sexta-feira, 10 de outubro de 2014


Marinho Pinto diz que deputados ganham pouco



Publicado em 16 de Setembro de 2014 22:08

Marinho Pinto defende aumento do salário dos deputados (3 515 euros), para 4 800 euros, e que, ainda assim, não permite padrões de vida muito elevados em Lisboa

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Salário dos deputados «não é digno», diz Marinho Pinto, o eurodeputado que quer ser deputado, em entrevista à Renascença. Eis Marinho Pinto, o homem de esquerda que cita Thatcher.


Os deputados recebem pouco e não devem ganhar menos que os dez salários mínimos do bastonário da Ordem dos Advogados, 4 800 euros líquidos, que ainda assim «não permitem ter padrões de vida muito elevados em Lisboa», afirma Marinho Pinto, o eurodeputado que quer tornar-se deputado em Portugal.

Em entrevista à Renascença, diz ser um homem de esquerda, mas considera que essas distinções não existem hoje em Portugal. Cita mesmo Margaret Thatcher, figura pouco apreciada à esquerda.

Marinho denuncia que o Movimento Partido da Terra (MPT), pelo qual foi eleito eurodeputado, está ao serviço dos seus dirigentes e não tem a dimensão nacional de que precisa para concretizar as suas ideias. E diz ser «díficil» fazer «entendimentos políticos» com António Costa, responsável por um «tumulto no PS».

Mas não são só os deputados. Os órgãos de soberania em Portugal são mal remunerados, a começar no Presidente da República e a acabar nos juízes. Deveria haver essa cautela. E não há porque muitos políticos encontram formas, por vezes ilícitas, de suprirem essa deficiência.

Questionado sobre o que falhou com o MPT do qual se desvinculou, respondeu: «Não quero revelar publicamente as causas de uma separação. Sou advogado e sempre aconselhei os meus clientes que se divorciavam. Concluí que, por factos que não quero revelar publicamente a não ser que seja obrigado, não é possível realizar no MPT o projecto político que o País precisa para resolver os problemas nacionais».





quarta-feira, 8 de outubro de 2014


Centenas de milhar de manifestantes

que os media censuram...


No dia 5 de Outubro, tiveram lugar por toda a França manifestações, reunindo centenas de milhar de pessoas, a favor da família natural e contra o aborto, o chamado «casamento» entre indivíduos do mesmo sexo e os outros pontos da agenda das feministas e dos invertidos.


Alguém viu notícias nos nossos meios de comunicação, controlados pela esquerda e pelas estirpes visadas?

Eis algumas fotos.











Os donos da História e das palavras


Helena Matos

Portugal é um país em que o poder é naturalmente de esquerda e em que a não esquerda tem a função de, como oposição, mostrar que a esquerda é democrática

O propósito da deputada Rita Rato (a mesma que ainda não teve tempo para se informar sobre o gulag) de sanear os bustos de alguns presidentes da República veio recordar-nos que há em Portugal quem se considere dono da História. E que nessa qualidade não só se ache no direito de definir quem e o quê pode ou não ser recordado e em que estatuto mas que, não menos relevante, tem tido a capacidade de tornar normal o absurdo: no parlamento português, admiradores de Estaline passam por combatentes da liberdade e um partido que não se sabe quantos votos vale, os Verdes, tem um grupo parlamentar.

Isto para não nos alongarmos mais sobre a estranha patologia que leva a parte mais à esquerda do nosso hemiciclo a defender estrenuamente hoje aquilo que atacou violentamente ontem. E invariavelmente se a esquerda defende algo é porque lhe pode aplicar o termo «esquerda» e se ataca alguma coisa é porque essa coisa, facto, situação ou o que seja não é nesse momento de esquerda.

Veja-se o caso da homossexualidade sobre a qual o PCP tem hoje um entendimento oficial muito diferente do que tinha no ano de 1961 quando, para expulsar o seu dirigente Júlio Fogaça, invocou os seus comportamentos homossexuais. Dir-me-ão, quiçá a remoer interiormente que era escusado falar de tal coisa, que se estava em 1961. Pois estava e aí é que está o cerne da questão: os donos da História aplicam a todos os restantes mortais uma espécie de grelha revisionista que leva a que de D. Afonso Henriques aos participantes no Festival da Canção os protagonistas sejam avaliados positiva ou negativamente à luz do progressismo vigente: seria feminista? Praticava assédio? Pode dizer-se anticolonialista? Seria racista?… Acreditem: tivesse Fogaça sido ideologicamente próximo das bancadas à direita e o seu nome seria não só muito mais evocado nestes tempos como muita exigência de pedidos de desculpa se teria feito ouvir.

E aqui chegamos à outra zona de domínio da esquerda: a agenda e a respectiva linguagem. Só que nesta matéria, e ao contrário do que acontece na História, o absurdo está bem e recomenda-se. Por outras palavras, os desígnios censórios em relação ao passado do PCP, Verdes e BE, devidamente acolitados por alguns deputados do PS (com Jorge Lacão a destacar-se pelo radicalismo), já enfrentam resistência. Mas assim que se passa para o presente as palavras e os argumentos continuam como há quarenta anos: continua a discutir-se, ou melhor dizendo continua a ter de se confirmar como desfecho inevitável para qualquer mudança, o que a esquerda previa e cientificamente sabe que vai acontecer: antigamente era a sociedade sem classes, agora é a sociedade sem sexos. A criminalização do piropo é a mais recente conquista nessa luta pelo novo homem novo. (Fonte bem informada garante que o anterior homem novo morreu de síncope em Outubro de 1989 quando ouviu os manifestantes gritar em Leipzig para as autoridades comunistas «Nós somos o povo!» Mas há também quem diga que sobreviveu e morreu sim soterrado um mês depois em Berlim quando milhares de cidadãos da então RDA experimentaram passar para o outro lado do Muro de Berlim).

Obviamente continua a acreditar-se que os ricos podem pagar a crise, que são suficientemente ricos para isso e que tudo correria no melhor dos mundos se o fizessem. (Num sinal inequívoco do nosso empobrecimento, os ricos já não são os Mellos nem os Champalimaud mas sim a Alemanha.) Afirmar o contrário e questionar a razoabilidade de tal procedimento implica no mínimo ficar-se candidato a um prémio por impopularidade e alienar boa parte das hipóteses de fazer carreira política.

Mas é sobretudo quando chegamos às questões em que os direitos e o dinheiro para os garantir se cruzam que se torna mais evidente que o imaginário e o discurso vigentes continuam no mesmo sítio em que a esquerda os colocou há décadas: questionar a sustentabilidade da segurança social é estar a favor do lobby disto ou daquilo. Defender a racionalidade nos gastos do SNS que, note-se, serão sempre crescentes, dado o envelhecimento da população e a evolução da ciência médica, leva quase a acusações de tentativa de homicídio: oficialmente cada um de nós deveria viver a escassos metros de hospitais com todas as especialidades onde nos farão sempre todos exames e mais algum sem esquecer o acesso a medicamentos inovadores. Perguntar quanto tempo poderemos continuar a afectar recursos ao SNS sem discutir que se têm de fazer escolhas é algo que levará à crucificação mediática de qualquer político.

No caso do arrendamento, proteger os inquilinos é sinónimo não da existência no mercado livre de casas para arrendar mas sim de congelamento de rendas para os actuais inquilinos. Não importa que esta política tenha tido os desastrosos resultados de todos conhecidos: prédios de aluguer a cair no centro das cidades e periferias cheias de jovens endividados para comprar casa. Menos importa que inúmeros comércios pagassem rendas irrisórias em locais privilegiados. O que importa é repetir expressões como «proteger os inquilinos» e dizer que a loja A e o café B não podem desaparecer.

Considerar que o contribuinte não pode ser obrigado a pagar os concertos mais as performances que não sei quantos artistas querem fazer por esse país fora é estar a atacar a cultura. Mesmo afirmar o óbvio como fez Isabel Jonet quando declarou: «Pior inimigo dos desempregados são as redes sociais», «as pessoas ficam dias e dias inteiros agarradas ao Facebook, a jogos e a amigos que não existem e vivem uma vida que é uma total ilusão» leva a que logo os jornais escrevam «Isabel Jonet critica desempregados que passam o tempo agarrados ao Facebook». Escassos minutos depois já as tricoteuses do twitter e do facebook, que da luta contra a pobreza e a fome nada sabem, soltam as fúrias.

Podia continuar a dar exemplos mas na verdade eles levam-nos invariavelmente ao mesmo sítio: um país em que o poder é naturalmente de esquerda e em que a não esquerda tem a função de como oposição mostrar que a esquerda é democrática. Note-se que em Portugal ninguém se diz de direita. Logo aquilo que temos é uma definição do espaço político sobrante não por aquilo que é mas sim por não ser de esquerda, atitude que per si é vista como uma espécie de pecado original. Não admira portanto que ao não se ser de esquerda imediatamente se acabe classificado como fascista, capitalista, reacionário, neo-liberal… Afinal, da inteligência à honestidade., passando pela cultura e pela solidariedade, existe uma escala que coloca essas qualidades no topo à esquerda. Quanto mais para a direita se caminha mais ignorante e insensível se é. Se por acaso tal não sucede isso é a excepção que confirma esta regra.

O problema da não esquerda em Portugal é que não tem nome, não tem discurso, não marca a agenda e lá no fundo, no dia em que as contas o permitirem, gostava mesmo era de ser socialista.





domingo, 5 de outubro de 2014


Onde já vai no Brasil o «Aborto Hortográfico»

Jabuticaba no Senado



Ana Maria Machado

Não faz muito tempo, você comprou uma torradeira e, em casa, não conseguiu ligá-la. A legislação agora exige três pitocos nos plugues dos novos aparelhos, que não servem mais nos dois buracos da tomada de sempre. Foi preciso comprar um adaptador. Uma chatice, mas mais seguro. Progresso tecnológico. É para o bem de todos, o governo sabe o que faz. Mesmo quando o novo padrão é tão original quanto jabuticaba, que só tem no Brasil. Não serve para qualquer aparelho importado que por acaso você tivesse. E tome adaptador. Você acabou chamando um eletricista e trocando todas as tomadas da parede. Ufa!

Pois aí vem nova surpresa. Você nem imagina o que o Senado anda debatendo a sério, considerando a hipótese de mudar geral. Sem ao menos reparar no ridículo da esquisitice. Se for aprovado, vira lei. Só que, desta vez, não vai haver eletricista que dê jeito. Discute-se uma reforma ortográfica brasileira. Brasileiríssima, que nem jabuticaba. Ainda que sem as delícias da fruta.

«Mas não fizeram uma reforma ainda outro dia? Para que outra?», talvez você pergunte. Vamos esclarecer. O que se fez há pouco tempo (aliás, num processo que ainda não se encerrou) foi um acordo ortográfico entre países de língua portuguesa. Não uma reforma. O objetivo foi que se escreva da mesma maneira o português falado em qualquer parte do mundo. Assim, passa-se a ter um padrão unificado em documentos internacionais que se queira redigir no idioma. E os leitores de todos os países lusófonos passam a se acostumar com a grafia única, que nos permitirá ler livros uns dos outros com menos estranheza (já bastam as do próprio vocabulário, por vezes tão diferente).

Precedido por outros acordos e protocolos em busca desse entendimento, o processo foi amplamente discutido durante 18 anos, em negociações entre filólogos e instituições responsáveis. Venceu impasses e divergências de todo tipo. Foi aprovado pelo legislativo dos países interessados. Foi assinado e promulgado pelos presidentes do Brasil e de Portugal em 2008. Entrou em vigor em janeiro de 2009, com prazo de adaptação estendido no Brasil até dezembro de 2012. Em Portugal, até 2016.

Sabe-se lá por que (ou por quem), na semana antes de terminar nosso prazo oficial, entre o Natal e o Ano Novo de 2012, a presidente Dilma resolveu prorrogá-lo. Não chegou a fazer nenhuma diferença prática. No Brasil, como já estávamos fazendo, continuamos todos usando a ortografia que segue o acordo — é como se escreve neste jornal e nos livros publicados no país e como se ensina nas escolas. Todo mundo entende. A experiência poderá, eventualmente, revelar a necessidade de pequenos ajustes. Mas não é disso que se trata agora.

A jabuticaba que está na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado é outra. É uma proposta de reforma ortográfica, para que se passe a escrever como se fala, «para simplificar e aperfeiçoar a ortografia», de modo a facilitar a alfabetização. Sem letras que não se pronunciam e sem duplicidade de grafia para o mesmo som. A justificativa populista é ajudar as crianças, ensinando-as a escrever, por exemplo, «O omen xora porqe qer caza para abitar» (sic).

Nem vale discutir os detalhes dessa ideia estapafúrdia. Questiona-se é a premissa, em nome de uma pretensa inclusão social.

Nada disso é necessário. O linguista Marcos Bagno lembra que as línguas mais faladas e escritas internacionalmente (como o inglês e o francês) têm ortografias complicadas e nem por isso deixaram de se difundir. Não precisaram de jabuticabas simplificadoras. Será que as crianças deles são mais capazes que as nossas?

O filólogo e acadêmico Evanildo Bechara insta a CE do Senado a não levar adiante a proposta de «simplificação», um equívoco talvez baseado em «amnésia ou ignorância». A professora Marília Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Linguística, encaminhou aos senadores documento em que sublinha que o que dificulta o processo de alfabetização de crianças oriundas de segmentos sociais de pouca familiaridade e contato com a língua escrita não é a ortografia. É a falta de uma experiência letradora significativa anterior e paralela ao processo escolar.

Há casos em que essa vivência falta também a muitos professores, lembro eu. Sinal de melhora: gente vinda de um ambiente iletrado está chegando à alfabetização nas últimas décadas. Algo a se celebrar. Mas também sinal de alerta: a formação de nossos professores precisa ser de melhor nível, capaz de incorporar alternativas pedagógicas mais eficientes, de corrigir eventual falta de intimidade com a cultura escrita e de compensar desigualdades de origem. Precisa capacitá-los a alfabetizar.

Tomara que o Senado consiga perceber isso. Mais clareza nas prioridades, gente. O remédio é qualidade na educação. Não é jabuticaba.


Ana Maria Machado é escritora.
Originalmente publicado no Globo em 20 de Setembro de 2014.