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Angola : influência «crescente» em Portugal |
Os
angolanos são os investidores estrangeiros com maior peso no PSI-20. O conjunto
das suas posições vale cerca de 2,8 mil milhões de euros, valor que oscila em
função da volatilidade das acções. A sua influência, contudo, está longe de se
esgotar na bolsa. O poder angolano tece-se em várias teias.
A
António
Mosquito e Álvaro
Sobrinho. O primeiro tornou-se mediático em Portugal por ser dado como
putativo comprador da Controlinveste, empresa que detém, entre outros, o «DN»,
a «TSF» e o «JN» e «O Jogo». Enquanto esta operação se mantém num impasse,
Mosquito vai concretizar a compra de 66,7% do capital da Soares da Costa por 70
milhões de euros. O empresário tem 12% do Banco Caixa Geral Totta e em Angola
está em áreas como o imobiliário, o automóvel e o petróleo. Representa as
marcas Audi e VW e um dos seus maiores clientes é o Estado angolano. Em Angola
há quem o elogie e quem o questione, dizendo que não se lhe conhecesse um
negócio que funcione. Já Álvaro Sobrinho, o rosto da família Madaleno (directa
ou indirectamente através da Newshold), é dono do jornal «Sol», tem um contrato
de gestão do «I», 15% da Cofina (proprietária do Negócios), 1% da Impresa («Expresso
e SIC») e 23,5% da SAD do Sporting. A Newshold comprou também 80% da Cofaco,
uma empresa conserveira que tem marcas como o Bom Petisco. Sobrinho foi
presidente executivo e não executivo do Banco Espírito Santo de Angola, de onde
saiu em conflito nunca assumido publicamente com o BES.
B
Banca. Os angolanos têm interesses fortes na
banca nacional. Assim, Isabel dos Santos controla 19,5 % do capital do BPI e
25% do BIC Português e BIC Angola, dois bancos que têm uma estrutura accionista
similar. O BIC Português é liderado por Mira Amaral, o BIC Angola por Fernando
Teles. Américo Amorim também tem 25% destes dois bancos. O BIC comprou o BPN ao
Estado português no final de 2011 por 40 milhões de euros. Já o general Manuel
Hélder Vieira Dias (Kopelipa) detém 10,19% do banco BIG. O maior destaque vai
para o BCP, onda a Sonangol é a maior accionista (19,5%) e outra empresa
angolana, a Interoceânico, possui 2,6% do capital, alinhando posições com os
brasileiros da Camargo Côrrea.
C
Carlos
Silva. É
o rosto da Interoceânico e presidente do angolano Banco Privado Atlântico
(BPA). É também vice-presidente do BCP e tido como próximo de Manuel Vicente,
actual vice-presidente da República de Angola. Está também ligado à Mota-Engil
Angola, através de duas empresas, a Globalpactum e a Finicapital (empresas
associadas da Sonangol e do BPA) Quando foi apresentada em Portugal, em
Fevereiro de 2011, a Interoceânico anunciou ter 75 milhões de euros para
investir em sectores como o financeiro, agro-indústria e a energia. A Interoceânico,
através da Finicapital, teve uma parceria com a Impresa em Angola através da
qual nasceu a revista «Rumo». A publicação fechou em Janeiro de 2013, numa
altura em que o semanário «Expresso» vinha noticiando investigações da justiça
portuguesa a altura figuras de Angola.
D
Daniel
Proença de Carvalho. O
advogado é presidente não executivo da Zon, cujo maior accionista é Isabel dos
Santos. Proença de Carvalho foi também um dos advogados que tratou da
restituição de 150 milhões de dólares que Angola havia transferido para um
advogado para comprar 49% do Banif. O caso iniciou-se em 1994, mas o Estado
angolano só se considerou ressarcido em 2010. É também um dos accionistas da
Interoceânico. O advogado é igualmente presidente não executivo da Cimpor, dominada
pela Camargo Corrêa, aliada da Interoceânico no BCP.
E
Escom. Empresa que o Grupo Espírito Santo acordou
vender à Sonangol. O desfecho desta operação, acordada em 2010, tem-se
arrastado. Pelo caminho a empresa viu-se sob investigação do DCIAP por causa do
dinheiro envolvido na transacção. Entretanto, três gestores terão também sido
constituídos arguidos no chamado caso dos submarinos. A polémica em torno da
Escom faz também parte de uma «guerra» entre duas facções do poder angolano.
F
Filipe
Vilaça Barreiros. É
uma figura discreta que representa o general Kopelipa nos muitos negócios que
este tem em Portugal, da banca aos vinhos, através da empresa World Wide
Capital. É um apaixonado pelo desporto automóvel e costuma disputar provas ao
volante de um Ferrari.
G
Galp. Tem dado bons dividendos mas é uma pedra
no sapato dos investidores angolanos, Sonangol e Isabel dos Santos, que detêm
indirectamente 15% da petrolífera portuguesa, a partir da posição de 45% que
possuem na Amorim Energia. Esta «holding», controlada a 55% por Américo Amorim,
tem uma posição de 33,34% da Galp. Os angolanos sempre quiseram ter uma
participação mais activa na gestão da Galp, mas Amorim tem-se constituído como
um obstáculo a esta pretensão. Este é um dos motivos do seu mau relacionamento
com Isabel dos Santos.
H
Higino
Carneiro. Discreto,
influente e muito rico. São-lhe atribuídos investimentos em Portugal nas áreas
da hotelaria e restauração. Já foi ministro das Obras Públicas de Angola. É
actualmente governador da província do Kuando Kubango. Terá perdido influência
política.
I
Isabel
dos Santos. É
a empresa com investimentos mais elevados e notórios em Portugal. Concretizou
agora a fusão da Zon com a Optimus, é accionista do BPI, do BIC e da Galp e a «Forbes»
classificou-a como a primeira multimilionária africana. Além do casamento com a
Optimus tem um acordo com a Sonae para implantar a cadeia de hipermercados
Continente em Angola. O facto de ser filha do presidente da República, José
Eduardo dos Santos, coloca-a sob constante escrutínio. Os seus defensores
realçam os seus méritos como empresária e as suas apostas acertadas. Os seus
críticos dizem que só chegou a este nível por ser filha de quem é.
J
José
Eduardo dos Santos. É
presidente de Angola desde 1979 e esta sua longevidade na liderança, a maior em
África, diz praticamente tudo sobre o seu poder. Tem conhecimento, directo ou
indirecto, de todos os investimentos em Portugal e tem sido, no interior do
MPLA, um dos defensores da aproximação entre os dois países. O relacionamento a
nível governativo melhorou significativamente a partir da chegada de José
Sócrates a primeiro-ministro. O grande receio reside em saber se após a saída
de Eduardo dos Santos, Angola conseguirá manter a sua estabilidade social e
política.
K
Kopelipa. Nome pelo qual é conhecido o general
Manuel Hélder Vieira Dias. Ministro de Estado e chefe da Casa Militar de José
Eduardo dos Santos. A seguir ao presidente, será provavelmente a segunda figura
mais poderosa em Angola. Em Portugal tem investimentos pessoais em imobiliário,
avaliados em mais de 10 milhões de euros, quintas no Douro, e uma participação
de 10,19% no banco BIG. Kopelipa é o homem em que José Eduardo dos Santos tem
total confiança. E isto basta para ilustrar a sua influência.
L
Lopo
do Nascimento. Foi
primeiro-ministro, ministro e secretário-geral do comité central do MPLA. No
início da primeira década do século XXI houve quem olhasse para ele como um
figura credível que poderia congregar as elites descontentes com o Governo do
país. Hoje é deputado eleito pelo MPLA. Em 2010 integrou um consórcio que
adquiriu 49% da Coba, uma empresa portuguesa de consultoria em engenharia civil
e ambiental. É actualmente presidente do conselho geral e de supervisão desta
empresa.
M
Mário
Leite da Silva. Discreto.
O economista que Isabel dos Santos foi resgatar aos quadros de Américo Amorim é
o número dois da empresária angolana e uma pessoa da sua máxima confiança.
Está, por exemplo, nas administrações da Zon, BPI e De Grisogono, uma empresa
suíça de jóias e relógios que Isabel dos Santos comprou.
N
Noé
Baltazar. Ex-presidente
da Endiama e que manteve negócios no sector dos diamantes. É muito próximo de
José Eduardo dos Santos e um dos muitos ilustres angolanos que comprou um
apartamento no Estoril Sol Residence. A «Maka Angola» baptizou-o de «prédio dos
angolanos». Lá têm casa, entre outros, José Pedro Morais (ex-ministro das
Finanças), António Domingos Pitra Neto (actual ministro da Administração
Pública), Álvaro Sobrinho (Newshold) e Teresa Giovetty, mulher do general
Kopelipa.
O
Oloeoga. Empresa que se dedica à produção de azeite
e que tem como accionista Monteiro Pinto Kapunga, deputado do MPLA eleito pelo
círculo de Malanje. Em 2008 juntou-se ao elvense João Garção e investiram dois
milhões de euros num lagar de azeite.
P
Paulo
Azevedo. O
seu pai, Belmiro de Azevedo, tinha dúvidas em relação a Angola. Paulo, se as
tem, não as mostra. Aliou-se a Isabel dos Santos para fundir a sua empresa de
telecomunicações, a Optimus, com a Zon, e também acordou com a empresária a
instalação de hipermercados Continente em Angola. Isabel dos Santos criou a
empresa Condis que terá uma participação de 51% neste projecto, ficando a Sonae
com uma posição minoritária.
Q
Quintas. Quinta da
Marinha, Quinta do Lago ou Quinta da Beloura. São três exemplos de
empreendimentos imobiliários de luxo onde a elite angolana tem casa. Estes
investimentos revelam o seu poder financeiro, mas são também um porto seguro
caso a situação social e política em Angola se deteriore, em resultado do
processo de sucessão de José Eduardo dos Santos.
R
Rafael
Marques de Morais. O
jornalista e líder do site Maka Angola é porventura o crítico do regime com
maior notoriedade. Recentemente foi co-autor de um artigo publicado pela «Forbes»
que atribui o enriquecimento de Isabel dos Santos a favores do pai. É autor do
livro «Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola» e alvo de processos
movidos por generais angolanos. A sua exposição mediática irrita solenemente a
nomenclatura angolana.
S
Sindika
Dokolo. Marido
de Isabel dos Santos. É membro da administração da Amorim Energia. Possui a
mais importante colecção de arte africana contemporânea, com cerca de três mil
obras. É cada vez mais influente no círculo restrito de José Eduardo dos
Santos.
T
Tobis. A empresa portuguesa produtora de cinema
foi comprada por investidores angolanos em 2012, os quais pagaram ao Estado
português sete milhões de euros. A Tobis foi adquirida pela Filmdrehtsich ,
detida a 100% por uma sociedade com sede em Angola, a Berkeley Gestão e
Serviços, cujos accionistas se desconhecem. Em 2007, Pepetela, um dos mais
aclamados escritores angolanos, havia publicado um livro intitulado «O
Terrorista de Berkeley, Califórnia». A participação da Berkely foi
posteriormente comprada pela Elokuva, também angolana. A Filmdrehtsich tem como
gerente Maria Pereira Vinagre.
U
Unitel. É a principal empresa de telecomunicações
de Angola. Isabel dos Santos é accionista de referência e a PT tem uma participação
de 25%. Com a fusão Zon/Optimus esta aliança será certamente reavaliada. O
processo de separação terá tanto de natural como de demorado.
V
Viauto. Empresa de comércio automóvel que Manuel
Hélder Vieira Dias «Júnior», filho de Kopelipa, comprou em 2012 à Santogal, do
Grupo Espírito Santo. Representa em Portugal as marcas de luxo Ferrari e
Maserati.
W
Welwitschia. Nome de baptismo de Tchizé dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos. Em
2012 comprou 30% da Central de Frutas do Painho, através da empresa Goodness
Country. Esta empresa é uma organização de produtores de pêra rocha do Cadaval, região de onde é originário o seu marido, Hugo
Pêgo.
X
Xadrez. A maior parte dos investimentos angolanos
são feitos através de várias empresas que partilham accionistas. Um autêntico
jogo.
Y
Yuan. Moeda simboliza as relações fortes entre a
China e Angola, dois países que têm um peso determinante no PSI-20: a China
através da EDP, Angola com posições diversas.
Z
Zon. Isabel dos Santos tornou-se accionista
maioritária da empresa e depois lançou-se no processo de fusão da empresa com a
Optimus. A Zon é uma das estrelas cintilantes na constelação dos seus
interesses no sector das telecomunicações.