sexta-feira, 9 de maio de 2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Conferência em Montemor sobre Colon

A Associação Cristóvão Colon organiza, no próximo dia 17 mais um Colóquio sobre Cristóvão Colon, que terá lugar em Montemor-o-Novo.
Nele será abordada a influência de Montemor, nomeadamente através dos Marqueses de Montemor, na vida de Colon e no plano de chegada ao Novo Mundo.

[Clique na imagem para visualizar o convite]

Islâmicos na Nigéria raptaram
cerca de 300 meninas cristãs


A barbárie está mais forte do que nunca e continua a reinar em pleno século XXI. Informem-se e divulguem este crime.

As crianças raptadas na Nigéria, pelos islâmicos, não podem ser esquecidas e têm de ser libertadas.





http://pt.euronews.com/2014/05/06/nigeria-mais-oito-jovens-raptadas





O 25 de Abril trouxe fortes perturbações à economia
e agravou o choque petrolífero de 1973


Pedro Braz Teixeira

O 25 de Abril de 1974 ocorreu num momento económico particularmente azarado. Em Agosto de 1971, o presidente dos EUA, Nixon, tinha declarado a fim da convertibilidade do dólar em ouro, pondo um ponto final no sistema monetário de Bretton Woods, criado em 1944. Quase três décadas de câmbios fixos chegavam ao fim, bem como a estabilidade que este sistema tinha trazido.

Mais grave do que isso, o choque petrolífero de Outubro de 1973 ajudou a pôr termo a um período de ouro de crescimento, que seria seguido pela grande inflação dos anos 70. A redução do potencial de crescimento que se lhe seguiu, por toda a Europa, travou a forte emigração portuguesa dos anos 60, que tinha sido uma importante válvula de escape da nossa economia, bem como uma muito significativa fonte de rendimentos. Pode-se tentar despejar sobre o choque petrolífero de 1973 muitos problemas de que a economia portuguesa veio a sofrer posteriormente, mas isso não é inteiramente honesto.

Um choque externo nunca é apenas um choque externo, já que temos sempre que considerar a resposta nacional. Só nos casos em que a reacção nacional tenha sido no sentido de o minimizar poderemos falar sobretudo num choque externo.

O que fizemos em relação àquele choque petrolífero foi no sentido de o minimizar? Não, pelo contrário, maximizámo-lo e isso foi consequência directa do 25 de Abril. Um país que é um grande importador de petróleo tem de responder a uma subida dos preços desta matéria-prima com uma desvalorização, uma redução dos salários reais e contracção da procura interna.

Como a política de «escudo forte» era um aspecto muito valorizado do Estado Novo, os governos do novo regime tiveram um enorme receio de desvalorizar, com medo de que surgissem saudades do anterior regime. Por isso a desvalorização do escudo foi adiada da forma mais irresponsável possível.

Quanto aos salários reais, não só não desceram como subiram fortemente. Basta recordar a criação do salário mínimo, em 1974, que foi fixado a um nível tão estratosférico que nunca voltou a ser igualado, em termos reais, até hoje, apesar dos significativos progressos económicos registados desde então.

Outra consequência economicamente devastadora da Revolução dos Cravos foram as nacionalizações, directas e indirectas, decididas em Março de 1975. Por mais que se critiquem os principais grupos económicos da altura, pelos benefícios decorrentes do condicionamento industrial, é impossível pretender que as empresas públicas decorrentes daquelas nacionalizações, mastodônticas e proverbialmente ineficientes, pudessem constituir uma alternativa ao dinamismo da iniciativa privada.

Aliás, as nacionalizações e a perseguição aos dirigentes levaram à fuga de Portugal de alguns dos nossos melhores quadros, uma fuga de cérebros grave num país com fortes debilidades na formação. O discurso anticapital também gerou uma relevante fuga de capitais, que a legislação que a proibia não conseguiu impedir. Por tudo isto, não é minimamente credível argumentar que o abrandamento da economia se deveu ao choque petrolífero e não ao 25 de Abril.

O fim da guerra colonial também trouxe um enorme dividendo de paz, já que as Forças Armadas consumiam 40% do orçamento. Esta folga terá permitido reforçar o Estado social, então muito incipiente.

A forma como a descolonização foi conduzida pelo MFA, a favor da URSS e não das populações das ex-colónias, gerou também um êxodo em massa de retornados, cuja integração foi um autêntico milagre, sem os conflitos que outros fenómenos semelhantes, mas muito menos expressivos, envolveram noutros países, nomeadamente em França.

O rapto do 25 de Abril pelas forças pró-comunistas e anticapitalistas gerou, em suma, gravíssimas consequências económicas, que constituem um fortíssimo exemplo negativo. O nosso cardápio completo, de todos os erros que não se devem cometer, ajudou enormemente Espanha a fazer uma transição democrática muito mais tranquila e muito menos perturbadora da economia.





quarta-feira, 7 de maio de 2014

A trágica história da primeira vítima
da «teoria do género»


Emanuele Boffi

A PROPÓSITO DESTA NOTÍCIA

Publicada em Itália, 20 anos depois, a verdade terrível 
sobre o caso que desacreditou para sempre o inventor da teoria de género




Incidente que aconteceu com o pequeno Bruce (nascido em 1965): 
por erro, numa circuncisão terapêutica o seu pénis foi queimado.

Os pais Ron Janet, desesperados, após uma série de consultas médicas, 
recorreram ao Dr. John Money, um médico que tinham ouvido falar
na TV sobre os milagres da «mudança de sexo».

Money era o ideólogo da identidade de género, 
baseada na ideia de que a identidade de uma pessoa não se apoia
nos dados biológicos de nascimento, mas nas influências culturais
e no ambiente em que cresce.


Money ficou eufórico por cuidar do pequeno.

O médico explicou aos pais que precisava deles para garantir 
que Bruce se tornasse feminina: que o vestissem como uma menina
(agora com o nome de Brenda), deixassem crescer o seu cabelo,
o fizessem sentir como uma ela e não um ele.

Dessa maneira, viria a ter uma vida feliz.

BRENDARon Janet, pelo menos nos primeiros anos, 
entregaram-se de alma e corpo à sua missão.
Mas qualquer coisa não estava a correr bem.

A pequena Brenda ignorava as bonecas que lhe davam de presente, 
gostava de andar à luta com os seus amigos, construía fortificações
em vez de se pentear em frente ao espelho.

Os primeiros anos de escola agravaram consideravelmente a situação. 
Brenda começou a tornar-se particularmente violenta e foi rejeitada.

Brenda continuou a comportar-se «como um rapazola», 
defendia o irmão nas brigas, e penava quando estava com as amigas.

Tudo isso levou os pais à exaustão: 
Janet tentou o suicídio, Ron começou a beber.

Em 1980, o pai contou à filha a sua história. Brenda «sentiu-se aliviada» 
porque finalmente entendeu que «não era louca.»
A primeira pergunta que ele fez ao pai era: «Qual é o meu nome?».

DAVIDBrenda/Bruce decidiu regressar ao seu sexo biológico. 
Escolheu o nome de David.


No Verão de 1988 David fez «uma coisa que eu nunca tinha feito antes. 
Acabei por rezar». Disse: «Tu sabes que eu tive uma vida terrível.
Não tenho intenção de me lamentar contigo, porque deves ter uma
qualquer ideia do porquê de me estares a fazer passar por todas estas coisas.
Mas eu poderia ser um bom marido, se me fosse dada a oportunidade.»

OS REIMER. Os demónios não pararam de assolar a família Reimer.

Só Ron, o pai, após um período de dificuldade com o álcool, 
conseguiu retomar as rédeas da sua vida.

A mãe Janet continuou a sofrer de crises profundas de depressão. 
O irmão gémeo passou por rupturas conjugais, drogas, álcool. Suicidou-se em 2002.

David, após a morte do irmão, nunca mais foi o mesmo.

A empresa onde trabalhava fechou, 
incompatibilizou-se com a mulher com quem entretanto tinha casado.

No dia 4 de Maio de 2004 foi até um estacionamento isolado 
e apontou a arma à cabeça.

Tinha 38 anos.


DOCUMENTÁRIO 49 min






terça-feira, 6 de maio de 2014

Providência cautelar contra aplicação de acordo
ortográfico nos exames do 6.º ano nos tribunais



A acção foi entregue no Supremo Tribunal Administrativo. Ivo Barroso, primeiro subscritor da acção, diz que o objectivo é que também seja aceite a grafia anterior ao AO90.

O Governo tem 15 dias para se opor aos efeitos suspensivos desta providência cautelar que chegou via internet ao tribunal, sendo que apenas na segunda-feira será entregue a documentação necessária para esta acção.

Em declarações à TSF, Ivo Barroso, professor da Faculdade de Direito de Lisboa e primeiro subscritor desta acção, entende que o acordo ortográfico está cheio de inconstitucionalidades e está a gerar muita confusão nas escolas.

Este docente justificou ainda esta acção pelo facto de nestes exames do 6.º ano ter sido «imposta a obrigatoriedade do AO90 no corrente ano lectivo».

«Ninguém sabe como aplicar o acordo ortográfico, nem os professores o sabem ensinar, nem os alunos o sabem aprender, porque o acordo ortográfico está extremamente mal feito, o que contribuiu para uma complefixação da aprendizagem».

Ivo Barroso adiantou ainda que os alunos são penalizados caso utilizem a grafia anterior ao acordo ortográfico e garantiu que o objectivo da acção é que seja aceite a grafia do «português costumeiro».





Cenas de senadores


Paulo Morais, Correio da Manhã

Senadores. Os políticos assim designados e aparentemente os mais credíveis são em geral os mais perigosos. Estão com um pé na política e outro nos negócios. Traficam influências.

António Vitorino, o todo-poderoso ex-comissário europeu, é o mandatário do PS às eleições europeias. O seu principal adversário, Paulo Rangel, é seu sócio na sociedade de advogados Cuatrecasas, Gonçalves Pereira. Vitorino rejubila: seja qual for o resultado, quem ganhará nas europeias é a sua sociedade de advogados e os seus negócios.

Outro socialista, Luís Amado, participa na organização da próxima cimeira da CPLP, onde se decidirá a admissão à organização da Guiné Equatorial; cujo presidente, o ditador Obiang, será accionista de referência do Banif, banco a que preside Amado. Pela mão deste, o capital de Obiang no Banif constitui a jóia de entrada da Guiné Equatorial na CPLP.

Em todos os partidos do arco do poder há senadores. Os social-democratas Ferreira do Amaral e Valente de Oliveira estão agora ao serviço das empresas que detêm as parcerias público-privadas rodoviárias. As mesmas PPP que eles ajudaram a criar, enquanto ministros das obras públicas, desde a ponte Vasco da Gama às famosas ex-SCUT.

Ostentam também o estatuto de senador os mais famosos advogados-políticos lusitanos. Participam em programas de «opinião»; em rádios e televisões, em defesa dos interesses que servem. Lobo Xavier analisará o orçamento de estado, em função da influência que este tenha nos negócios do BPI, de que é administrador; ou das consequências nas PPP, já que também administra o grupo Mota-Engil.

O advogado socialista Vera Jardim está na mesma lógica, pois preside ao BBVA e a sua sociedade de advogados é a que mais factura com os concessionários das PPP.

Os senadores estão ao serviço do capital, qualquer que seja a sua origem. Proença de Carvalho emite as opiniões que interessem ao presidente angolano Eduardo dos Santos.

Eduardo Catroga e Rui Vilar prestam vassalagem, no sector eléctrico, aos ditadores chineses.

A marca comum destes senadores é uma falsa seriedade, que aparentam com ar circunspecto. Mas atenção: ser sério não é ser sisudo. Ser sério é ser honesto.





segunda-feira, 5 de maio de 2014

Pedrosos ou poderosos?


(Recordando o artigo de Hugo Franco no Expresso de 25.06.2011; veja-se no fim quem é o bicho João Pedroso)

Artigo do jornal Sol.

Encomenda de ex-ministra «sem valor científico»

Uma obra de «interesse inferior», «sem originalidade» ou «sem valor  académico-científico». Estes são alguns dos epítetos ao 'Manual de Direito da Educação', de 75 páginas, da autoria de um grupo de trabalho liderado por João Pedroso, pedido em 2005 pela então ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues,  pelo qual foi pago € 266 000 e que a ministra pediu devolução de metade.

O parecer solicitado pelo Ministério Público (MP) é demolidor para com o trabalho de 75 páginas que, em tese, faria a compilação das leis da Educação. «Frequentemente encontram-se partes inacabadas, identificadas com o sinal de reticências». A análise do MP destaca a ausência inexplicável de matérias no manual, como o estatuto dos professores ou a organização do Ministério. E conclui que o trabalho do advogado e professor universitário João Pedroso «nas poucas vezes que resolve inovar, introduz ideias erradas».

Maria de Lurdes Rodrigues foi acusada pelo MP do crime de prevaricação, no início da semana. Em causa está a contratação de João Pedroso para consultor jurídico do Ministério da Educação entre 2005 e 2007. O advogado terá recebido €266 mil para elaborar a compilação da legislação dispersa sobre a Educação e criar o Manual de Direito da Educação. Uma verba que foi paga, apesar dos trabalhos não terem sido concluídos. O Ministério da Educação pediu ao jurista a devolução de metade do dinheiro que lhe tinha sido entregue (€133 mil).

O jurista João Pedroso, a ex-chefe de gabinete da ministra, Maria José Matos Morgado, e o antigo secretário-geral do Ministério, João da Silva Batista, foram acusados dos crimes de prevaricação de titular de cargo político, em co-autoria.

A investigação do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa do MP, a que o Expresso teve acesso, relata o interrogatório feito à ex-ministra onde surgem algumas discrepâncias entre as suas declarações e as de Pedroso. Um exemplo: a actual presidente do Conselho Executivo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento negou ter sido ela quem indicou o nome do advogado para o projecto ou que tenha negociado directamente o contracto com o jurista. Pedroso admitiu que o seu nome foi indicado pela ex-ministra.

O MP conclui que o advogado não tinha qualificações suficientes na área da Educação. Tal como o resto da sua equipa. E sublinha que o contrato teve como único objectivo «favorecer patrimonialmente o arguido João Pedroso, com base em relações de proximidade pessoal, em detrimento dos interesses públicos».

Maria de Lurdes Rodrigues já disse que ficará provado «que a acusação é injusta e falsa.» João Pedroso não fez declarações.

Ao centro, o Paulinho e à direita, o Joãozinho. Os poderosos.

E quem será este João Pedroso?

Nada mais, nada menos do que o irmãozinho do Paulinho Pedroso, aquele que apareceu várias vezes na televisão, todo indignado, credo, quando o irmãozinho Paulinho foi agarrado a propósito do caso de pedofilia na Casa Pia.

Pedrosos ou poderosos?





domingo, 4 de maio de 2014

A Estação Luz Filmes lança em Portugal
o filme «Blood Money – Aborto Legalizado»


A Estação Luz Filmes, distribuidora e produtora brasileira, lançará no próximo dia 8 de Maio, em colaboração com o Centro Cultural Nuno Álvares Pereira, o documentário «Blood Money – Aborto Legalizado».

A antestreia do filme ocorrerá no Inspira Santa Marta Hotel, na Rua de Santa Marta, 48, em Lisboa, pelas 21 horas, para convidados. Estão asseguradas sessões gratuitas, abertas a todos, nos dias 9 e 10, no mesmo local e à mesma hora.

«Blood Money – The Business of Abortion», no original, é uma produção independente, realizada pelo norte-americano David Kyle, que se deslocará a Portugal para a estreia.

O documentário, de 75 minutos, mostra «de que forma as estruturas médicas disputam e tratam a sua clientela, os métodos aplicados pelas clínicas para realização do aborto e o destino do lixo hospitalar, entre outros temas».

Denuncia ainda a prática da eugenia e do controle da natalidade por meio do aborto e trata aspectos científicos e psicológicos relacionados com o tema, como o momento exacto em que o feto é considerado um ser humano e se há ou não sequelas para a mulher que se submete a um aborto.
 «Blood Money – Aborto Legalizado» conta com depoimentos de médicos e outros profissionais de saúde, de pacientes, de cientistas e da activista de movimentos negros, Alveda C. King, sobrinha do pacifista  Martin Luther King, que também apresenta o documentário.

Segundo o director da Estação Luz Filmes, o amplo esclarecimento que o documentário oferece foi o que motivou a sua produtora a adquirir os direitos de distribuição. «É  a primeira vez que o cinema trata o assunto desta forma, tirando-o da invisibilidade…Acreditamos que vá atrair diversos segmentos sociais e pessoas sensíveis a essa questão, sejam elas contra ou a favor da legalização do aborto…».


www.ccnunoalvares.org





Vasco Pulido Valente:
«Não devemos nada aos capitães de Abril. Zero»


Vasco Pulido Valente é um intelectual de pensamento anarco-liberal com momentos de lucidez. Nesses momentos de lucidez costuma escrever algumas coisas certas que poucos têm a coragem de escrever, o que é louvável.

No lote de meia-dúzia de intelectuais indígenas (como ele chama às coisas e pessoas portuguesas) a que pertence, ele é, muito claramente, o único que pontualmente se aproveita. Por isso mesmo se sente isolado desses convivas.

Por vezes, Vasco Pulido Valente bate ao lado, como acontece nesta mesma entrevista, onde demonstra desconhecer a história económica de Portugal, limitando-se a reproduzir a versão de Cunhal no Rumo à Vitória, que procura escamotear o grande desenvolvimento industrial de Portugal nos anos 50 e 60. E para saber que as coisas não são como Cunhal as descreveu nem é preciso ter formação económica: basta olhar para meia-dúzia de estatísticas que tudo desmentem.

Quanto aos outros intelectuais desse lote, coitados... de nós, que temos de aturá-los.

Vasco Pulido Valente concedeu uma entrevista a Ana Sá Lopes, publicada no jornal i (25.5.2014). Vejamos alguns extractos.
                                                                                                                                                                                                                                                 Heduíno Gomes

(...)
Estava a dizer que a sede da PIDE devia ter sido um ponto estratégico se aquilo tivesse sido conduzido por alguém com alguma cabeça. Mas o 25 de Abril foi um sucesso. Acha mesmo que não tiveram cabeça?

Aquilo não tinha uma cabeça política e acabou por se reduzir ao plano operacional do Otelo, que também não tinha uma cabeça política. Basta ler a entrevista do Vasco Lourenço ao «Expresso», no sábado. Essas pessoas não sabiam o que iam fazer depois, o plano não preparava o futuro, como é evidente.

Entregaram o poder à Junta de Salvação Nacional...

O poder ficou divididíssimo, toda a gente tinha poder, ninguém tinha poder. Se entregaram o poder a alguém foi a conselheiros que se apresentaram, a maior parte do PCP e outros tantos indivíduos de extrema-esquerda, as brigadas revolucionárias.

Mas Spínola é feito Presidente da República...

Não se percebe muito bem por quem é feito, de que maneira é feito. Ainda não se percebeu muito bem. Há uma grande pulverização do poder, em que a grande força verdadeiramente organizada e disciplinada se conseguiu impor.

Estamos a falar do PCP. Vasco Pulido Valente vai esperar Álvaro Cunhal ao aeroporto logo a seguir. Porque decidiu fazer isso?

Por duas razões. Eu tinha combinado com a Maria Filomena Mónica, com quem eu vivia na altura, que se ela fosse esperar o Soares eu ia esperar o Cunhal. E os meus pais, que conheciam o dito Cunhal da juventude, embora nenhum deles já fosse PC nessa altura, foram-no esperar e disseram que gostariam muito que eu fosse também. E eu fui ver o Cunhal. E foi a primeira vez que eu tive uma «intimation» do que se ia seguir. Parte daquilo foi uma cópia da chegada do Lenine à estação da Finlândia.

Mas o PCP tem outra teoria sobre isso: a chaimite estava lá porque o Jaime Neves a mandou.

Diz o PCP. E a menina que estava em cima da chaimite e lhe deu as flores também foi enviada pelo Jaime Neves? E o discurso em si? Tinha sido tudo planeado.

(...)
Quando é que se lembra de começar a ter consciência política? Os seus pais eram politizados...

Os meus pais saíram do PCP quando foram as grandes purgas na Hungria, em que os soviéticos mataram as grandes elites nacionalistas, nos anos 50. Cortaram com o partido, mas continuaram a colaborar, porque eram amigos das pessoas, tinham contactos. (...)

(...)
Mas houve uma crise em 2008 que fez rebentar as estruturas da Europa.

O problema da Europa é que não tem ninguém que se responsabilize pela dívida globalmente. E a Alemanha não se quer responsabilizar pela dívida, nem a Holanda, nem a Finlândia. Daí o Tratado Orçamental. Isto é simplicíssimo. E toda a esquerda anda por aí a dizer que há outras maneiras. Não há outras maneiras! O documento dos 70 é uma bancarrota em prestações que a Europa não vai aprovar.

Há muita gente a assinar o documento que nem sequer é de esquerda...

Não sei se são de esquerda ou se não são. A estupidez humana é infinita e a estupidez portuguesa ainda consegue ser maior. Aquilo é uma bancarrota em prestações! E o capitão Vasco Lourenço e o Dr. Mário Soares incitam à insurreição violenta sem o governo abrir a boca! E não é só o governo, ninguém abre a boca! Toda a gente gosta muito da liberdade e da democracia, mas depois aparecem uns senhores... E o Dr. Soares sabe perfeitamente o que está a dizer!

O Dr. Soares diz que é contra a violência e está a alertar para os riscos de isto acabar mal.

Isso é uma incitação à violência por parte de um ex-Presidente da República! E o Dr. Soares sabe muito bem o que está a dizer! O Vasco Lourenço sabe menos o que está a dizer... Não passou pela cabeça de nenhum destes senhores, nem dos que os acompanham, o que seria o dia seguinte a uma revolução dessas quando fosse lá o chefe da revolução – se houvesse chefe, que não houve no 25 de Abril – pedir dinheiro emprestado!

Mas não acha que na sequência da crise de 2008, os princípios de coesão da União Europeia foram ao ar? Acha que essa Europa ainda existe?

Acho que nunca existiu. A partir de 1989 deixou de existir e antes disso não existia muito. Mas nós recebemos uma vasta solidariedade da Europa, os chamados fundos de coesão. Foi a nossa incapacidade de administrar esses fundos e a nossa desorganização como sociedade política que nos levou a este estado. Se tivéssemos administrado tudo bem e tivéssemos tido políticas inteligentes podíamos estar mal, mas não no estado em que estamos.

(...)
Mas qual é a saída? A dívida sobe cada vez mais...

Eu não digo que o governo esteja a fazer as coisas da melhor maneira, do meu ponto de vista não está. Mas daí a dizer-se «não vamos pagar a dívida», «vamos sair do euro», vamos declarar uma bancarrota a prestações, vai um abismo. Algumas dessas soluções conduzir-nos-iam à mais horrível miséria do mundo, sabe-se lá com que consequências políticas, como a saída do euro. Outras são já uma proposta de bancarrota. Qualquer país do mundo precisa de crédito internacional. Se nós não conseguirmos que os países nos emprestem dinheiro estamos perdidos.

(...)
Vamos para a política. Nunca os portugueses mostraram tanta aversão aos partidos, que são as entidades fundadoras da democracia.(...) 

As pessoas não têm confiança nenhuma naqueles partidos, acham-nos uns grupos de oportunistas, de corruptos, de mentirosos, que não lhes podem trazer nada de bem. O grave disto é que a onda de opinião contra os partidos pode tornar-se dominante. Há aí uma oposição difusa ao regime que ainda não encontrou um chefe. E o governo é composto por uma gentezinha autoritária, muito pouco democrática no geral. Considera-se injustamente o Paulo Portas o mais autoritário, mas não é. Apesar de tudo, é o mais tolerante. Eles estão a cumprir ordens e querem cumprir bem as ordens. São míopes politicamente. Há uma grande falta de inteligência política neste governo. Primeiro, não percebem a sociedade portuguesa e estão a atacar nos sítios errados. Passos não tem grande inteligência política.

Está a falar dos pensionistas e dos funcionários públicos?

Tendo em conta que representam 80% da despesa, tinham de a diminuir, mas podiam tê-la diminuído de outra maneira, fazendo a célebre reforma do Estado, que nunca tiveram coragem de fazer. Como nunca tiveram coragem de fazer a reforma administrativa. (...)

(...)
[Mário Soares] É um dos seus velhos amigos.

Mas o que eu acho que ele está a fazer é imperdoável! Ele está a trair todos os princípios que tinha e que fizeram dele quem é e está a associar-se com a gente que ele justamente execrava. Está a ver o Dr. Soares em 1980 à mesma mesa com Vasco Lourenço a dizer aquelas coisas sobre o MFA? Quando eles andavam a dizer por toda a parte que o iam matar?

Os capitães de Abril diziam que iam matar Mário Soares?

Os capitães de Abril nunca nenhum disse. Mas os fanáticos do MFA no PS vários me disseram. «Diz ao teu amigo Soares que ainda acaba morto.» As pessoas diziam isto nas conversas. E agora ele vai dar-lhes pancadinhas nas costas, a dizer que temos uma dívida de gratidão para com os capitães de Abril!

E não temos, Vasco? Não temos uma dívida de gratidão? Foram os homens que fizeram o golpe de Estado!

Leia a entrevista de Vasco Lourenço ao «Expresso». Ele reconhece que a maioria estava lá por razões corporativas.

Mas devemos alguma coisa àqueles homens, foram eles que saíram para a rua.

Não devemos nada. Zero.

Temos hoje democracia porque eles derrubaram o regime através de um golpe de Estado e arriscaram a vida. O Vasco reduz aquilo a uma reivindicação corporativa. Não é o caso de Melo Antunes.

Os tipos só sabiam vagamente o que estavam a fazer. O Melo Antunes era um imbecil.

(...)
Mas porque diz que Melo Antunes era um imbecil?

Esse achava-se um inspirado, que era a alma daquilo. Ele não percebia a sociedade em que estava a viver.

Mas é ele e o Documento dos Nove que abrem caminho ao 25 de Novembro.

Mas isso tem uma explicação muito clara: ele queria mandar, não queria que mandasse o PC. Ele iria transformar Portugal numa coisa nunca vista.

É a primeira pessoa que não me diz que Melo Antunes era o melhor de todos.

Era o pior deles todos!

Pior que Otelo?

Otelo é um inimputável simpatiquíssimo.

(...)