quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O PR e o «Isto está cada vez pior!»

João José Brandão Ferreira

É a frase que domina a maioria das conversas, mesmo as de circunstância, com excepção do pessoal mais novo, que ainda gosta de falar de outras coisas. A frase com a sua crítica implicita ultrapassou, há muito, as normais banalidades sobre as condições meteorológicas.

A situação não é nova, estamos em crer,até, que é de sempre. Tem a ver com a natureza humana. Já ouvíamos coisas do género no tempo de Salazar, idem para Marcello Caetano, depois no PREC – onde entrámos no surreal – e desde então até hoje e sempre a piorar. Nem as pessoas que estão junto à área do Poder – as principais responsáveis – escapam à mania: elas também acham que “isto” está cada vez pior! Obviamente temperam a coisa com o aconchego da sua conta bancária e vingam-se do stress, com uma escapadela a uma estância de neve, ou a um paraíso tropical.

Parte-se do princípio – é como um segredo de família! – que quando se referem a “isto”, querem dizer Portugal. Por acaso o seu, nosso, País.

Veio agora S. Exª o PR, na sua mensagem de Ano Novo afirmar, com veemência, que “isto” está à beira de uma explosão social.

Não parece que assim seja (por enquanto…). E não é pelo facto de estarmos na União Europeia (UE) como muitos analistas referem, com o Dr. Mário, diz hoje uma coisa e amanhã outra, Soares, à cabeça. Uma explosão social, um golpe de estado ou qualquer outra manifestação político/social quando tiver que acontecer, acontece quando a situação estiver madura para tal. O Filipe IV, ou o Junot, que o digam.

A mim parece-me que existem quatro razões principais para que ainda não entrássemos em violência: o novo regime não se tem mostrado tão jacobino como é de facto, e não tem hostilizado a Igreja. Começou a quebrar esta regra, pelas minhas contas, há uns três anos a esta parte. A segunda razão prende-se com o facto do país não ter mergulhado numa crise grave internacional, como aconteceu após a proclamação da República, com a I Grande Guerra. Depois as Forças Armadas ainda não recuperaram do 25 de Abril, de onde saíram muito debilitadas e têm sofrido, desde então, um continuado desgaste e perda de influencia. Finalmente, e mais importante, a CEE, meteu no país desde 1986, cerca de dois milhões de contos/dia, o que tem dado para todos os desatinos. Além disto a gravidade da situação vivida no PREC ainda está viva na mente da maioria da população. O dilúvio de informação, desinformação e condicionalismo psicológico provocado pela explosão mediática, tem feito o resto.

O país tem vivido à “grande e à francesa” com o pequeno pormenor de que gasta o que não é seu e, ou, não produz. Esta irresponsabilidade colectiva vai ser paga com língua de palmo. Mas ainda não chegámos lá.

O que acontece é que quem se habituou a ir de férias a Cancun, pagando a pronto ou a cartão de crédito – outro artefacto que vai prolongando alegremente o desvario – não vai explodir socialmente. Nem se importa – pelos vistos - com quem à sua volta roube, mas faça! Por outro lado, não há ruptura de abastecimentos, pelo contrário, entra-se num supermercado e há 300.000 linhas de artigos à escolha. Para os casos mais desesperados, não têm faltado subsídios.

Ora a questão é esta, por mais que isso custe a admitir às santas almas com as quais nos cruzamos diariamente: a esmagadora maioria das pessoas não quer saber de princípios, interessa-se por conveniências. E a meia dúzia, mesmo que seja alargada, que pugna pelas virtudes, é apenas a excepção que confirma a regra.

Por isso Sr. Dr. Cavaco Silva não haverá ainda explosão social, a não ser casos pontuais devidamente industriados por partido(s) e sindicato(s), para fins políticos. Todos nós sabemos o que isto quer dizer e a quem nos referimos.

De qualquer modo o que é que os cidadãos podem fazer? Escrever artigos? É para o lado para onde os responsáveis dormem melhor! Ir para a rua manifestar-se (quem consegue e quer…)? Os professores, dizem, puseram 200.000 pessoas na rua e isso não resultou em coisa nenhuma! Denunciar escândalos? Saem às dezenas nos “media”, por semana. No passa nada! A justiça está metida numa camisa de forças … As pessoas ainda estão numa de sobreviver e ver se é a do lado que faz alguma coisa.

A situação verdadeiramente preocupante é a do desemprego. Mas tem muitas almofadas: os imigrantes estão a abandonar o país; os portugueses passaram a emigrar em números preocupantes, novamente; existe o subsídio de desemprego; muitos trabalham de ambos os lados da fronteira, etc.

A questão agora é esta: irá a situação ser corrigida ou irá agravar-se? Nisto o PR, foi omisso.

Na minha perspectiva a situação vai piorar. Sobretudo porque o sistema político em que vivemos vai tornar o país ingovernável. O sistema está cheio de erros, mas é incapaz de se reformar. Como se fez uma lavagem ao cerebro das pessoas, afirmando que ele é o melhor e é democrático, não há maneira de o deitar abaixo. Vai ter que implodir. Como, aliás, implodiu o de 1820, o de 1834, o de 1851 e o de 1910. Não se aprende mesmo nada.

Principal causa: a ditadura dos partidos e o péssimo comportamento da maioria dos políticos. Não se conseguindo reformar isto não se conseguirá nada mais. E é mesmo duvidoso que mesmo havendo fortes pressões exteriores para pôr ordem na casa, o sistema permita que algo de útil possa ser feito: vai continuar-se a recorrer a empréstimos externos e a castigar o contribuinte com impostos (caminho ,aliàs, que os vencedores do 28 de Maio também queriam seguir,até que...). Existem, por cálculo grosseiro, umas 200 000 famílias que gravitam na área do poder e se têm locopletado com a esmagadora maioria da riqueza existente no país. Não parece crível que queiram abdicar dos seus proventos. A bem.

Por isso Sr. Presidente, pode esperar que lá mais para a frente possa haver, não uma, mas várias explosões sociais. Mas só quando uma fatia alargada de portugueses começarem a viver realmente mal e outros tantos estiverem com a corda na garganta. Pequenos grupos começarão,então, a conspirar a sério, deixando de haver apenas os almoços e tertúlias de bota abaixo (que os há por todo o lado) e as conversas de circunstância onde se diz por norma “isto está cada vez pior”. Isto são coisas de treinadores de bancada e não levam a nada.

Depois surgirão “capacidades”, alguns das quais escaparão ao controle das polícias e informadores. Ficará tudo pendente de um rastilho, que surgirá quando menos se espera.

E lá passaremos então, por mais um mau bocado, de consequências imprevisíveis.

Aprende-se mesmo pouco em Portugal.

Do PREC ao Nacional Socialismo

Gonçalo Portocarrero de Almada

No ano do centenário da república, o governo voltou ao PREC, o saudoso «processo revolucionário em curso» posterior ao 25 de Abril. Como não consegue resolver as questões sociais, como o desemprego e a pobreza, que são as que verdadeiramente afligem os portugueses, os nossos governantes acharam por bem distrair o país com uma questão fracturante: o alegado «casamento» entre pessoas do mesmo sexo.

Como é sabido, a tendência homossexual não deve chegar aos 4% da população e muitos dos que se assumem como tais não querem casar, mesmo tendo a possibilidade de o fazerem com uma pessoa do mesmo sexo. É portanto a favor de uns hipotéticos 2% dos portugueses e contra os restantes 98% que se alterou o regime jurídico do matrimónio civil. É por isto, sem dúvida, que o governo não admite uma consulta popular sobre uma opção que sabe contrária ao parecer da quase totalidade dos portugueses. À boa maneira estalinista do PREC, diga-se de passagem.

Talvez alguns incautos entendam que a aprovação do «casamento» entre pessoas do mesmo sexo em nada prejudica o matrimónio natural, ou seja heterossexual. Se, por absurda hipótese, os homossexuais fossem legalmente equiparados aos governantes, é provável que alguns membros do governo sentissem desvirtuada a sua identidade, nomeadamente os que, não sendo «gays», a eles se vissem forçosamente assimilados por uma injusta e aberrante disposição legal. É óbvio que não seria lógico pretender que, como essa lei não os obrigaria a enveredar por essa tendência, não teriam direito a ela se oporem. Essa medida legal, mesmo não obrigando ninguém a ser homossexual, não só seria falsa porque nem todos os governantes são homossexuais, como lesiva do estatuto dos membros do governo que não fossem «gays», bem como de todos os homossexuais que não quisessem ter a condição de governantes.

O mesmo se diga em relação aos casados: a instituição de um «casamento» entre pessoas do mesmo sexo não afecta apenas os homossexuais, mas todos os que contraíram, ou venham a contrair, matrimónio civil. Por isso, é possível que muitos cônjuges pretendam agora a extinção dessa sua condição civil, precisamente para não ficarem juridicamente na mesma situação agora concedida aos parceiros de uma união homossexual. E, de futuro, porventura não será possível negar, aos cristãos que celebrem canonicamente o seu matrimónio, o direito à objecção de consciência quanto à transcrição civil desse seu casamento, precisamente para evitarem uma equiparação que gravemente contraria os seus princípios éticos e religiosos. Antes só do que mal acompanhado…


Quando o governo insiste na institucionalização de um «casamento homossexual», está a comprar uma guerra que já perdeu, não só porque está a proceder contra a natureza e a mais elementar razão, mas também porque está a opor-se à maioria dos portugueses, como nos bons velhos tempos do PREC, em que uma aguerrida minoria queria impor, contra a quase totalidade dos cidadãos, a ditadura do proletariado.

Quando se impõe autoritariamente uma alteração política que foi rejeitada em todos os plebiscitos que sobre o tema foram, até à data, realizados em todo o mundo; quando acintosamente se ignora uma petição subscrita por mais de noventa mil eleitores, exigindo um referendo nacional; quando escandalosamente se proíbe a liberdade de voto aos deputados do grupo parlamentar que promove essa medida fracturante (será que nem esses deputados a subscrevem?!), é caso para pensar que a legitimidade democrática do regime está seriamente abalada.

Como nos tempos do PREC, em que o governo foi sequestrado pelos manifestantes que cercaram o palácio de São Bento, também o actual governo parece refém das minorias sectárias a que obedece, em flagrante desrespeito da razão e da vontade popular. Este socialismo autocrático não serve a democracia nem a liberdade, não serve a justiça nem os cidadãos, não serve o bem comum. Este nacional socialismo não serve Portugal.

(Ilustrações da Redacção)



domingo, 17 de janeiro de 2010

Uma parisiense em São Bento

Um contribuinte agradecido

Muito interessante. Ficámos a saber pelo Correio da Manhã (9-01-2010) que a deputada do PS Inês de Medeiros foi eleita por Lisboa e vive em Paris. Acontece como demais deputados, quando a semana de trabalho acaba há que rumar a casa. A Paris, portanto. Tão longe de casa, só com ajudas de custo será possivel suportar uma situação destas. Mas parece que a Assembleia da República já está a tratar do caso e a solução estará para breve, com efeitos retroactivos. Sinto-me aliviado. Porque acho que a democracia portuguesa não poderia, obviamente passar sem a Inês Medeiros e, por isso, devemos todos contribuir para que a simpática residente parisiense possa também ela contribuir com a sua presença para o avanço da Nação. Nem que seja, como diz o seu colega de bancada Ricardo Gonçalves, só para bater palmas.
E, o meu alívio também se deve ao facto de a actriz não residir em Sydney, Melbourne ou Auckland, que igualmente seriam lugares bastante plausíveis para viver alguém eleito pelo círculo de Lisboa, só que um nadinha mais longe. Em Paris fica-nos muito mais barato.
Da minha parte de contribuinte, OBRIGADO