Pedro Afonso, médico psiquiatra
Mesmo para quem faz do estudo e tratamento da insanidade humana o seu ofício, não pode deixar de ficar perplexo e espantado com a proliferação do destempero na vida política. Segundo o escritor Juan Manuel de Prada, quando os malvados e os tontos alcançam o poder democraticamente podemos afirmar, sem qualquer dúvida, que a sociedade alcançou o grau máximo de corrupção. Considerando que em breve iremos ter um novo governo, convém fazer uma reflexão sobre os defeitos humanos na política, exortando a escolha de políticos virtuosos.
Um dos defeitos humanos na política é o excesso de amor-próprio. É arriscado permitir que um narcisista alcance o poder, já que este, sobrevalorizando as suas reais capacidades, apenas se irá preocupar com fantasias de sucesso ilimitado. Demasiado ocupado com a admiração pública das suas qualidades singulares e com as suas obras grandiosas, este perfil de governante despreza os outros, tornando-se impaciente e arrogante quando as pessoas falam dos seus próprios problemas e preocupações.
A compulsão para a mentira é outro defeito perigoso. Os homens habituados a mentir publicamente com o tempo acabam por mentir em privado, chegando ao ponto de mentirem a si próprios. É desta forma simples e eficaz que se mantêm no exercício do poder, ainda que os resultados da sua incompetência sejam inequívocos. Trata-se de um mecanismo primário de defesa: em vez da verdade dolorosa, escolhe-se a mentira consolatória.
Os distúrbios de memória, convenientemente selectivos, utilizados para fugir às responsabilidades, correspondem a outra imperfeição humana. Esta situação torna-se evidente quando o político num dia promete uma coisa e no dia seguinte, com naturalidade, faz exactamente o contrário, sem que se dê conta de tamanha incongruência. As promessas costumam ser feitas com a mesma convicção de um vendedor de banha da cobra, surgindo invariavelmente a garantia de resolver todos os problemas de uma vez para sempre com base num plano grandioso, seja ele qual for.
A imaturidade intelectual na vida adulta pode revelar-se um defeito pernicioso. Estas pessoas têm um desejo irreprimível de impor aos outros a ideia errada de que “progredir é regredir”. A crença de que somos todos profundamente carentes de direitos, e que estamos dispensados de responsabilidades, tem consequências nefastas. Desta forma fomenta-se a regressão, desvaloriza-se o esforço e promove-se o ócio; constituindo o mecanismo mais rápido para fragilizar uma economia e empobrecer um povo.
A ignorância (e a falta de consciência da mesma) revela-se uma imperfeição humana terrível na política. Tudo se complica quando se associa o desejo de fazer obra e mudar o mundo, característica que é tanto mais perigosa quando se tem parcos conhecimentos do mesmo. Quando um político ignorante, com um profundo desconhecimento da realidade, alcança o poder e tem uma ideia política o mais provável é acontecer um desastre, abrindo-se um caminho inexorável para a tirania; tendo em conta que a tirania é acima de tudo “uma ideia pessoal sobre a realidade”.
A falta de seriedade intelectual e a dissimulação têm-se tornado frequentes como estratégia de aproximação ao poder. Os aduladores, que constituem uma espécie de corte em torno do líder, representam bem este defeito humano tão antigo. Estes indivíduos, desprovidos habitualmente de qualidades que os distingam dos seus semelhantes, fazem juras de fidelidade eterna a quem está no governo. Mas tudo isto é falso, já que estes nómadas da subserviência serão os primeiros a abandonar o líder mal ele caia em desgraça.
Evite-se, pois, escolher políticos com excesso de amor-próprio, mentirosos, sem palavra, imaturos, ignorantes e aduladores, uma vez que foram estes defeitos humanos que atormentaram os nossos antepassados e que tantas vezes levaram a catástrofes políticas, sociais e económicas.