sábado, 13 de junho de 2015
Parabéns à Turquia
António Justo
Os resultados das votações na Turquia depois de terem sido contados quase todos os votos revelam a perda da maioria absoluta do presidente islamita Erdogan (AKP) que esperava atingir 330 deputados e conseguiu apenas 41%/259 deputados, (para atingir a maioria absoluta seriam necessárias 276 assentos) revelam. Em segundo lugar ficou a esquerda CHP com 25,2%/131 deputados; a ultra-direita MHP atingiu 16,9%/84 deputados; a HDP pró-curda alcançou cerca de 13% (79 deputados).
O sistema eleitoral turco não permite grande variedade de partidos no ciclo parlamentar, pois para um partido ter assento no Parlamento tem de superar os 10% dos votantes. A oposição conseguiu 291 deputados.
Erdogan queria mudar a Constituição para consolidar os seus poderes presidenciais à maneira de «sultão». Para tal precisaria de 330 deputados. 56,6 milhões de turcos estavam chamados a votar. A participação nas eleições foi de 85,4%. Na Alemanha houve 480 000 turcos que votaram.
Tudo isto revela que o povo turco é distinto e mais democrata do que queriam fazer dele. Felizmente a Turquia está mais moderna que a maioria dos seus chefes.
quinta-feira, 11 de junho de 2015
terça-feira, 9 de junho de 2015
segunda-feira, 8 de junho de 2015
A Grécia não quer a vaca
mas quer ficar com o leite
O Governo grego enerva a Europa governante
e especula em segredo sobre eleições
António Justo
A Grécia parece não ter curral para a vaca da UE mas quer continuar a receber o seu leite sem se preocupar com os problemas que a vaca custa a manter. O governo de Tsipras não tem futuro porque quer governar e ao mesmo tempo ocupar o lugar de uma oposição que geralmente vive de exigências e de reclamações. Governar implica compromisso e assumir responsabilidade, implica reconhecer que pertencer ao sistema euro, e à moda globalista em voga, tem como consequência o respeito pelas regras do grupo ou então a tentativa de mudá-las sem fugir a elas.
O governo de Tsipras continua em curso de confrontação numa táctica dupla de falar no próprio parlamento contra os credores e contra a Comissão Europeia e cá fora adiar propostas de solução, expondo-se com palavras bonitas para insuflar as asas da ideologia e colher o aplauso de uma claque internacional propensa a ideologias. «Com papas e bolos se enganam os tolos», reconhece a sabedoria popular que apesar disso se deixa enganar. Até o seu amigo Juncker já perde a paciência ao constatar o contínuo adiar da problemática. Tsipras e o seu partido Syriza esperam um corte de dívidas, à custa dos outros países e de instituições bancárias (seus credores; Portugal já perdoou 600 milhões de euros à Grécia (1).
Com o adiamento da proposta de soluções, Atenas ganha tempo para surpresas que depois acontecerão de uma só vez. O governo não está interessado em compromisso (por isso não permite visão nos seus dados e estatísticas), porque o jogo é ideológico e compromisso (aquilo com que se faz política) cheira a traição. Tsypras está interessado nos votos e nos votantes e como tal quer um povo a viver do Estado ou de vacas leiteiras que se nega a manter.
Com o adiamento, agora conseguido, do pagamento do troço de 300 milhões de euros às instituições credoras o Governo grego impediu o colapso financeiro no pagamento de salários e vencimentos dos empregados de Estado. O adiamento dos compromissos assumidos para 30 de Junho, alcança um valor conjunto de 1,6 mil milhões de euros a terem então de ser pagos. O Pacote de resgate da Troika que se daria a 30 de Junho no valor de 7,2 mil milhões está dependente de reformas a propor pelo Governo grego jogando com o interesse que a zona euro tem em manter a Grécia como membro.
Á táctica de adiamento dos problemas pelo Governo grego tem certamente a ver com a incompetência de um governo de visão ideológico-partidária que especula certamente sobre novas eleições e a saída do euro. Com elas poderá lavar as mãos perante o povo como partido e desresponsabilizar-se perante os fiadores e a UE. Um governo que só sabe dizer não é impróprio para a governação e prejudica os interesses do seu país e do seu povo.
Na política e em governação, tal como na vida de um povo é de ter presente a história da cigarra e da formiga. A cigarra quer viver da cantoria e da conversa pública mas à custa da alimentação da formiga. Para uma sociedade futura, sem pretender que se acabe com a rica diversidade política e social de formigas e cigarras, precisar-se-ia de criar mais um ser cívico que integre em si os genes da cigarra e da formiga e de uma nova raça política transparente desinteresseira comprometida com o povo e o país.
Atenas perdeu a oportunidade e a credibilidade de se tornar num elemento corrector da política da UE. O governo de esquerda nacionalista teima em não processar os grandes capitalistas gregos que transferiram centenas de milhares de milhões para fora do país (Suíça, etc.) fugidos ao fisco grego mas, por outro lado, combate o capitalismo da Troika. Até é lógico que queiram defender os grandes oligarcas gregos mas nas suas exigências em relação ao estrangeiro perdem toda a razão institucional pretendendo apenas continuar a ser, com as suas piruetas, a azia estomacal da UE dos fortes sem entender nada do Euro-Esperanto.
De momento, só a saída do euro seria uma medida lógica e coerente com a ideologia que Tsipras defende; o seu jogo das escondidas torna-se vergonhoso para ele e uma desilusão para a esquerda europeia que projectava nele muitas esperanças e desejos escondidos. Tem sido triste a figura que têm feito pedinchando com uma mão e dizendo que não com a outra. Este é o dilema de uma esquerda ainda retrógrada e velha que além de oportunista se tornou corrupta ao assumir a governação tem calcando os ideais de justiça da hombridade e da transparência. Já não nos encontramos no tempo dos heróis e dos exemplos. Cada um serve-se como pode.
Não se vai longe enquanto a UE só se preocupar com poder e dinheiro e a Grécia se interessar pela mistura de dinheiro e ideologia.
O facto de descrever ou tentar prever o que vai acontecer em relação à Grécia não quer dizer que seja por um sistema ou por outro.
O facto de o Governo grego, tal como Portugal, Irlanda e outros países terem razão nas reclamações no que respeita a imposições de poupanças e privatizações em benefício da avalanche agressiva do turbo-capitalismo liberalista das grandes potências, um comportamento de adolescentes só serve para enganar o povo e não alcança nada contra a injustiça institucionalizada. O que a Grécia e Portugal devem contestar e renegociar é a vantagem que a Alemanha e os países fortes da zona euro têm em relação ao mercado mundial, vantagem adquirida, em grande parte, à custa da destruição das economias dos países da periferia da zona euro que viram o seu poder de concorrência na Europa destruído pela abertura ao mercado chinês. Aqui é necessária a negociação de contratos de compensações estruturais económicas e não a luta ideológica.
(1) Não aceita o curso político de poupança ao contrário do que fez Portugal, que abnegado e respeitado consegue, por força própria, sair da dependência da Troika (Portugal vai agora fazer mais um reembolso antecipado, de cerca de 2 mil milhões de euros ao Fundo).
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