta da liberdade" de George W. Bush, apoiando a oposição. Obama aparentemente só encoraja manifestações de rua contra o nosso lado.
Pressão americana, gradual e contínua, reconhecendo que o processo de democratização implica uma vasta transformação da sociedade requerendo décadas e não meses, é necessária para abrir o sistema.
O que espera o Egipto? Será que a Irmandade Muçulmana tomará o poder?
Algo marcante, imprevisível e sem precedentes aconteceu nas últimas semanas nas ruas do Egipto. Um movimento de massas sem líderes electrizou um grande número de cidadãos comuns, assim como na Tunísia dias antes. Esse movimento não dirigiu o ódio contra estrangeiros, não fez das minorias egípcias bodes expiatórios, nem exprimiu uma ideologia radical; em vez disso, exigiu responsabilização, liberdade e prosperidade. Informações que me chegaram do Cairo levam a crer numa guinada em direcção ao patriotismo, inclusão, secularismo e responsabilidade pessoal.
Para confirmar, veja estas duas pesquisas de opinião. Um estudo realizado em 2008 por Lisa Blaydes e Drew Linzer constatou que 60 porcento dos egípcios sustentam opiniões islamitas. Porém, uma pesquisa do Pechter Middle East Poll da última semana constatou que apenas 15 porcento das pessoas do Cairo e de Alexandria aprovam a Irmandade Muçulmana e cerca de 1 porcento apoia um presidente da irmandade para o Egipto. Outro indicador dessa mudança sísmica: a irmandade, em retirada, diminuiu as suas ambições políticas, com Yusuf al-Qaradawi a declarar que preservar a liberdade dos egípcios é mais importante do que implementar a lei islâmica.
Nesta fase inicial, ninguém pode dizer de onde veio essa revolução nas atitudes ou para onde está a ir, mas ela é a feliz realidade de hoje. A liderança das forças armadas tem o peso da responsabilidade de guiá-la no bom caminho. Três homens em especial merecem ser observados de perto: o vice-presidente Omar Suleiman, o Ministro da Defesa Mohammed Hussein Tantawi e o Chefe do Estado-Maior Sami Hafez Enan. Veremos se a liderança das forças armadas aprendeu e amadureceu e se compreendeu que continuar em busca dos seus interesses egoístas levará a mais deterioração.