Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios
A Telefónica vai comprar a Vivo, a bazófia nacionalista era só para sacar mais 800 milhões. Os accionistas da PT já esfregam dentro dos seus bolsos vazios as mãos, ensanguentadas da amputação que predisseram. Como dizem as mulheres, os homens são todos iguais: era só dinheiro.
Esta é a altura em que Portugal tem vergonha dos seus capitalistas. Não pelo negócio, que é excelente. Mas porque usaram o nome do País em proveito próprio. Tanto arrebatamento caiu por apenas mais 14%. Talhando a PT. E Sócrates? Sócrates já não manda aqui. Foi a Espanha defender o que nem os donos da PT defenderam. Ou foi traído ou atraído, mas deixou de ser o último a falar. Até o presidente da CGD lhe passou por cima.
O negócio não foi decidido nem em São Bento nem no Fórum Picoas. Foi na Avenida da Liberdade, 195. É essa a morada dos centros de decisão nacionais. Foi o BES que aceitou negociar a oferta.
"Como tudo na vida, a Vivo tem um preço." Quando Ricardo Salgado me disse esta frase, há uma semana em Nova Iorque, ficou claro qual seria o desfecho. E é por ter dito esta frase que o presidente do BES é uma das duas pessoas que não podem ser acusadas de contorcionismo. A outra é Henrique Granadeiro, pelo que não disse. Preservou-se no silêncio, deixou o jogo sujo para outros, vai falar no fim e ileso.
Daqui para a frente, todos quererão sair bem na fotografia. Os administradores dirão que não estão a favor, que apenas cabe aos accionistas decidir, o que é uma dissimulação. E dirão que venderam bem (o que é verdade) e que há alternativa a não sair do Brasil, a Oi. Isso salva a face deles mas não salva a PT. A Oi não vale uma Vivo.
A Telefónica é a grande vencedora deste processo. Com o raspanete da Brandes, deu um passo atrás para dar depois dois passos à frente - e no segundo pisou quem se armou em orgulhoso português. Parabéns, señor Alierta. Conhece os accionistas da PT melhor do que os portugueses.
Para onde vai o dinheiro? Essa é agora a questão. Para reinvestir, garantindo futuro? Para distribuir em dividendos extraordinários, entregando o dinheiro aos accionistas? Ou para amortizar a dívida, pagando o peso do passado?
São 6,5 mil milhões de euros. A administração quererá investir, muitos accionistas precisam do dinheiro. Uns estão hipotecados (Ongoing, Joaquim Oliveira, Visabeira, até Berardo ainda lá anda), outros são os donos das hipotecas (BES e Caixa) e estão, eles próprios, sem financiamento. A história pode, pois, estar escrita: são Sarahs Ferguson à volta do pote.
O pote é a PT, que está a ser aniquilada. Os seus donos têm todo o direito a fazê-lo, mas não têm o direito dos discursos de "golden shares" e de centros de decisão nacional. Como se diz no Brasil, "para cima de mim não".
A oferta da Telefónica foi, de facto, oportunística. E os donos da PT aproveitaram a oportunidade. Estes accionistas não mereceram, afinal, vencer a OPA. Foi para isto?
Granadeiro e Zeinal deram a PT Multimédia e distribuíram seis mil milhões de euros em dividendos por causa da OPA. Além disso, venderam os anéis. Venderam Marrocos, Botswana, China, e agora o Brasil. O que compraram? Nada. Afinal não foi a Sonae que desmantelou a PT, foi quem lá ficou. Que rica Vivo.
PS: A venda da Vivo estava escrita. Até nos jornais. Não por iluminação, mas porque era fácil interpretar as evidências. Mesmo aquelas que eram desmentidas pelos accionistas...
- A 12 de Maio, aqui escrevi: "Está para nascer a OPA que não dependa do preço. (...) Não tardará muito até vermos se, como quase sempre, o discurso dos Centro de Decisão é apenas uma questão de preço."
- A 25 de Maio: "É provável que a Telefónica dê um segundo "abraço de urso", mais forte, subindo a oferta de 5,7 mil milhões (...). Nesse caso, a administração terá de aceitar ir a jogo, propondo o negócio aos seus accionistas em assembleia-geral. (...) O dinheiro que a Telefónica pode oferecer tilinta demasiado alto para que todos os accionistas estrangeiros da PT continuem a dizer que não."
- A 27 de Maio: A Telefónica "não pode falhar. Vai ter de dar tudo por tudo - e tudo é dinheiro e contrapartidas. (...) Venha o próximo lance. Isto não foi lá a mal, mas pode ir lá a bem.".
- A 31 de Maio: A Telefónica "é demasiado grande e maior para perder a Vivo, se de facto a quer - e quer. (...) A PT não luta para ganhar, luta para não perder."