quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Poço Vasco da Gama

Paulo Morais 

A ponte Vasco da Gama que foi a 1.ª PPP que teve a assinatura, à data, do 1.º ministro Cavaco Silva, que só fez duas PPP. Leiam, vale a pena, só assim percebemos a grandiosidade? destes negócios e para onde vai o nosso dinheiro. Ou o silêncio da múmia...
A construção da Ponte Vasco da Gama, a primeira parceria público-privada, foi um negócio ruinoso para o estado português.
A participação privada na nova travessia do Tejo nasceu de um embuste, a tese de que o Estado não teria dinheiro para construir a infra-estrutura e recorria ao apoio dos privados, a quem mais tarde pagaria determinadas rendas. Nada mais errado! Até porque os privados entraram com apenas um quarto dos 897 milhões de euros em que orçava o investimento. O restante foi garantido pelo estado português, através do Fundo de Coesão da União Europeia (36%), da cedência da receita das portagens da Ponte 25 de Abril (6,0%), e por um empréstimo do Banco Europeu de Investimentos (33%). O verdadeiro investidor foi o estado português, que assim garantiu a privados uma tença milionária ao longo de anos. Só em 2010, as receitas das portagens atingiram quase 75 milhões de euros.
Ao mesmo tempo, os privados eliminavam a concorrência, pois garantiam que ninguém poderia construir uma nova travessia no estuário do Tejo sem lhes pagar o respectivo dízimo.
Para piorar a situação, o Estado negociou, ao longo de anos, sucessivos acordos para «a reposição de reequilíbrio financeiro», através dos quais se foram concedendo mais vantagens aos concessionários. Ainda antes da assinatura do contrato de concessão, já o Estado atribuía uma verba de 42 milhões de euros à Lusoponte para a compensar por um aumento de taxas de juro. Mas os benefícios de taxas mais baratas, esses reverteram sempre e apenas para a Lusoponte. Sem razão aparente, o Estado prolongou ainda a concessão por sete anos, provocando perdas que foram superiores a mil milhões. E muito mais… um poço sem fundo de prejuízos decorrentes de favorecimentos à Lusoponte.
Aqui chegados, só há agora uma solução justa: a expropriação da Ponte Vasco da Gama, devolvendo aos privados o que lá investiram. As portagens chegam e sobram para tal. Não se pode é continuar a permitir que, por pouco mais de duzentos milhões de euros, uns tantos senhores feudais se tornem donos de uma ponte que não pagaram, cativem as receitas da «25 de Abril» e sejam donos do estuário do Tejo por toda uma geração.


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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Aguiar-Branco põe na gaveta
relatório incendiário

Helena Pereira, Sol
 
Um país onde «a corrupção e o nepotismo alastraram impunemente». Onde «as estruturas económicas são medíocres e tímidas». Onde se vive num «ambiente de rarefacção do Estado Social». Este é o retrato de Portugal, feito por um grupo de senadores, a quem o Governo pediu um trabalho sobre a revisão do Conceito Estratégico de Defesa.
 
O grupo, presidido pelo social-democrata Luís Fontoura, inclui pessoas como Adriano Moreira, Luís Amado, Jaime Gama, Leonor Beleza, Ângelo Correia, Gomes Canotilho, Pinto Balsemão, Figueiredo Lopes, João Salgueiro, o general Loureiro dos Santos e o almirante Vieira Matias.
 
A comissão, de 25 membros, tomou posse em Junho, numa cerimónia no Forte de S. Julião da Barra, a que o próprio primeiro-ministro compareceu. Depois, a 11 de Outubro, nova cerimónia formal, presidida por Passos Coelho, para a entrega do trabalho. Aguiar-Branco manifestou, nessa altura, o desejo que o novo CEDN fosse «um documento realista, exequível, que não seja apenas para registo da História, mas um guião mobilizador do que deve ser a intervenção do Governo».
 
O texto final devia ser levado a Conselho de Ministros até final do ano. As ideias, contudo, são polémicas e criaram desconforto, não só junto do Ministério da Administração Interna, como na Presidência da República, que não tiveram conhecimento do relatório. No caso da Presidência, há até razões formais para que isso tivesse acontecido: a legislação em vigor atribui ao Conselho Superior de Defesa Nacional, liderado pelo PR, competências prévias na aprovação deste documento.
 
Percebendo o problema, o Ministério da Defesa já nem quer comprometer-se com uma nova data para a aprovação do novo Conceito Estratégico, que está a ser trabalhado, há várias semanas, por membros da equipa de Aguiar-Branco. O trabalho da equipa de sábios é tido, no Ministério da Defesa, «como um contributo entre vários».
 
Aquele trabalho faz, por um lado, um diagnóstico muito negro da actual situação do país. Por outro, formula uma série de propostas polémicas, nomeadamente sobre a GNR e a PSP, que esta semana levaram inclusive à ameaça de direcção da PSP. Por último, na parte estrita de defesa, é muito ambicioso.
 
O texto é duro no que diz respeito às vulnerabilidades internas. Assim, Portugal é visto como «um protectorado» que luta «pela sua sobrevivência» e em que «a intervenção indébita e egoísta das corporações profissionais e económicas, está para além dos limites aceitáveis». E a crise que o país atravessa «pode desencadear fenómenos de contestação e radicalização, detonantes de uma conflitualidade político-social susceptível de pôr em causa o regime democrático». Já a Justiça, permitiu a «impunidade» dos «prevaricadores de colarinho branco».
 
Mas tem também várias propostas concretas que surpreenderam o próprio ministro da Defesa. Defende uma negociação com a UE que permita «aliviar o peso da dívida externa contraída pelo Estado após o início da crise financeira internacional».
 
Propõe ainda a criação de uma «unidade de Segurança Nacional que funcione no Gabinete do primeiro-ministro» para «sintetizar» a informação recebida dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Defesa Nacional e da Administração Interna, e do Sistema de Informações da República.
 
E defende uma separação entre PSP e GNR, com a primeira a ficar responsável pelas áreas urbanas e policiamento de proximidade, enquanto a segunda deverá combater a criminalidade mais violenta e o terrorismo – levando Miguel Macedo a demarcar-se publicamente de tal visão, vista como uma ingerência inaceitável.
 
Um dos membros da comissão de revisão do CEDN explicou ao SOL que os vários elementos organizaram-se em grupos de trabalho sectoriais e que é normal que não concordem necessariamente com todos os pontos do texto.
 
 
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Parlamento europeu em sessão.
Verdadeiramente vergonhoso…

 
 
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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Se não há igrejas na Arábia Saudita
não haverá mesquitas na Europa…

Jonas Gahr Store
Reciprocidade

A Noruega proibiu a Arábia Saudita de financiar mesquitas, enquanto não permitirem a construção de igrejas no seu país.
 
O governo da Noruega acabou de dar um passo importante na hora de defender a liberdade da Europa, frente ao totalitarismo islâmico.
 
Jonas Gahr Store, ministro dos Negócios Estrangeiros, decretou que não seriam aceites os donativos milionários da Arábia Saudita, assim como de empresários muçulmanos para financiar a construção de mesquitas na Noruega.
 
Segundo o referido ministro, as comunidades religiosas têm direito a receber ajuda financeira, mas o governo norueguês, excepcionalmente e por razões óbvias, não aceitarão o financiamento islâmico de milhões de euros.
 
Jonas Gahr Store argumenta que:
 
«Seria um paradoxo e anti-natural aceitar essas fontes de financiamento de um país onde não existe liberdade religiosa».
 
O ministro também afirma que «a aceitação desse dinheiro seria um contra-senso»,recordando a proibição que existe nesse país árabe para a construção de igrejas de outras religiões.
 
Jonas Gahr Store também anunciou que a «Noruega levará este assunto ao Conselho da Europa», donde defenderá esta decisão baseada na mais estrita reciprocidade com a Arábia Saudita. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A leveza da irresponsabilidade
e os perigos das ilusões

João j. Brandão Ferreira
 
«Foi-lhes dada a escolha entre a guerra e a desonra. Escolham a desonra e terão a guerra».

Wiston Churchill
 
Ter a «Troika» a passear na baixa lisboeta, junto ao Martinho da Arcada – onde Fernando Pessoa terá escrito trechos dessa maravilha poética e patriótica intitulada «Mensagem»[1] obra com muito mais significado do que ter afirmado que a sua «Pátria era a língua portuguesa»[2] – é muito mais grave do que ter a duquesa de Mântua no antigo palácio real, protegida pela guarda alemã (ele há coincidências…), aquartelada no castelo de S. Jorge.[3]
 
Apesar de esta afirmação não ser evidente para o vulgo, não me resta espaço para explicar porquê. O ponto não é esse.
 
O ponto é que a situação descrita revela que a nossa soberania está muito limitada – sem que alguém se preocupe em aferir até que ponto – ou seja a Nação Portuguesa tem altíssimas restrições para poder decidir do seu destino.
 
E cada um de nós como português, individualmente, está sujeito a essas restrições. Ou seja a liberdade de cada um está intimamente ligada à liberdade da Nação, mas a liberdade desta é mais importante que a liberdade individual, coisa que deixou de ser perceptível – logo sentida – pois deixou de fazer parte do discurso oficial, da moral política e das modernaças correntes intelectuais.
 
Por isso a prioridade, que devia ser de todos nós, desde os governantes ao povo miúdo, devia ser, logicamente, a de reganhar a soberania.
 
Mas não, além da irresponsável leveza com que a maioria dos órgãos de comunicação social, agentes económicos e sociais e público em geral trata o problema – como se de um contratempo momentâneo se tratasse – já não espanta que a prioridade dos políticos, desde o Presidente da República à maioria dos deputados e passando pela «caixa-de-ressonância, em que se transformou o governo, seja a de ‘regressar aos mercados’»!
 
Os mesmos mercados que estão na origem da crise…
 
Esta matilha política e financeira enredou-se de tal ordem, num novelo de dependências e negócios, que querem acabar com as nações – por isso o Estado já não as representa – para amalgamar os povos que as constituem, e pôr os «cidadãos» não se sabe bem de quê, a pagar os custos do nó górdio que criaram.
 
E que ninguém consegue desatar.
 
Sabem porque não se quer que o governo peça melhores condições para «gerirmos» a crise? (a dívida, como está, é impagável nos próximos 100 anos, garanto, e não sou financeiro).
 
Posso estar enganado, mas a razão é só uma: ainda não nos sugaram o suficiente! (independentemente do perigo de voltarmos à indisciplina e ao disparate).
 
O processo que levará à canga com que ficaremos escravos, sem bens, sem terra, sem eira nem beira, ainda não está suficientemente consumado. Tudo o que resta de património ainda não foi alienado ou vendido ao desbarato; os instrumentos de sobrevivência postos exangues.
 
Tudo vai por mau caminho e a desorientação é geral. O «nevoeiro» é muito e urge ver para além e através dele.
 
A Instituição Militar último reduto que resta ao país para além da Igreja (ambas muito esfaceladas) - já que a universidade tem vindo a anarquizar e a atomizar o saber e o conhecimento – e do PCP, único partido digno desse nome, capaz de tomar conta do Poder caso a oportunidade surja (obviamente com as consequências que apenas «cheirámos» em 1974/1975), tem que começar a pensar em sair da sua posição puramente institucional de fingir que nada do que se passa lhes diz respeito. É avisado prepararem planos de contingência pois quando a coisa correr mal vai sobrar para eles.
 
Valores mais altos se levantam.
 
E convém ter o dia seguinte minimamente pensado para não se dar o descalabro do dia 26 de Abril…
 
Isto claro se não se deixar abater como um apêndice dispensável e inútil.
 
O Junot, em 1807, dissolveu o Exército com um decreto. Não sei se estão recordados do que aconteceu a seguir.
 
Os tipos da «Troika» não devem ser lançados pela janela fora, como se fez ao Miguel de Vasconcelos, não só porque não foram eles que nos traíram, como até fomos nós (enfim, alguns de nós), que os convidámos para a nossa casa, onde até já fazem conferências de imprensa.[4]
 
Mas devem, de facto, ser postos na rua. Delicadamente, mas na rua.
 
Só que para isso ser viável é preciso ter um plano estratégico para sobreviver, que não se vislumbra em gente responsável. E qualquer plano implica muitos sacrifícios que ninguém quer fazer a não ser que acredite na «causa».[5]
 
Mas a vida é luta e ir à guerra se, preciso for. E nós deixámos de querer lutar
 
Quanto mais tarde nos decidirmos, maior será o sacrifício e os danos.
 
Podemos tentar enganarmo-nos a nós mesmos, mas não há volta a dar.
 
Como dizia o Churchill, ficaremos com a guerra e a desonra – como, aliás, aconteceu com a «descolonização»…
 
Corro o risco de estar vivo para ver. E não me apetece nada.
 
 
[1] Única obra de Pessoa publicada em vida do poeta, em português (1934). Premiada com o prémio «Antero do Quental».
 
[2] Lamentavelmente abusada por alguns para significar, propositada ou ingenuamente, conceitos errados e perigosos…
 
[3] A principal força que obedecia aos Filipes, em Lisboa, eram tropas alemãs dos domínios dos Habsburgos (mercenários católicos, conhecidos como «Tudescos»).
 
[4] Os Árabes/Berberes também desembarcaram no «Al Andaluz» convidados por uma das partes dos Visigodos desavindos. Foi preciso 800 anos para os expulsar…
 
[5] Atente-se: Antes de 1640, ninguém queria pagar impostos para subsidiar as «guerras» de Filipe IV, houve revoltas e tumultos. Mas a seguir à aclamação de D. João IV, todo o reino (que estava paupérrimo) pagou sem murmúrio o imposto extraordinário para fazer face à guerra que aí vinha.
 
Todos os estudantes portugueses que estavam na universidade de Salamanca regressaram ao país e alistaram-se para o bom combate. Parte da nobreza portuguesa que estava na corte, em Madrid (agora pode ler-se Bruxelas), juntou os seus haveres e regressou à Pátria. Só os mais beneficiados ficaram em Madrid e renegaram as origens. Naquele tempo, Portugal estendia-se do Brasil à China e apenas uma praça – Ceuta – cujo governador era castelhano, não levantou arraial por El-Rei de Portugal!
 

Três mitos sobre a marijuana

Manuel Pinto Coelho
«Não há nada mais terrível que a ignorância activa» Goethe
 
Continua a ler-se com inusitada frequência na imprensa nacional declarações de pessoas que, embora habitualmente responsáveis, desde há muito, de forma mais ou menos declarada, se vêm batendo pela legalização da marijuana.
 
A bem da verdade e da saúde mental do leitor, esclarece-se:
 
Mito 1 - A marijuana fumada pode ter um aproveitamento médico.
 
Verdade - Pela impossibilidade de controlar a dose, os ingredientes e a potência, o fumo nunca poderá ser um modo seguro de administrar uma droga. Entre os seus 483 compostos químicos, o THC é fortemente psicoactivo, a sua potência não pára de aumentar - no espaço de 40 anos, passou de 1% para 35% - sendo que as concentrações desconhecidas deste composto químico tornam impossível a criação de uma dose uniforme com aplicação médica. Acresce ainda que a já há muito suspeitada ligação entre cannabis e a esquizofrenia vem sido repetidamente confirmada por estudos recentes, de tal forma que hoje ela é comparada com a conhecida ligação ao cancro do fumador de tabaco. Além de inquestionáveis danos no cérebro e aparelhos respiratório e reprodutor, estudos também recentes têm vindo a comprovar, no seio dos seus utilizadores, descidas do QI que podem ir até aos oito pontos.
 
Mito 2 - A legalização da marijuana iria diminuir o crime relacionado. As prisões estão superpovoadas de indivíduos acusados da sua posse, obrigando os Governos a gastar milhões pelas custas legais da sua detenção.
 
Verdade - A legalização da marijuana, com a consequente descida da percepção de risco, do preço, bem como o aumento da sua disponibilidade, faria dos jovens um alvo e um potencial mercado muito maior para os dealers. Nos EUA, de todos os detidos por problemas de droga, só 1,6% foram sentenciados unicamente por posse, sendo a quantidade média apreendida de 52 quilos, ou seja, muito mais do que a necessária para uso pessoal. Passa pela cabeça de alguém que a melhor forma de prevenir o crime e o consequente castigo/sobrelotação das prisões ocupadas com os seus prevaricadores, seja também a de legalizar a fraude, o roubo, o assassínio, o incesto, o estupro, a violação, a pedofilia, a violência doméstica, o tráfico humano ou o fogo posto?
 
Mito 3 - Taxar a marijuana como o álcool e o tabaco traduzir-se-ia num encaixe de milhares de euros que poderiam ser aplicados em serviços vitais, tais como nas escolas.
 
Verdade - O tabaco e o álcool são precisamente os maiores indicadores da razão por que legalizar a marijuana seria devastador em termos económicos e de sofrimento humano. Quem advoga a ideia esquece-se de mencionar que o dinheiro dos impostos cobrados ao tabaco e ao álcool cobrem menos de 15% dos custos económicos devidos ao uso destas substâncias, que incluem cuidados de saúde, perda de produtividade, custos com a justiça, acidentes de viação e absentismo, para nomear só alguns. Assim é razoável concluir que, no mínimo, os custos da legalização da marijuana iriam reproduzir em espelho os do tabaco e álcool.
 
É voz corrente que é impossível erradicar as drogas da sociedade; uma guerra perdida, diz-se. É nossa opinião que, embora seja impossível acabar com ela, qualquer sociedade consciente, com um mínimo de consciência ética, deverá caminhar no sentido da sua erradicação. O seu objectivo deverá ser sempre o de limitar o número de pessoas envolvidas e o correspondente impacto negativo. Do mesmo modo, o facto de ainda não se ter descoberto a cura do cancro não quer dizer que se deva deixar de a tentar. O mesmo raciocínio em relação a flagelos como a fome e a pobreza. Não passa pela cabeça de ninguém desistir de os combater pelo facto de os resultados estarem sempre muito aquém dos desejados.
 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mais padres pedófilos?

Nuno Serras Pereira 

Como recebi um número significativo de missivas e perguntando-me das razões de ter enviado a notícia Ex-provedora da Casa Pia diz que há outros casos de padres pedófilos e escasseia-me o tempo para retorquir individualmente peço que me desculpem esta réplica geral, tanto mais que poderão existir outros leitores perplexos ou interrogativos.

Em primeiro lugar, considero que importa muito atentar nas malsinações, de enorme gravidade, lançadas por Catalina Pestana: há mais padres pedófilos, e somente na Diocese de Lisboa, de seu conhecimento, há cinco; o Cardeal Patriarca conhece-o mas alega não o saber, e juntamente com o Arcebispo de Braga (anterior Presidente da Conferência Episcopal) limitam-se a mudar os alegados padres abusadores de lugar.

Das duas, uma: ou estas recriminações são verdadeiras ou são falsas. 

a) No caso de serem exactas isso significaria que membros da Igreja, ao mais alto nível, estariam a trair gravemente a sua missão e a boicotar o esforçado empenho de Bento XVI em purificar a Igreja, que não pode admitir que no Sacerdócio ministerial haja padres que abusam de menores, como o escreveu João Paulo II. Se assim for, a Santa Sé deveria ser informada pelo Núncio Apostólico para agir em consequência. A Igreja não teme a verdade, e faz parte da sua missão expulsar os demónios, mesmo, ou principalmente, quando os possuídos receberam Ordens. 

b) Se, pelo contrário, são uma colossal calúnia o Cardeal Patriarca, bem como o Arcebispo de Braga, têm ao seu dispor quer o Direito Canónico quer o Civil para limparem o bom nome e a honra da Igreja disciplinando a detraidora. 

Foi lançada uma suspeição geral sobre o clero em geral e sobre o que vive em Lisboa em particular. «Quem não se sente, não é filho de boa gente». Nós, pela Graça de Deus, somos filhos da Igreja, a melhor de todas as mães. Esta, por si só, é uma razão de peso quer para estar ao facto das arguições que nos são feitas quer para as vermos esclarecidas e resolvidas.
 
Entretanto, resta-nos rezar pelas vítimas daqueles que chamados a ser Cristo para eles, ao invés foram o demónio, e implorar a Misericórdia infinita de Deus para a conversão dos padres desGraçados.
 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Manuel Luciano da Silva,
um farol de portugalidade.
No continente americano 06/12/12


João j. Brandão Ferreira


«Deus deu aos portugueses um berço
Estreito para nascer, e um mundo
Inteiro para morrer».
Padre António Vieira

Introdução
Da vasta e rica biografia e obra do Dr. Luciano da Silva já outros trataram e a melhor título do que eu o faria.
Por isso decidi dilucidar uma faceta deste nosso compatriota que nunca esqueceu as suas origens, apesar de ter passado a maior parte da sua vida em território estrangeiro que o ultrapassa a ele, à sua obra, à sua pátria e ao seu país de acolhimento, os E.U.A, para se tornar progressivamente universal.
Estou a querer referir-me à defesa que intentou fazer durante a maior parte da sua longa vida depois de firmar a sua competência nas ciências médicas: a importância e pioneirismo dos descobrimentos portugueses, na história do mundo, em geral, e do continente americano, em particular.
Assim nós saibamos dar continuidade à sua obra!
Desenvolvimento
A História de Portugal é rica em eventos de toda a natureza. Está recheada de glórias, de desastres e alegrias, e conta, também, com o seu quinhão de infâmias.
Entre o activo e o passivo, creio que ainda saímos de cabeça levantada e, num «ranking» mundial que não nos envergonha.
Nestes quase 900 anos a nação dos portugueses viveu intensamente e, se a humanidade acabasse agora, nós não passaríamos despercebidos na sua história futura, pois deixámos nela, indelevelmente marcado o nosso cunho.
Foi esse «cunho» que o Dr. Luciano da Silva se dedicou a conhecer melhor, enaltecer e divulgar.
Neste âmbito, o podemos assemelhar ao notável 2.º Visconde de Santarém,[1] diplomata e historiador, exilado em Paris, e que em larga faixa do século XIX, prestou um assinalável contributo para a afirmação dos descobrimentos portugueses no mundo, e dos direitos de Portugal, em África.
Investigador de mérito, o Dr. Luciano da Silva, juntava às suas qualidades, a iniciativa junto com a capacidade de realização prática, que são um conjunto de atributos difícil de reunir na mesma pessoa.
Deste modo a redescoberta da «Pedra de Dighton», em 1959, no leito do rio Taunton, perto de Berkeley, e o seu estudo sobre o pioneirismo dos Corte Reais, que dos Açores e de Lisboa, navegaram para a Terra Nova e o norte do continente americano, foram causa da sua participação no I Congresso Internacional dos Descobrimentos Portugueses, em 1960, em Lisboa.
Foi o princípio de uma longa luta de incompreensões que o acompanharam ao longo da existência.
Note-se que nem o notável «Dicionário da História de Portugal», coordenado por Joel Serrão, quando se refere à dita pedra, refere Luciano da Silva, fazendo apenas referência ao americano Delabarre que, a partir de 1918, falou em primeiro lugar na tese portuguesa, misturada com meia dúzia de outras, algo fantasistas. Este Delabarre chegou a ser condecorado pelo governo português, em 1926.
Felizmente que hoje se reconhece o valor do homenageado, ao ser-lhe concedido o grau de Comendador da Ordem de Mérito, em complemento do grau de oficial da Ordem do Infante D. Henrique, outorgado em 1968.
Espera-se que, de igual modo, o seu nome passe a ser uma referência quanto à Pedra de Dighton aquando de uma reedição do assinalado dicionário.[2]
Reunindo apoios nos E.U.A conseguiu remover a citada pedra – cujas inscrições ele estudou minuciosamente e da qual existe uma cópia no exterior do museu da marinha (e mesmo assim continua desconhecida da maioria dos portugueses) – e, com base nela, levantar um pequeno museu no estado do Massachusetts, de que chegou a ser director.
Mais tarde, interessando-se pela figura do grande Almirante Cristóvão Colon, investigou as suas origens e vida, escrevendo um livro intitulado «era Cristóvão Colon (Colombo) Português?», em que procurou provar, em bases sólidas, a nacionalidade portuguesa desse grande personagem da História Universal.
A ele e a sua mulher se devem a notável descoberta, na biblioteca do Vaticano, de duas bulas do Papa Alexandro VI, em que o nome do navegador aparece escrito em português, e não em latim (como seria normal), castelhano ou genovês…
Para além de numerosos artigos, conferências, entrevistas, programas de televisão e rádio, em que foi parte, em vários países – e que se contam pelas centenas Luciano da Silva ainda conseguiu criar uma associação e museu, com o seu nome, na sua terra natal (Cavião, Vale de Cambra), dedicada às paixões da sua vida, e foi argumentista do filme que o consagrado Manuel de Oliveira realizou, dedicada ao mistério da vida de Colon (intitulado «Cristóvão Colombo o Enigma»), que foi premiado na bienal de Veneza, em 2008.
Manuel Luciano da Silva foi ainda membro fundador da Associação Cristóvão Colon, com sede em Cuba, Alentejo, que se dedica à defesa da portugalidade do incorrectamente apelidado «descobridor da América».
Luciano da Silva foi investigador sério e patriota, e a sua acção devia servir de exemplo para quem, em Portugal e no resto do mundo, tem tratado este tema.
De facto não queremos deixar de lamentar a «subserviência» que foi o tom da participação portuguesa na Expo 92, em Sevilha, que permitiu aos espanhóis menorizar a grandeza lusa, proclamando aos quatro ventos a tese do «encontro de culturas» em detrimento da Epopeia descobridora e da preterição do pioneirismo português face à «expansão dos povos da meseta». Entre muitas outras maldades…
Lembro ainda a oportunidade perdida da Expo 98, em Lisboa, em que se tratou o excelente tema dos «oceanos» sem abordar a história, tudo feito numa linguagem muito «modernista», como a dizer que não se queria nada com o passado...
E que dizer da própria Comissão dos Descobrimentos, que eivada do «politicamente correcto» e de preconceitos da historiografia marxista, decidiu defender a tese genovista, que dá Colon nascido em Génova e a atacar quem tal contestasse!
E, em todo este âmbito, é lamentável que o franco e necessário debate das ideias, saia do campo académico e científico, para aquele dos ataques estéreis e da ofensa pessoal.
A obra de homens com Luciano da Silva, também continua a ser ignorada pela generalidade da escola e dos órgãos de comunicação social embeiçados, que estão, na propagação das ideias europeístas e da «História da Europa», em detrimento do estudo daquilo que fizeram os nossos antepassados.
Por isso desejo aqui expressar o meu apreço pela coragem da actual presidência da Academia Portuguesa de História, ao abrir aquela vetusta instituição ao estudo de teses que saiam fora da «verdade oficial», como é o caso de Cristóvão Colon.
Foi pena que o homenageado de hoje, já não pudesse ter disfrutado desta abertura.
Conclusão
O Dr. Luciano da Silva foi um homem de causas e combateu o bom combate, com tenacidade, saber e coragem. E, no seu caso particular, constituiu-se ainda em farol permanente de portugalidade e patriotismo em terras estranhas o que devia ser apanágio de todos os bons portugueses.
É da mais elementar justiça reconhecer a sua obra e apontá-lo como exemplo cívico.
Resta-me deixar um repto à Sociedade de Geografia, que serviria como derradeira homenagem a quem esta sessão é dedicada: era grata intenção de Luciano da Silva conseguir que uma réplica da Pedra de Dighton fosse transportada para a ilha da Terceira, de onde era originário Miguel Corte Real, filho de João Corte Real, 1.º Capitão Donatário de Angra.
Apesar dos esforços que fez junto do Governo Regional dos Açores, tal nunca se efectuou.
Seria uma boa acção da Sociedade de Geografia de Lisboa levar a cabo este desiderato por diante.
Manuel Luciano da Silva foi mais um daqueles portugueses ilustres, retratados na citação do Padre António Vieira e homem de igual têmpera.
Lá no etéreo firmamento de onde nos possa estar a escutar, vai para si, caro Dr. Luciano da Silva, um grande bem – haja!


[1] Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e Carvalhosa 1791-1855. Era especialista em Cartografia, termo que inventou.

[2] A referência mais antiga e conhecida, referente à descoberta da Pedra de Dighton é atribuída ao Reverendo John Damporth, em 1680.