sábado, 9 de agosto de 2014


Soldado Milhões.
O português que enganou os alemães
na I Guerra Mundial


(Condensado de artigo de Olímpia Mairos para a RR)

Alcançou a fama quando, na Batalha de La Lys, se bateu sozinho contra uma avassaladora ofensiva alemã. Sozinho, Aníbal Augusto Milhais permitiu a retirada de parte das forças portuguesas e escocesas.


A história é contada na primeira pessoa.

«Eu já sabia de uns abrigos, em baixo, em Huit Maisons, e aí foi onde eu fui recolher. Foi onde eu então estive a dar fogo no dia 9 de Abril [de 1918]. Entrei para o abrigo, não vi ninguém. Só via fogo em roda de mim...»

Quem a conta é Aníbal Augusto Milhais. Em 1967, contou para uma velha máquina de bobinas a história da guerra em que participou e que fez dele um herói. Fê-lo a pedido e por insistência da filha Leonida Milhões.

A voz de Aníbal apresenta-se trémula, acusa já algum cansaço. A história é contada pausadamente.

«Mais tarde começaram então eles a avançar. Aí é que eu conheci que eram alemães. Foi então que eu lhes abri fogo. Medi-os à cinta e pronto. Essa invasão caiu toda. Passado uma hora ou isso, veio outra igual. Fiz-lhe fogo antes de chegar ao mesmo sítio dos outros. Mas mais tarde veio outra… – Cortei-a também. Foi aí que eu já não vi e não tornei mais a ver alemães».

Assim relatava Augusto Milhais, em 23 de Novembro de 1967, o feito que o tornou herói nacional. A gravação permanece na família.

É guardada como se de um tesouro se tratasse.


As origens

Aníbal Augusto Milhais nasceu em 1895, numa família pobre. Era o mais novo de três irmãos que ficaram órfãos bastante cedo e foram acolhidos por parentes mais próximos.

Ainda criança começou a trabalhar a troco de alimentação e de um abrigo, em casa das pessoas mais remediadas de Valongo, aldeia no concelho de Murça (desde 1924, Valongo de Milhais, em sua homenagem).

Nunca foi à escola. Começou a vida como «moço de recados», depois guardou rebanhos e bois e fazia «todo o tipo de trabalho agrícola», conta o neto, Eduardo Milhões Pinheiro, à Renascença. Os irmãos, João e Maria Rosa, emigraram cedo para o Brasil.

Aníbal permaneceu na aldeia a trabalhar como jornaleiro.

Em 1915 é apurado para a tropa. No ano seguinte, a 13 de Maio, assenta praça no Regimento de Infantaria (RI) n.º 30, de Bragança.


Segundo o neto, esta teria sido «a primeira vez que saiu da sua terra e do seu concelho».

No mês seguinte é transferido para o RI 19, de Chaves. Meses depois, parte para a guerra. Especialidade: «atirador especial».

A milhares de kms de casa

Já em França, Aníbal Milhais especializa-se em metralhadoras Lewis e é integrado no BI 15, de Tomar, como n.º 1 de uma das guarnições de metralhadoras ligeiras.

Rezam as crónicas que, a 9 de Abril, uma força portuguesa se viu atacada pelos alemães. A força chegou a ser destroçada, a situação era «a pior possível». Muitos portugueses foram mortos e os sobreviventes obrigados a retirar.

Como enganar alemães

Segundo Eduardo Milhões Pinheiro, o seu avô, «de forma voluntária, disponibilizou-se para ficar e cobrir a retirada de todos os seus companheiros».

«Ficou com a sua metralhadora no posto dele e foi criando a ilusão, nas tropas alemãs, que a posição estava a ser guardada por várias unidades do seu batalhão, porque ele fazia fogo de vários pontos distintos».

«Assim conseguiu empatar a ofensiva alemã durante tempo suficiente que permitiu a todos os seus companheiros recuar para linhas mais resguardadas, em segurança, sendo que a maior parte deles terá conseguido sobreviver», conta Eduardo Pinheiro.

Milhais, esse, continuou sozinho, a vaguear pelos campos. Tinha apenas «amêndoas doces» para comer.

Quatro dias depois da batalha, terá encontrado «um médico escocês a quem salvou de morrer afogado num pântano. Esse mesmo médico terá dado conta ao exército aliado dos feitos» do soldado transmontano.


«Vales milhões»

E foi assim, em plena I Guerra Mundial que o soldado português alcançou a fama, na Batalha de La Lys, em Abril de 1918.

A bravura do franzino e pequeno Aníbal, com pouco mais de um metro e meio de altura, valeu-lhe a Torre e Espada – a mais alta condecoração militar portuguesa – entre outras distinções.

O epíteto «Milhões» nasceu com um elogio do seu comandante, Ferreira do Amaral: «Tu és Milhais, mas vales milhões».


«Ele terá sido condecorado pelo que fez, mas também de forma simbólica como reconhecimento a todos os soldados que combateram, e sobretudo àqueles que tombaram na I Guerra Mundial», acredita Eduardo Pinheiro.

O regresso à terra

Em 1919, Aníbal regressa a Valongo, em Murça, compra uma parcela de terra que cultiva, casa e tem filhos. Vive com dificuldades e luta pela sobrevivência, dedicando-se aos trabalhos agrícolas.

António Milhões, 81 anos, filho do soldado Milhões, lembra-se bem dos primeiros tempos de criança, tempos difíceis e de muito sacrifício.

«Eram tempos muito duros. O meu pai trabalhou muito no campo, para criar os filhos», conta António, revelando que a família viveu períodos de fome, tempos em que «uma sardinha era dividida por três».

Orgulhoso do pai, António recorda-se dele como «um homem simples, bem-disposto e muito trabalhador». Lembra-se bem que o pai, a quem acompanhava nas tarefas do campo, começou por ganhar a vida com bois ao ganho: alimentava, tratava e utilizava os animais que outra pessoa com mais dinheiro comprara; quando eram revendidos, dividia-se o lucro.

«Era um mestre nas enxertias e na matança dos porcos e praticamente todas as pessoas da aldeia o chamavam, quando era necessário realizar esses trabalhos».

A vergonha de um herói emigrante

Do percurso de vida do soldado-herói há ainda a registar uma incursão pelo Brasil, em 1928.

Milhões teria trabalho assegurado numa fábrica do Rio de Janeiro, mas os compatriotas de Murça não aceitaram a vergonha de um herói emigrante.


«Fizeram uma colecta de forma a pagarem-lhe a viagem de regresso, dizendo-lhe que um herói da pátria não deve estar emigrado e, muito menos, fazer os trabalhos que lhe aparecessem. Deveria estar no seu país, como símbolo, como reserva de um conjunto de valores», conta Eduardo.

Não falar da guerra

De regresso à terra, o soldado Milhões retoma a actividade agrícola para sustentar os filhos. Teve dez, mas só oito chegaram à idade adulta. Dificilmente falava da guerra e sempre que o fazia era porque lhe pediam. Nunca deu grandes pormenores.

Mariana Rosa, 74 anos, conviveu de perto com o sogro, mas poucas vezes o ouviu falar da guerra. «Ele dizia que aquele tempo foi um tempo de tristeza e que só pedia a Nossa Senhora do Vale de Veigas que o deixasse regressar à terra.»

Eduardo Pinheiro realça que o avô até «mudava de conversa» quando alguém lhe puxava pelo assunto da guerra, mas refere que «ele falava muito de um seu companheiro», do qual só conhecemos a alcunha de «Malha-vacas» que ele viu morrer ao seu lado («despedaçado por um morteiro», no dia 9 de Abril).

«Essas marcas ficam para sempre e explicarão a resistência do meu avô em falar da guerra», conclui o neto.

O reconhecimento material da nação resumiu-se a uma pensão que se manteve nos 15 escudos por mês, pelo menos até o seu quinto filho ir à inspecção militar, no início dos anos 50.

Quando morreu, a 3 de Junho de 1970, aos 75 anos, as suas medalhas conquistadas no campo da glória valiam-lhe pouco mais de mil escudos mensais.


Mais elementos sobre o «Soldado Milhões» em:

https://www.youtube.com/playlist?list=PL3leal8pavx1h4vZCE0B_SdbSOQFcy1cU





sexta-feira, 8 de agosto de 2014


As transferências das ratazanas

Do Grupo mau para o Banco bom...


João Moreira Rato é um dos imprescindíveis
à salvação da Pátria!






terça-feira, 5 de agosto de 2014


Direito de ter filhos


Inês Teotónio Pereira

Um filho é, antes de mais, uma vida. Uma vida própria. E não se aluga nada para gerar vidas humanas, e muito menos barrigas

Vivemos na era dos direitos. Todos reclamamos direitos, e bem, mas falamos baixinho de deveres ou de obrigações. Temos direito à educação, à saúde, à liberdade, ao bem-estar, à segurança, à vida e até a sermos felizes. A bitola está tão alta que se torna, na maior parte das vezes, inalcançável – mesmo que se paguem todos os impostos. Mas o objectivo está bem definido, e a palavra «direito» muito bem esmifrada. O século XX trouxe-nos esta oferta generosa de direitos pela primeira vez na história da humanidade: nunca houve tantos direitos como hoje. Bem haja o século XX!

Estando todos estes direitos definidos, e muito bem, chegámos agora a uma nova fase de direitos, e bem mais ambiciosa. O princípio é o mesmo: queremos ser felizes e temos direito a tudo o que nos possa trazer felicidade. E chegamos assim aos filhos. Os filhos entraram na categoria dos direitos, como a habitação ou a educação. Os filhos, tal como todos os outros direitos, trazem-nos felicidade e, se queremos, devemos ter o direito de os ter. Custe o que custar e a quem custar, porque não é justo que haja alguém que não possa ser pai ou mãe.

As barrigas de aluguer, o novo tema fracturante que estava de molho à espera de ser debatido, é o próximo da lista e vem responder a este direito. O que se reclama é a possibilidade de se alugar a barriga de alguém que esteja de tal forma frágil e vulnerável que se dispõe a alugar a própria barriga para gerar uma vida alheia. E pronto, temos filho. Um filho que é ao mesmo tempo de três pessoas, mas que será só de duas. Um filho que cresce sabendo que não foi gerado pela mãe que conhece, mas por outra que alugou a barriga para o gerar. Um filho que é resultado da reclamação de um direito dos pais de serem pais. Um filho que é, na verdade, um capricho que se cumpre para alcançar uma ideia de felicidade.

Mas a verdade é que ninguém tem direito de ter filhos. Os filhos não são ordenados ao fim do mês, uma taxa moderadora que temos o direito de não pagar, ou um rim que alguém nos cede para podermos viver. Um filho é, antes de mais, uma vida. Uma vida própria. E não se aluga nada para gerar vidas humanas, muito menos barrigas. O único direito que existe é o direito de os filhos terem pais. Os pais, esses, não têm direitos, mas sim o privilégio de ter filhos. Um privilégio que nos obriga a prescindir de direitos, de egoísmos, que nos faz renunciar ao bem-estar e que nos vincula para sempre ao dever de cuidar e de proteger outra vida.

Quem quer ter um filho a todo o custo, apenas pelo desejo ou pelo direito de ser pai, relativiza os direitos do filho que nasce de uma barriga de aluguer e a felicidade da pessoa que a alugou. Ser pai ou mãe não é uma questão de justiça, mas ignorar tudo isto é uma verdadeira injustiça. Um filho tem direito a ser muito mais do que um capricho e tem direito de crescer e desenvolver-se dentro da sua mãe, e não de outra pessoa que nunca vai conhecer e a quem nunca irá chamar mãe. Quando se tem filhos, percebe-se que a nossa felicidade não depende deles, mas sim da felicidade deles. Alugar uma barriga para ter um filho e, com isso, achar que se comprou a felicidade é meio caminho andado para a infelicidade de muita gente e, em primeiro lugar, do próprio filho. E estes, sim, não pediram mesmo para nascer.





segunda-feira, 4 de agosto de 2014


Endereço electrónico de Ricardo Salgado


Para quem quiser reclamar o seu dinheiro, aqui deixamos

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