Cláudia Sebastião
«Já sabem se é menino ou menina?», é a pergunta mais ouvida por casais à
espera de bebé. O enxoval, o nome e o quarto do bebé são preparados a partir
daí. Mais tarde, começarão as perguntas sobre as diferenças entre meninas e
meninos. Agora imagine que não respondia ou que dizia: «Teres pipi não
significa que sejas menina. Podes decidir mais tarde.»
Diogo Costa Gonçalves é professor auxiliar da
Faculdade de Direito de Lisboa. Em 2003, foi consultor da Conferência Episcopal
para uma carta pastoral sobre a ideologia de género. À FAMÍLIA CRISTÃ faz
questão de dizer que o termo não significa igualdade de direitos entre homens e
mulheres. Então o que é?
Diogo Costa Gonçalves explica tratar-se de uma
estrutura de pensamento antropológica cuja característica fundamental é
«entender a masculinidade e a feminilidade como produtos puramente culturais,
sendo absolutamente indiferente a realidade genital ou cromossomática com que
as pessoas nascem; defende que a identidade sexual é produzida por um contexto cultural
patriarcal e machista que visa subjugar a mulher». Ou seja, ninguém nasce homem
ou mulher, torna-se homem ou mulher pela educação e pela cultura. Assim, o
objectivo da ideologia de género é ter uma sociedade sem sexos.
Para isso, desde os primeiros anos é preciso
promover a troca de papéis e eliminar as diferenças de comportamento entre
meninas e meninos. Maria José Vilaça é psicóloga e afirma que nesta ideologia
«tudo aquilo que eu sou passa a ser determinado pela minha preferência sexual e
não pelo meu corpo. Há uma espécie de divisão entre aquilo que eu sou e aquilo
que o meu corpo é.»
Em Portugal, Diogo Costa Gonçalves explica que o
primeiro passo da ideologia de género foi dado na lei do divórcio sem culpa. Ou
melhor, numa das epígrafes do registo civil. «O que era ‘poder paternal’ passou
a chamar-se ‘poder parental’. Foi uma manipulação de linguagem importante
porque o termo ‘paternidade’ está muito relacionado com a geração biológica.
Era preciso desconstruir socialmente a figura do pai e da mãe.»
«Ideologia de género já está nas escolas»
A Comunidade de Madrid aprovou a Lei contra a
LBGT fobia que obriga a integrar a realidade homossexual, bissexual,
transexual, transgénero e intersexual nos conteúdos escolares transversais de
todas as escolas madrilenas, públicas e privadas.
Diogo Costa Gonçalves tem sete filhos e diz que
isso já está a acontecer em Portugal. «A ideologia de género está cá. Os
programas de educação sexual são em bom rigor de ideologia de género em todos
os graus de ensino. Promove-se a confusão da identidade sexual. Isto é, tenho
de descobrir se sou mesmo heterossexual ou não e diz-se que a família é uma
construção cultural tão válida como qualquer outra relação.»
Maria José Vilaça concorda e fala da sua
experiência: «Hoje, nas escolas, falo com miúdos de 16 ou 17 anos que não
tiveram uma namorada e a primeira ideia que têm é: ‘Será que eu sou homossexual
ou bissexual?’ Já não lhes passa pela cabeça serem heterossexuais.»
Escolas de Madrid ensinam ideologia de género
Manuel Martínez-Sellés é médico cardiologista em
Madrid. Vê a aprovação da lei LGBT «com enorme preocupação». Como investigador,
afirma que «a ideologia de género está em total contradição com o conhecimento
da ciência sobre a biologia e a realidade física. Infelizmente, esta ideologia
já está a transformar escolas em fábricas de crianças sem sexo.»
Arantzazu Perez Grande é professora primária:
ensina língua e matemática a crianças de seis anos. Católica, não se pode
recusar a aplicar a lei, porque «podemos ser vítimas de sanções económicas ou
até, no meu caso, perder o emprego, porque sou funcionária pública». Esta
professora é mãe de três crianças. «Claro que me preocupa, porque quero poder
dar aos meus filhos a educação e as crenças que eu tenho. Não quero que o
Estado lhes diga o que têm de pensar ou no que têm de acreditar.»
Manuel Martínez-Sellés e Maria José Vilaça
acrescentam que nos Estados Unidos da América o Colégio de Pediatria publicou
um documento intitulado A ideologia de género prejudica as crianças. Nesse documento, os pediatras norte-americanos
defendem que «a sexualidade humana é uma característica biológica binária
objectiva» e que «ninguém nasce com um género, todos nascemos com um sexo.
Mulheres e homens são diferentes?
Há investigações que comprovam isto mesmo.
Independentemente das diferenças culturais, sociais e económicas, homens e
mulheres são diferentes. Richard A. Lippa, da Universidade da Califórnia, fez
uma investigação sobre preferências profissionais, com 200 mil entrevistas a
pessoas de 53 países da Europa, América, África e Ásia. O investigador concluiu
que os homens tendem para trabalhos mais técnicos, enquanto as mulheres
preferem as ocupações sociais. Acontece em todos os países e continentes.
Também o professor Simon Baron-Cohen, do Trinity College da Universidade de
Cambridge, autor de Sex differences in human neonatal social perception, constatou que os bebés meninos, com apenas
horas de vida, se fixam mais em objectos mecânicos e as bebés meninas dão mais
atenção a rostos humanos.
Dicas para os pais
Que podem os pais fazer? Diogo Costa Gonçalves
diz que «é preciso criar espírito crítico nos educadores. Nenhum dos nossos
pais se sentou connosco a explicar porque é que o casamento é entre um homem e
uma mulher. Era dado mais do que adquirido. Neste momento, vou ter de fazer
isso com os meus filhos.»