sábado, 3 de abril de 2010

Lições de um escândalo

Pedro Vaz Patto

Acabo de ler a carta do Papa Bento XVI sobre o escândalo dos abusos sexuais de crianças e adolescentes praticados durante vários anos por sacerdotes irlandeses. Será oportuno reflectir a respeito das lições que podem ser extraídas desta tão triste ocorrência.

Um dos maiores erros cometidos por responsáveis da Igreja irlandesa foi o de sobrepor as exigências de salvaguarda da imagem e reputação da Igreja às da protecção das vítimas de crimes tão graves. Essa reputação não pode assentar na mentira, sobretudo se esta prejudica as pessoas que a Igreja deve servir. A humildade de reconhecer e pedir perdão pelos erros dos seus filhos, na linha do que fez João Paulo II a propósito de dois mil anos de História e do que faz agora inequivocamente a este propósito Bento XVI, de modo algum descredibiliza a Igreja.

Outra lição a retirar destes factos é a de que a compreensão e misericórdia para com os autores de crimes não dispensam as exigências da justiça, eclesiástica e civil, com o que isso supõe de atenção às vítimas, de reparação dos danos, e até de castigo e penitência. Como afirma o Papa nesta carta aos católicos irlandeses, os autores destes crimes devem «responder perante Deus e os homens». O que se passou na Irlanda, ao contrário do que por vezes se tem afirmado, nunca teve cobertura nas normas de direito canónico, que foram esquecidas e violadas. Essas normas foram mais tarde modificadas no sentido de uma maior severidade precisamente pelo cardeal Ratzinger, razão pela qual se revela profundamente injusta a obstinada tentativa, da parte de alguns sectores de opinião, de o responsabilizar por factos como os ocorridos na Irlanda.

A avalanche, a que vimos assistindo, de notícias sobre abusos sexuais de crianças e adolescentes praticados por sacerdotes (algumas relativas a factos de há mais de cinquenta anos e já conhecidos) pode criar (de forma não certamente inocente) uma imagem distorcida da realidade, quase como se estes fenómenos fossem exclusivos ou característicos da Igreja católica e não se verificassem, até em proporções maiores, em ministros de outras denominações cristãs ou de outras religiões, e, sobretudo, noutros grupos profissionais. Distorção que também faz esquecer o testemunho de integridade (nalguns casos, até de santidade) da esmagadora maioria dos sacerdotes.

Como têm salientado os especialistas e até quem contesta a disciplina canónica a tal respeito, não é o celibato que está na origem destas condutas, perpetradas noutros âmbitos na sua grande maioria por pessoas não celibatárias. Mesmo assim, nem sequer a ocorrência de um destes casos seria de esperar ou aceitar, pelo que representam, como também salienta a carta em apreço, de atentado à “santidade do sacramento da Ordem” e à confiança que devem merecer quaisquer agentes de formação da juventude. Que sacerdotes tenham praticado factos tão graves faz realçar a importância da sua adequada e criteriosa selecção e preparação. Um cuidado que instruções recentes da Santa Sé têm procurado reforçar.

Alguns sectores de opinião normalmente hostis para com a Igreja católica (a revista alemã Der Spiegel, por exemplo) têm aproveitado este escândalo não só para contestar a disciplina do celibato sacerdotal, mas para descredibilizar a própria ética sexual veiculada pela Igreja católica. Também por esta via se distorce gravemente a realidade. Estes fenómenos revelam a pertinência dessa ética sexual, não o contrário.

O abuso sexual de menores representa, talvez, o ápice de violação daqueles princípios de ética sexual que a Igreja católica tem defendido contra a corrente da opinião dominante, muitas vezes quase sozinha (apesar de decorreram, em grande parte, de uma perspectiva simplesmente “humanista” e não especificamente cristã). Falar de auto-domínio, de controlo dos impulsos e tendências sexuais é contrariar a opinião dominante, mas é a falta desse auto-domínio que está na origem destes comportamentos. Salientar os malefícios da actividade sexual precoce, porque normalmente dissociada da comunhão interpessoal que a humaniza, também vai contra a opinião dominante, mas são malefícios desse tipo que, de uma forma extremada, decorrem do abuso sexual de menores. Quando a corrente dominante vai no sentido da apologia de uma sexualidade como um campo sem regras (quantas vezes não se ouve dizer que não há “sexualidades normais”?), é pertinente contrariar essa visão. E salientar, como faz o magistério da Igreja, a importância de evitar a coisificação do outro, neste como noutros campos. Essa coisificação caracteriza vários comportamentos sexuais cada vez mais tolerados e atinge, talvez, a sua máxima expressão precisamente no abuso sexual de crianças e adolescentes.

Também esta é uma lição que pode ser extraída deste escândalo.



Declaração do Conselho Directivo
da União das Famílias Portuguesas


Aviso às famílias sobre o posicionamento
da nova direcção do PPD-PSD

Ascendeu à Presidência do PPD-PSD Pedro Passos Coelho, cujas posições em matéria de política de família e Civilização, nomeadamente sobre os costumes, são das piores no panorama político português.

Pedro Passos Coelho defende a cultura da morte, nomeadamente na questão do aborto e da eutanásia, o que o opõe ao direito à vida e a uma família solidária para com os seus velhos.

Pedro Passos Coelho defende os chamados «casamentos» entre invertidos e diz ter dúvidas sobre se os chamados «casais homossexuais devem poder adoptar crianças», o que constitui uma total perversão do conceito natural de família e a exposição das crianças aos maiores riscos morais e psíquicos.

Pedro Passos Coelho defende a livre pornografia nos meios de comunicação como parte da «liberdade», o que constitui uma permanente agressão às famílias, às crianças e aos jovens, contribuindo assim para a sua deformação moral e perturbação mental.

Pedro Passos Coelho defende a legalização das drogas, o que significa que, chegando ao Governo, conduziria o Estado à capitulação perante o crime e à destruição física, psíquica e moral da juventude.

(Segundo as declarações proferidas em 14 de Maio de 2008, numa reunião do seu partido, relatada no jornal Expresso do dia 17 desse mês.)

Pedro Passos Coelho defende ainda, no seu livro Mudar, recentemente publicado, várias políticas que se revelam contrárias ao desenvolvimento natural da família, das crianças e dos jovens, como seja a política de educação, a política de cultura, a política de família e a política económica.

No seu discurso de vitória nas eleições internas do PPD-PSD, Pedro Passos Coelho anunciou que, chegando ao Governo, iria tornar Portugal «mais progressista». Esta expressão utilizada por Pedro Passos Coelho, dadas as declarações antecedentes, tem de ser devidamente entendida.

O Conselho Directivo da União das Famílias Portuguesas deixa aqui o seu alerta a todos os pais e mães sobre este perigo suplementar que espreita sobre as famílias, jovens e crianças, com a agravante de vir da parte de um sector político que, de um modo geral, até agora, se havia demarcado das políticas declaradamente antifamília de outros partidos.

Lisboa, 30 de Março de 2010

O Conselho Directivo da União das Famílias Portuguesas


Uma agressão ao Papa

Marcello Pera, Filósofo, agnóstico e senador,
Corriere della Sera de 17.3.2010

Caro Director,

A questão dos sacerdotes pedófilos ou homossexuais, que rebentou recentemente na Alemanha, tem como alvo o Papa. E, dadas as enormidades temerárias da imprensa, cometeria um grave erro quem pensasse que o golpe não acertou no alvo – e um erro ainda mais grave quem pensasse que a questão morreria depressa, como morreram tantas questões parecidas. Não é isso que se passa. Está em curso uma guerra.

Não propriamente contra a pessoa do Papa porque, neste terreno, tal guerra é impossível: Bento XVI tornou-se inexpugnável pela sua imagem, pela sua serenidade, pela sua limpidez, firmeza e doutrina; só aquele sorriso manso basta para desbaratar um exército de adversários. Não, a guerra é entre o laicismo e o cristianismo.

Os laicistas sabem perfeitamente que, se aquela batina branca fosse tocada, sequer, por uma pontinha de lama, toda a Igreja ficaria suja, e se a Igreja ficasse suja, suja ficaria igualmente a religião cristã. Foi por isso que os laicistas acompanharam esta campanha com palavras de ordem do tipo: «Quem voltará a mandar os filhos à igreja?», ou «Quem voltará a meter os filhos numa escola católica?», ou ainda: «Quem internará os filhos num hospital ou numa clínica católica?» Há uns dias, uma laicista deixou escapar uma observação reveladora: «A relevância das revelações dos abusos sexuais de crianças por parte de sacerdotes mina a própria legitimação da Igreja Católica como garante da educação dos mais novos.»

Pouco importa que semelhante sentença seja desprovida de qualquer base de prova, porque a mesma aparece cuidadosamente latente: «A relevância das revelações»; quantos são os sacerdotes pedófilos? 1%? 10%? Todos? Pouco importa também que a sentença seja completamente ilógica; bastaria substituir «sacerdotes» por «professores», ou por «políticos», ou por «jornalistas» para se «minar a legitimação» da escola pública, do parlamento, ou da imprensa. Aquilo que importa é a insinuação, mesmo que feita à custa de um argumento grosseiro: os sacerdotes são pedófilos, portanto a Igreja não tem autoridade moral, portanto a educação católica é perigosa, portanto o cristianismo é um engano e um perigo. Esta guerra do laicismo contra o cristianismo é uma guerra campal; é preciso recuar ao nazismo e ao comunismo para se encontrar outra igual. Mudam os meios, mas o fim é o mesmo: hoje, como ontem, aquilo que se pretende é a destruição da religião. Ora, a Europa pagou esta fúria destrutiva ao preço da própria liberdade.

É incrível que sobretudo a Alemanha, que bate continuamente no peito pela memória desse preço que infligiu a toda a Europa, se esqueça dele, hoje que é democrática, recusando-se a compreender que, destruído o cristianismo, é a própria democracia que se perde. No passado, a destruição da religião comportou a destruição da razão; hoje, não conduz ao triunfo da razão laica, mas a uma segunda barbárie.
 
 
 

domingo, 28 de março de 2010

"Não importa a morte... o 'prof' até era louco!"

Ricardo Miguel Vasconcelos



Não importa a morte... o 'prof' até era louco!

Segundo os jornais 'Público' e 'i', o professor de Música que se suicidou a 9 de Fevereiro deste ano, parou o carro na Ponte 25 de Abril, em Lisboa, e atirou-se ao rio Tejo. No seu computador pessoal, noticiam os dois diários, deixou um texto que afirmava: 'Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução apaziguadora será o suicídio', disse o licenciado em Sociologia.

O 'i' coloca o 9B no centro deste caso, escrevendo que os problemas do malogrado professor tinham como foco insultos dentro da sala de aula, situações essas que motivaram sete participações à direcção da escola, que em nada resultaram.

E à boa maneira portuguesa, lá veio o director regional de Educação de Lisboa desejar que o inquérito instaurado na escola de Fitares esclareça este caso. Mas também à boa maneira deste país, adiantou que o docente tinha uma 'fragilidade psicológica há muito tempo'.

Só entendo estas afirmações num país que, constantemente, quer enveredar pelo caminho mais fácil, desculpando os culpados e deixar a defesa para aqueles que, infelizmente, já não se podem defender.

É assim tão lógico pensarmos que este senhor professor, por ter a tal fragilidade psicológica, não precisaria de algo mais do que um simples ignorar dos sete processos instaurados àquela turma e que em nada deram? Pois é. O 'prof' era maluco, não era? Por isso, está tudo explicado.

A Direcção Regional de Educação de Lisboa (DREL), à boa maneira portuguesa, colocou psicólogos na tal turma com medo que haja um sentimento de culpa. E não deveria haver? Não há aqui ninguém responsável pela morte deste professor? Pois é, era maluco, não era?

José Joaquim Leitão afirmou que os meninos e meninas desta turma devem ser objecto de preocupação para que não haja traumas no futuro. 'Temos de nos esforçar para que estas situações possam ser ultrapassadas. Trata-se de jovens que são na sua generalidade bons alunos e que não podem transportar na sua vida uma situação de culpa que os pode vir a condicionar pela negativa', afirmou.

Toca a tomar conta dos meninos e meninas porque não pode haver um sentimento de culpa. É verdade! O 'prof' era louco, não era?

Não estou a dizer que haja aqui uma clara relação causa-efeito. Mas alguma coisa deve haver. Existem documentos para analisar, pessoas a interrogar, algumas responsabilidades a apurar. Por isso, neste 'timing', a reacção da DREL é desequilibrada. Só quem não trabalha numa escola ou não lida com o ambiente escolar pode achar estranho (colocando de lado a questão do suicídio em si) que um professor não ande bem da cabeça pelos problemas vividos dentro da sala de aula em tantas escolas deste país.

Não se pode bater nos meninos, não é? Os castigos resultantes dos processos disciplinares instaurados aos infractores resultam sempre numa medida pedagógica, não é? Os papás têm sempre múltiplas oportunidades para defenderem os meninos que não se portaram tão bem, não é? É normal um aluno bater no professor, não é? É normal insultar um auxiliar, não é? É normal pegar fogo à sala de aula ou pontapear os cacifes, não é? É normal levar uma navalha para o recreio, não é? É também normal roubar dois ou três telemóveis no balneário, não é? E também é normal os professores andarem com a cabeça num 'oito' por não se sentirem protegidos por uma ideia pedagógica de que os alunos são o centro de tudo, têm quase sempre razão, que a vida familiar deles justifica tudo, inclusive atitudes violentas sobre os colegas a que agora os entendidos dão o nome de 'bullying'?

De que valem as obras nas escolas, os 'Magalhães', a educação sexual, a internet gratuita ou os apelos de regresso à escola, uma espécie de parábola do 'Filho Pródigo' do Evangelho de São Lucas (cap.15), se as questões disciplinares continuam a ser geridas de forma arcaica, com estilo progressista, passando impunes os infractores?

Só quem anda longe do meio escolar é que ficou surpreendido com o suicídio do pequeno Leandro ou com o voo picado para o Tejo do professor de Música. Nas escolas, antigamente, preveniam-se as causas. Hoje, lamentam-se, com lágrimas de crocodilo, os efeitos. O professor era louco, não era? Tinha uma clara fragilidade psicológica, não tinha? Pobre senhor. Se calhar teve o azar de ter que ganhar a vida a dar aulas e não conheceu a sorte daqueles que a ganham a ditar leis do alto da sua poltrona que, em nada, se adequam à realidade das escolas de hoje."

Nota do blog Irrelevante:

À boa maneira do velho estalinismo, quem teima em dizer que preto é preto, e que branco é branco, quando o Poder decreta o contrário, é considerado "louco". 
No blog "Jugular" (mais um a soldo do Poder), a psiquiatra (!!!) Ana Pires, é das que subscreve a tese do "professor louco"!