sábado, 18 de setembro de 2010

Coitadinhos dos ciganos

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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O governante

João Duque, Económico, 9 de Setembro de 2010

Li este Verão o livro de Joaquim de Almeida A Governanta, uma biografia de D. Maria “a companheira de Salazar”.

O livro é uma excelente obra para os amantes da história de Portugal contemporâneo e deveria ser livro de leitura obrigatória para os governantes e gestores públicos.

O livro é de facto uma preciosidade informativa sobre uma vida, sobre uma época, centrado numa personagem periférica e próxima de Salazar, mas no meu ponto de vista, um livro sobre o regime e sobre uma forma de ver a governação do país dessa época.

O livro dá-nos muita informação de como Salazar tratava o bem público e o discernia do privado e neste aspecto, não tenho dúvidas que deveria ser lido e reflectido por todos os que nos governam ou que tenham poderes de gestão sobre bens públicos.

Também já anteriormente tinha lido o livro de Fernando Dacosta "Máscaras de Salazar" e já nessa altura tinha ficado com a mesma impressão: se Salazar fosse vivo seria hoje abundantemente convidado a palestrar em cursos de organização e gestão pública e até mesmo em programas de ética... Senão vejamos.

Quem é que hoje imagina poder dividir as contas (contadores de electricidade e de telefone diferentes) entre o piso de rés-do-chão e 1º andar da moradia de residência oficial do primeiro-ministro, para que as contas do rés-do-chão (área de trabalho) fossem pagas pelo Estado e as contas do 1º andar (área pessoal) fossem pagas pelo ordenado do próprio? E o mesmo fazendo com as contas da água e até do combustível?

Quem é que hoje imagina que o primeiro-ministro possa mandar comprar, pagando do seu próprio bolso, um serviço de loiça e um faqueiro para se servir no seu dia-a-dia privado na residência oficial, e outros conjuntos paralelos, pagos pelo erário público, exclusivamente dedicados ao uso em refeições oficiais?

Quem é que hoje imagina que se possa retirar um talhão ao jardim do palácio de São Bento para aí se criar uma pequena horta que alimentaria a cozinha da Presidência, reduzindo os encargos com o seu sustento?

Quem é que hoje imagina que se possa retirar um talhão ao jardim ao mesmo palácio para aí se construir um galinheiro que não só alimentava com patos, coelhos e galinhas (e ovos) a cozinha da Presidência, como permitia ainda a venda destes produtos, se excedentários, ao Hotel Aviz, e assim reduzir o custo de manutenção da Presidência?

Quem é que imagina que o frigorífico da residência oficial possa ser pago com o dinheiro do próprio governante porque o considera ao seu uso pessoal?

A gestão pública não exige apenas o cumprimento de regras que se querem apertadas de controlo, transparência, rigor e competência. Exige uma primeira relação escrupulosa e distante com o que não é nosso, desde a viatura de serviço, às viagens e aos fins a que se destinam, ao telefone ou a qualquer outro tipo de equipamento sendo de usar em serviço quando se está, de facto, de serviço.

Sei que hoje é dificilmente imaginável qualquer daquelas situações, mas dão que pensar...





A candidatura da Ibéria de Saramago

João Marcelino, Diário de Notícias, 5.9.2010 
 

Quando a FPF pediu o apoio do Governo para a candidatura, conjunta com a Espanha, ao Mundial de 2018, eu escrevi aqui que era uma boa ideia. O futebol é um poderosíssimo veículo turístico e, além do mais, estas organizações são sempre lucrativas desde que não se tenha de fazer tudo de novo.

Hoje, sou frontalmente contra esta realização, precisamente porque ela abandonou a filosofia com que nos foi vendida inicialmente e abdicou dos princípios.

Primeiro: não é uma parceria. Portugal entra com duas cidades (Lisboa e Porto) e três estádios, Espanha apresenta 16 cidades e 18 estádios - ou seja, pela primeira vez numa organização de futebol, dois países coligam-se em posições diferenciadas. Não fora assim, antes, no Coreia do Sul- -Japão, no Áustria-Suíça, nem no Holanda-Bélgica.

Segundo: pela calada, caiu também o jogo de abertura, que nos devia caber, porque Espanha decidiu que sendo a final em Madrid, e por equilíbrios políticos internos, a abertura deveria ser feita em Barcelona. Para Portugal sobraram umas migalhas que deveriam envergonhar: o sorteio será realizado em Santa Maria da Feira e teremos um "privilégio" inovador ao albergarmos um segundo jogo de abertura, a realizar umas horas depois do primeiro...

Este é o prémio a que teremos direito por servirmos como íman aos votos da lusofonia, de Brasil a Angola. De resto é bom de ver que esta candidatura não precisaria de nós. A contribuição de Portugal é equivalente à de uma qualquer província espanhola, mas há, para português ver, um argumento que os tempos acolhem: bom investimento, poucos custos.

Ainda para mais o estádio do jogo inaugural teria de ter 80 mil lugares e o nosso maior, o da Luz, só alberga 65 mil pessoas. 

Não vou perder tempo com a desmontagem destes argumentos tontos de quem quer entrar numa festa a todo o custo. Digo apenas que quem não tem dinheiro não deve ter vícios e acrescento o seguinte: esta triste candidatura não deveria ser reduzida a uma questão de dinheiro e de lucros. É uma questão de política, de estratégia e de princípios. Se não estranho que os homens do futebol pouco se interessem com estes pormenores, desde que venha a massa, desgosta-me que o Governo, os partidos e o próprio Presidente da República não se interessem pelo assunto e não reflictam sobre ele à luz da História e das relações entre os dois Estados.

Esta organização não tem a ver com dinheiro. Ela encerra um conceito perigoso para a nossa política e para a nossa economia. Através do futebol estamos a comunicar que somos uma província da Ibéria. A ideia de Saramago começa a fazer o seu caminho. Eu sou contra!




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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Lançamento do livro The Walker and the City



CONVITE

Lançamento do livro The Walker and the City

Coordenação de Manuel João Ramos e Mário J. Alves

16 de Setembro, 17h30, CES Lisboa

(Picoas Plaza, Rua Tomás Ribeiro, n.º 65, 1º andar, Lisboa – Estação de metro: Picoas)

Assinalando a Semana Europeia da Mobilidade (16 a 22 de Setembro de 2010), a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) e o Centro de Estudos Sociais (CES Lisboa) convida para o lançamento da mais recente publicação da ACA-M - The Walker and the City(actas do Colóquio Internacional O Peão e a Cidade – The Walker and the City, 12 de Novembro de 2008).

Este livro propõe uma reflexão colectiva sobre a importância crescente dos direitos dos peões e a necessidade de atender às suas necessidades qualitativas no interior dos sistemas urbanos europeus. Conta com a colaboração de importantes especialistas internacionais na área dos estudos da pedonalidade, e constitui um contributo português para a Acção 358 do Conselho de Ciência e Tecnologia da Fundação Europeia de Ciência e para as actividades do Walk21.

The Walker and the City é o 3º volume da colecção de Estudos Pedonais da ACA-M.

Com a presença de Reinhard Naumann (FES Portugal), Mário Alves e Manuel João Ramos (ACA-M) e Isabel Seabra (IMTT).

Publicado com o apoio da Fundação Friedrich Ebbert e do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres.


domingo, 12 de setembro de 2010

Cristóvão Colombo português

Eis as três próximas actividades da Associação Cristóvão Colon.

Dia 09 de Outubro - Palestra em Portimão: Provas da mentira do «Colombo italiano»
Dia 11 de Outubro - Palestra em Lisboa: A Esposa de Colombo – Comendadora de Santiago
Dia 30 de Outubro - Inauguração do Centro Cristóvão Colon, em Cuba, Baixo-Alentejo, sua terra natal

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11 de Outubro de 2010, 17:30
Conferência do Sr. Manuel da Silva Rosa, promovida pela Secção de História da Sociedade de Geografia de Lisboa e subordinada ao tema:
“A Esposa de Colombo – Comendadora de Santiago”
Introdução a cargo do Dr. Rui Pinto, Presidente da Secção de História.
Esta Sessão realiza-se no Anfiteatro da Sociedade de Geografia de Lisboa).


Fogo amigo

António Marques Bessa

O fogo do empobrecimento

Quando os pirómanos vão a tribunal não lhes acontece nada, porque são doentes. A nossa cultura integra uma forte indulgência para com o mal, o que acarreta a impunidade de autênticos malvados. A desculpabilização tornou-se a principal cantata da partitura.

O nosso país todos os Verões assiste, extasiado, à queima de hectares de floresta. A mancha verde é comprimida pelo betão e pelo fogo. Toda a gente sabe que é uma espécie de inevitabilidade neste balançar do fogo e da corrida dos bombeiros, com muita gente humilde a defender o pouco que é seu. E para lá das palavras de repúdio, assiste-se à mesma indiferença dos poderes instalados porque nada é feito para deter este verdadeiro flagelo.

O País já é pobre, mas depois de lhe arderem quilómetros quadrados de floresta qualificada, fica ainda mais pobre. As pessoas dessas zonas que podiam vender madeira e explorar a seiva do pinheiro ficam sem nada e às vezes, dramaticamente, perdem-se vidas, numa inutilidade sem paralelo.

A Federação Russa, a Grécia, às vezes a Itália, debatem-se com o mesmo problema. A Rússia certamente deve ter aprendido a sua lição dura, embora fique com muita floresta ainda. Uma observação mais detalhada das grandes manchas verdes deve seguir-se, bem como inquéritos rigorosos às causas do Inferno que levou milhares de toneladas de madeira. E a Rússia é dos países que sabe lidar rapidamente com as causas.

E que causas

Com a frequência dos fogos em Portugal não há já margem para dúvidas. O calor de 40 graus não provoca uma combustão automática. Têm-se apanhado ocasionalmente alguns "pirómanos" a deitar fogo aos pinhais. Há pessoas que gostam de ver as reportagens na TV e darem-se conta dos efeitos do trabalho que fizeram. Quando os pirómanos vão a tribunal não lhes acontece nada, porque são doentes. A nossa cultura integra uma forte indulgência para com o mal, o que acarreta a impunidade de autênticos malvados. A desculpabilização tornou-se a principal cantata da partitura. São decisões colectivas, planos colectivos, acções de grupo, não há responsável visível. Veja-se ao contrário o que acontece nos Estados Unidos da América: identificou-se a BP e a companhia, um colectivo, teve pagar pelos estragos; os suíços da UBS, uma vez identificados pelo fisco americano, têm que pagar uma soma astronómica ao Tesouro pelas contas de americanos riquíssimos que escondeu. Não há desculpabilização e não há indulgência. Como Max Weber já explicou há muito tempo, existe uma fronteira de mentalidades entre os protestantes e os católicos. Enquanto os primeiros se ocupam a trabalhar conscienciosamente, os segundos reivindicam o direito à preguiça. Enquanto os seus países se vão equilibrando e progredindo, os católicos não os conseguem apanhar. Na verdade, uns têm uma ética do trabalho e da responsabilidade e outros ou têm a tal ética republicana, que não é a da República Romana donde copiaram o nome, ou limitam-se a existir à custa de golpes.

É triste

É triste saber que os fogos que destroem o País têm origem criminosa ou são provocados pelo desleixo do povo. Mas o povo nunca foi ensinado, como em França, a fazer uma gestão científica da mata, porque nem o Estado faz essa gestão da sua mata.

De seguida, há a considerar a fragmentação brutal da propriedade da mata. Com propriedades tão pequeninas, que pode fazer o dono do pinhal? Essa mata serve-lhe enquanto lavrador para colher madeira para emendas na casa, fazer barracões, ir buscar mato para a cama dos bichos que tem, ir colher pinhas e agulhas para acender a lareira e ter um Inverno mais seguro.

Este retrato não é imaginário. Eu próprio verifiquei esta conexão à mata, que é a predominante. Os grandes proprietários têm vendido porque ou vivem em Paris ou em outro lado e não estão para perder milhares de hectares por causa de um pirómano ou uma desatenção de um domingueiro assador de sardinhas.

É triste que as coisas sejam assim. Mas o que salta à vista é a necessidade de uma reforma profunda na propriedade da mata, com emparcelamentos forçados, para o bem de todos. Educação para a exploração dos recursos florestais. Leis mais incisivas e duras para os praticantes do desporto do fogo. Evitar que se suceda nas montanhas mais uma geração de analfabetos funcionais e de pessoas que vivem na margem do autoconsumo. Educação rural, povoamento interno, reforma da estrutura fundiária. Se se fez isso nos campos do Mondego para o arroz e o milho, porque é que se tem evitado fazer uma coisa inadiável que a França pode ensinar? Creio que a resposta está dada: criam-se muitos inimigos ao mexer na terra. É melhor deixar arder tudo.



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