João José Brandão Ferreira
Se nenhuma razão assistia aos espanhóis (na altura aliados aos franceses), para nos atacarem então (uma das 18 vezes que o fizeram no território europeu), nenhuma razão lhes assiste até hoje em a reterem, por via da contestação, logo iniciada em 1807, pela Coroa Portuguesa, e pela decisão do Congresso de Viena, de 1815, que manda devolver a praça.
Vicissitudes históricas e fraquezas nacionais várias, têm feito com que o governo de Madrid continue a fazer tábua rasa das razões do Direito e da decência das relações entre os povos, e continue a reter e usufruir do esbulho de Olivença e seu termo, ou seja 461,5 Km2 de território português, que o era desde o Tratado de Alcanises, de 12 de Setembro de 1297.
E sem vergonha o faz, pois internacionalmente continua a defender a recuperação de Gibraltar onde poucos direitos lhe assistem e a querer manter Ceuta e Melilla, numa contradição gritante com o que intenta sobre Olivença.
Penso que isto consegue ser perceptível aos políticos de Belém à Gomes Teixeira, passando por S. Bento, mesmo aos mais distraídos e ignorantes. Por maioria de razão se podem apontar os experientes diplomatas com quartel-general nas Necessidades.
Quanto mais não fosse esta posição política e diplomaticamente vulnerável da Moncloa e da Zarzuela, poderia servir para que o governo português pudesse intentar outros passos, que não apenas o da tradicional posição de não reconhecer juridicamente a ocupação, manter o pedaço da fronteira interrompida nas cartas militares e, até ver, não querer reconstruir a ponte da Ajuda que liga as duas margens do Guadiana, na zona em litígio. E note-se que tal se passa, depois de ambos os governos se declararem “democráticos” terem aderido à CEE, em simultâneo, pertencerem à mesma organização internacional de defesa comum (a NATO) e declararem um pelo outro as maiores provas de amizade e estima. Encontram-se, até, semestralmente, para discutirem os assuntos, de interesse comum, em cimeiras que as autoridades nacionais, imprudentemente deixam chamar de “ibéricas”, em vez do correcto “luso-espanholas”. E insistem no erro.
Ora entre “amigos”, não existem questões que não possam ser abordadas. E, enquanto não se chegar a uma fase de negociação, assiste-nos o direito de reaver o território em falta, por todos os meios, incluindo a força. Está na Constituição.
Passando-se as coisas assim, um grupo de portugueses transversalmente percorridos por todas as cores políticas, religiosas e sociais, decidiram constituir uma Associação Patriótica, em 1938, que denominaram “Grupo dos Amigos de Olivença” (GAO), a fim de lutarem pelo retrocesso do território e não deixar cair esta grave ofensa no olvido. Essa acção não sofreu até hoje, qualquer solução de continuidade.
E foi neste âmbito que o GAO promoveu uma petição pública, em 2000, reunindo 5049 assinaturas para que a questão de Olivença fosse debatida no Parlamento.
Esta petição foi discutida em 2004, na Assembleia da República dando origem a um processo. Como, entretanto, nada se passasse, o GAO enviou uma carta aos diferentes grupos parlamentares, solicitando uma audiência, a fim de ouvir os deputados sobre o andamento do processo.
Apenas o PCP respondeu, sendo uma delegação do grupo recebido pelo deputado José Soeiro. Este sugeriu que o GAO entrasse em contacto directo com a Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas (CNECP). Assim foi feito.
A 8 de Julho de 2010, no seguimento de contacto prévio, uma delegação do GAO foi recebida pelo presidente do CNECP, Dr. Ribeiro e Castro, que informou da nulidade da petição, colocou algumas questões sobre a realidade oliventina e se mostrou curioso sobre a Associação Além – Guadiana.
Seguiu-se uma segunda reunião a 6 de Outubro.
Finalmente a CNECP convocou o GAO para um derradeiro encontro que ocorreu a 21 de Outubro, em que se informou ter o MNE sido recebido na Comissão e ter reiterado a posição clássica do estado português.
De tudo podemos concluir que o tema é considerado como sendo hipersensível, por todas as forças políticas e órgãos do Estado e que ninguém quer tocar no “status quo”. Foi ainda proposto que se atribuísse a dupla nacionalidade aos Oliventinos que o desejassem.
Uma palavra para a Associação Além-Guadiana.
Em 2007 o GAO recebeu uma carta directamente enviada pelo governo espanhol e assinada pelo primeiro-ministro Sr. Zapatero. É verdade, isto aconteceu. Do facto foi dado conhecimento a quem de direito.
Nesta missiva o governante espanhol mostrava-se aberto a todos os contactos e iniciativas de âmbito cultural e social. Obviamente não tocava no aspecto político e de soberania.
Ainda hoje não se entende muito bem o objectivo desta carta.
Passado uns tempos – e sem estar a querer relacionar uma coisa com outra – foi fundada a Associação Além-Guadiana, em Olivença, que se tem mostrado muito activa e cujos desígnios são o de preservar a herança cultural portuguesa naquelas terras. Existem contactos entre esta associação e o GAO, até agora amigáveis e frutuosos.
A questão de Olivença está por resolver e justificam-se iniciativas políticas para lhe dar uma solução consentânea com o Direito Internacional, a Justiça e o bem comum das partes. E o facto de ter havido colonialismo forçado, de “nuestros hermanos” sobre o território e suas gentes não lhes outorga direito algum. Incoerência até, com o facto de não aceitarem o resultado de qualquer referendo em Gibraltar!
Mas para que os órgãos políticos portugueses se mexessem, é fundamental que a opinião pública nacional, acorde da sua letargia e ultrapasse a sua ignorância e desleixo para com este tema.
Até para ser coerente, por exemplo, com as atitudes que teve para com a causa timorense num passado muito recente.