quinta-feira, 24 de novembro de 2016


O pessimismo explicado

aos leitores de esquerda


João Miguel Tavares, Público, 22 de Novembro de 2016


Sais de fruto. Pastilhas Rennie. Comprimidos Omeprazol. Não se consegue escrever um texto a criticar o Governo de António Costa e a situação do país sem receber em troca uma receita médica, diligentemente prescrita pelos leitores de esquerda. O estado de saúde de quem votou no PSD ou no CDS inspira-lhes mais cuidados do que o estado do país: todo o nosso pessimismo é justificado por razões de azia e descontrolo dos sucos gástricos, devido à substituição do Governo de Pedro Passos Coelho pelo Governo de António Costa. É a homeopatia aplicada ao debate político — se diluirmos o pessimismo, o optimismo floresce, e Portugal voltará a convergir com a Europa.

Numa coisa, pelo menos, os leitores de esquerda têm razão: esta visão do estado do país e dos desafios que ele enfrenta é de tal forma alucinada que nem litro e meio de sais de fruto refreia a indigestão. Imagine, caro leitor, que você está endividado até ao pescoço. O seu ordenado cresce 1,5% ao ano (vamos ser optimistas), tem uma dívida gigantesca a crescer ao ritmo do seu ordenado, e paga ao banco juros anuais de 3,5%.

Diga-me, caro leitor: com o correr dos meses e dos anos, parece-lhe que a sua situação irá piorar ou melhorar? Eu diria (já digo há muito tempo) que não é uma questão de esquerda ou de direita, mas de matemática. Só que em Portugal há um número espantoso de pessoas que pensa da seguinte forma: a situação iria piorar, se fosse Pedro Passos Coelho que estivesse no governo, mas, estando lá António Costa, a situação vai com certeza melhorar. Não há matemática que perturbe o realismo mágico-ideológico da esquerda nacional.

Ao contrário do que se possa pensar, não sou um espectacular fã da anterior coligação PSD-CDS. Acho que se perdeu uma oportunidade para reformar mais profundamente o país. Acho que a explicação daquilo que se fez foi uma desgraça. Acho que Pedro Passos Coelho ficou preso a um chavão no Governo — «ir além da troika» —, como voltou a ficar preso a um chavão na oposição — «Vem aí o diabo» —, o que significa que, nesse aspecto, aprendeu muito pouco. Mas reconheço o seu esforço e coragem em várias áreas, e a capacidade para diminuir o défice de 11,2% em 2011 para 3% em 2015 (sem Banif, que foi já uma decisão de António Costa).

Ora, quando comparamos a indiferença generalizada perante a redução do défice em 8,2 pontos percentuais em quatro anos (média: 2,05%/ano) com o entusiasmo que uma possível redução de 0,5 pontos percentuais em 2016 está a provocar, percebemos que onde Costa arrasa Passos Coelho não é na capacidade de governar, mas sim na capacidade de se autopromover. Costa vende-se muito bem a gente cheia de vontade de o comprar, porque está farta do discurso dos sacrifícios e da tanga.

Só que, infelizmente para Portugal, o país não se reforma com excelente comunicação, e a tanga e os sacrifícios são realidades incontornáveis no estado em que nos encontramos. É claro que António Costa fez pela sorte, com uma solução de governo inesperada que se tem mostrado resiliente, e que a sorte não o tem abandonado — enquanto o BCE continuar a comprar dívida, há esperança para ele. Mas a economia não muda, os problemas estruturais não desaparecem, as regras da matemática não se alteram só porque Costa passeia a sua calma de monge budista pelas televisões. Lamento: quem for minimamente lúcido só pode estar pessimista em relação ao futuro do país. Por muita pastilha Rennie que meta no bucho.





quarta-feira, 23 de novembro de 2016


As sucessivas derrotas políticas

de Bergoglio exprimem claramente

a sua fraca influência moral no mundo




FratresInUnum

Bergoglio perdeu no plebiscito que excluiu da política da Colômbia os criminosos das FARC.

Bergoglio perdeu na Hungria, que continuou com a política restritiva aos imigrantes islâmicos, protegidos dele.

Bergoglio perdeu na Argentina, que derrotou Kirchner, beijada e paparicada por ele.

Bergoglio perdeu no Brasil, com o impeachment da Dilma, momento triste para ele, que causou o tristíssimo cancelamento da viagem dele.

E Bergoglio perdeu nos Estados Unidos, onde acaba de ser eleito Trump, que ele, fora das suas atribuições e imprudentemente, atacou.

Na entrevista do vôo de regresso da América, Bergoglio declarou sobre Trump:

«Uma pessoa que pensa em construir muros, quem quer que seja, não é cristão. Este não é o Evangelho», disse Bergoglio aludindo às declarações do candidato à presidência dos EUA que planeia construir 2 500 km de muro ao longo da fronteira entre os EUA e o México e deportar 10 milhões de imigrantes ilegais.

Os católicos americanos devem votar nele? «Eu não me meto, apenas digo que este homem não é cristão, se ele diz essas coisas. É preciso ver se ele disse isso ou não. Sobre isso dou-lhe o benefício da dúvida.»

Por sua vez, Trump não o deixou sem resposta:

«O Papa é uma figura muito política. Para um líder religioso, pôr em dúvida a fé de uma pessoa é vergonhoso. Eu sou orgulhoso de ser cristão e como Presidente não vou permitir que a Cristandade continue a ser constantemente atacada e enfraquecida, como está acontecendo com o actual Presidente norte-americano».

E na sua página do Facebook, Donald Trump respondeu assim a Bergoglio:

«Se e quando o Vaticano for atacado pelo ISIS, que, como todos sabem, é o troféu mais cobiçado pelo ISIS, eu posso assegurar-lhes que o Papa teria desejado e rezado para que Donald Trump fosse o Presidente, porque comigo isso não teria acontecido. O ISIS já teria sido erradicado, ao contrário do que está a acontecer agora com os nossos políticos, que são tudo conversa e nada de acção».

Fazendo bem as contas...

Pois bem, vê-se que a influência de Bergoglio sobre o mundo é mínima, ao contrário do que pretendem os progressistas, cuja insistência em propagandeá-la apenas revela a sua real irrelevância moral. Um verdadeiro Papa, com autoridade moral, fala por si mesmo, não precisa dessa corte de propagandistas maçónicos. A simpatia que o povo tem por Bergoglio é apenas pela sua figura, pelo personagem apresentado como humilde e simpático. No entanto, sobre o que vai pelo mundo Bergoglio diz o contrário do que dele se esperaria.

Bergoglio anda ao contrário do povo, ao contrário da realidade. Que os bispos acordem. Se eles continuarem pelo mesmo caminho, deixarão a Igreja como apêndice da história, e eles mesmos se tornarão cada dia mais inócuos, distantes dos fiéis e emudecidos pela vida.





Triunfo de Trump: luzes e sombras


Republicanos comemoram a vitória de Donald Trump

Credo Chile, 14 de Novembro de 2016

O que triunfou nos Estados Unidos foi claramente uma reacção conservadora, desgostosa com os rumos que norteiam a política norte-americana nos últimos anos.

As consequências das eleições norte-americanas podem de tal modo significar uma grande reviravolta na situação do mundo, que seria completamente sem sentido uma «análise da semana» que não se referisse ao triunfo de Trump.

Abordamos a questão do ponto de vista estritamente apolítico e dos interesses da civilização cristã, que são as perspectivas do Credo Chile.

O que triunfou nos Estados Unidos foi claramente uma reacção conservadora, desgostosa com os rumos que norteiam a política norte-americana nos últimos anos. E o que nela houve de substancial confirma-se no amplo apoio obtido pelos candidatos republicanos em ambas as Câmaras.

Tudo isso indica uma recusa da opinião pública norte-americana àquela corrente de pensamento predominante entre os democratas, conhecida como «politicamente correcta», isto é, ao establishment.

Não obstante essa reacção anti-establishment seja profundamente saudável, ela não deixa ao mesmo tempo de projectar algumas sombras inquietantes.

Vejamos sumariamente ambas as perspectivas que se abrem com a nova presidência de Trump.

O saudável dessa reacção é tão evidente, que salta à vista. Se havia uma candidata «politicamente correcta», esta era Hillary Clinton. Ela representava todas as «conquistas sociais», a liberdade completa em matéria de costumes morais, aborto, uniões homossexuais, identidade de género etc. De onde a sua profunda hostilidade à religião, em especial à católica, e a tudo que fosse conservador.

Nem precisa dizer que, a julgar pela fisionomia do casal Clinton,
trata-se da foto do momento em que Hillary reconheceu
a sua derrota nas recentes eleições
A derrota eleitoral desse paradigma não pode deixar de ser vista com enorme alívio, e com simpatia e esperança o triunfo do candidato opositor.

Com o triunfo dos conservadores na pessoa de Trump surge sem embargo uma preocupação, cuja importância internacional não havia tido até aqui todo o seu destaque. É que, juntamente com os aspectos «conservadores» daqueles que sustentam posições «politicamente correctas» — como a defesa das identidades nacionais, da família, da religião etc. —, projectam-se algumas dúvidas, consistentes em saber até onde chegará o «incorrecto», ou, mais precisamente, quem guiará a «incorrecção» dessas políticas.

Um exemplo nos permitirá aquilatar essa preocupação. O actual presidente da Rússia.

Como se sabe, a propaganda russa apresenta um Putin [foto] que estaria liderando há vários anos uma política interior no bom sentido do «incorrecto».  Na última semana, por exemplo, inaugurou uma enorme estátua de 25 metros de altura, de São Wladimir (o seu próprio nome…), o fundador da Rússia cristã.

No entanto, simultaneamente, quase como outro braço do mesmo corpo, está promovendo a expansão das suas fronteiras à custa dos países libertados do jugo da ex-URSS, e ameaça aumentar ainda mais a dita expansão.

Faz parte da sua posição não excluir nem condenar os períodos de Lénin e de Stalin, e menos ainda a influência ideológica e territorial da ex-URSS sobre o mundo inteiro. Esses tentáculos russos ex-soviéticos celebraram nas últimas semanas acordos com a Venezuela de Maduro e a ditadura de Ortega na Nicarágua, não obstante, ou precisamente por isso, ambos não esconderem a sua filiação marxista.

Ou seja, as simpatias despertadas por Putin pela propaganda que o apresenta como favorável à família e contra o aborto (apesar de nada ter feito de substancial nesse sentido) diluem-se quando vistas sob o prisma do seu ânimo expansionista e favorável à época soviética.

No caso do Presidente eleito Trump, inquietam as suas declarações destemperadas como candidato; as suas promessas isolacionistas; a sua intenção de deixar a OTAN e a Coreia do Sul cuidarem das suas próprias defesas; os apoios internacionais suscitados numa vasta rede de partidos «populistas» em crescimento na Europa; a falta de referências morais e religiosas desses populismos; os vínculos com a Rússia de Putin; as diferentes  posições  assumidas ao longo da sua carreira etc. Todo esse conjunto de factores não pode deixar de projectar uma  pesada sombra no porvir.

Resumamos o dilema

Quando o «politicamente incorrecto» constitui a oposição e a parte débil do panorama, as suas posições em geral são boas, pois definem-se como contrárias a todo o mal do «politicamente correcto». Mas como se comportará essa política «incorrecta» quando passa a ser governo e representa a parte forte? Se ela se deixar levar somente pelos caprichos do «populismo», o futuro não será tão promissor, pois dos temores populistas puderam sair o nazismo, o socialismo, o peronismo, e muitos outros «ismos» de nefastas consequências para a civilização cristã.

Ainda é cedo para dizer se essas sombras darão origem a chuvas benéficas ou a tempestades devastadoras. Mas seria ingénuo abster-se de levantar o problema e somente festejar, fechando os olhos para os aspectos sombrios do panorama.

Não podemos concluir estas linhas sem manifestar as nossas esperanças de que os sectores pró-família e anti-aborto, que se manifestaram com tanta clareza nessas eleições, consigam dirigir essa poderosa nação pelos rumos que a fizeram autêntica, cristã e forte.