sábado, 24 de outubro de 2009

Caim bolchevique

Muito se tem escrito e dito sobre o mais recente opúsculo do Nobel português mas, na realidade, não se percebe a razão, porque nesta sua última ficção literária, o escritor iberista não apresenta nada de novo. Pelo contrário, é mais do mesmo. Com efeito, não é de estranhar que o autor do falso «Evangelho segundo Jesus Cristo» manifeste, mais uma vez, o seu desdém pela Bíblia, palavra de um Deus em que não crê, e que, por isso, de novo arremeta contra as religiões em geral e a católica em particular, sua inimiga de longa data e muita estimação.

É verdade que alguns cristãos ficaram incomodados pela recorrente deturpação dos textos sagrados e pela falta de respeito pela liberdade religiosa que uma tal atitude evidencia. Mas, reconheça-se em abono da verdade, o criador desta mistificação, com laivos autobiográficos, não podia ter sido mais sincero nem coerente com a teoria política que tão devotamente segue. Com efeito, que outra personagem, que não Caim, poderia melhor personificar a ideologia em que se revê o galardoado autor?! Não é o irmão de Abel a melhor expressão bíblica do que foi, e é, o comunismo para a humanidade?

O ilustre premiado com o ignóbil prémio Nobel acredita que Caim nunca existiu, o que é, convenhamos, um acto de muita fé para quem se confessa ateu, até porque não tem qualquer evidência científica dessa suposta inexistência em que tão dogmaticamente crê. Mas decerto não ignora a realidade histórica de muitos outros Cains - Lenin, Stalin, Mao, Pol Pot e outros diabretes de menor monta - todos eles sobejamente conhecidos pelas atrocidades a que associaram os seus nomes e a sua comum ideologia.

À conta do Caim bíblico, agora reabilitado, por obra e graça deste seu oficioso defensor, pretende redimir os não poucos Cains que lhe são doutrinal e eticamente afins, mas a verdade é que o pretenso carácter mítico daquele não faz lendários os crimes destes seus comparsas mais modernos, até porque esta sanha fratricida ainda hoje impera, impunemente, na China, no Tibete, no Vietname, na Coreia do Norte, em Cuba, etc.

Mas não é só Caim que é um mito para o ortodoxo militante comunista, pois Deus também não existe (em todo o caso seria sempre um segundo Deus, porque o primeiro é, como é óbvio, o próprio escritor), e a Igreja Católica mais não é do que uma aberração. Mas, se assim é de facto, porque se incomoda tanto com a inexistente divindade e a pretensamente caduca instituição eclesial?! Será que, apesar de não acreditar em bruxas, no entanto nelas crê e teme?! Ou, melhor ainda, será que se está finalmente a converter, senão num cristão convicto, pelo menos num ateu não praticante?! Deus, que crê também nos que n'Ele não crêem, o queira...

Sem a Bíblia seríamos diferentes? Sem dúvida. Melhores? Duvido, porque todas as grandes tiranias do século XX - o fascismo, o nazismo e o comunismo - foram e são visceralmente ateias e, pelo contrário, todas as grandes gestas de justiça social são cristãs, como católica é também a maior rede mundial de assistência aos mais necessitados. Mas uma coisa é certa: sem o marxismo seríamos hoje muitos mais, concretamente mais cem milhões de mulheres e homens, tantos quantas foram as vítimas do comunismo em todo o mundo (cf. Stéphane Courtois, Le livre noir du communisme, Robert Laffont, 1998, pág. 14).

Gonçalo Portocarrero de Almada

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A ideologia é descartável?

Há algum tempo, grandes mestres do pensamento ocidental anunciaram repetidamente que as ideologias estavam a morrer ou até já tinham morrido e nós não sabíamos desse fenómeno notável. Nesta carreira estiveram grandes pensadores que acharam que as ideologias eram um aborrecimento para a sua própria inteligência. E de facto eram excepções, que tinham superado essa fase de pensamento e se tinham inclinado para o pensamento científico, porque a ideologia, compreendiam, não salva ninguém e só serve um senhor - o seu amável dono.
Homens como o grande intelectual judeu conservador Raymond Aron gastou livros a provar a convergência inevitável entre comunismo e capitalismo em diversos ensaios sobre as tendências da sociedade industrial. Keneth Galbraith, para lá de se notabilizar como embaixador na Índia, ainda proclamou o fim das ideologias. Lá fica, para lá da sua análise geral da grande crise, o seu livro O Estado Industrial a exigir em todo o lado uma igual elite de tecnocratas eficientes como o profeta sociólogo Conte escreveu no seu Catecismo Positivista, séculos antes. Tudo iria para o mesmo sítio. Só se atreveu a contrariar esta corrente um grande amigo meu, Dom Gonzalo Fernandez de la Mora, em que falava do «crepúsculo das ideologias crepusculares».
Parece que não foi. Apesar das mudanças inesperadas promovidas pela tecnologia, importa saber se a ideologia ainda é importante ou se não interessa. Este é um problema central da ciência política e mesmo da prática política, hoje reduzida a um pobre marketing de promessas, que valem o que valem. Mas as promessas parecem estar assumidas por partidos que defendem uma ideologia que ninguém sabe qual é. Podemos hoje honestamente perguntar o seguinte: o que e em que consiste o socialismo português? É esta salganhada que temos visto misturada com enriquecimentos ou é outra coisa que não nos foi dita. O que é isso de social-democracia, termo que equivale a comunismo radical e que usavam os comunistas germânicos a tempos da velhota Rosa Luxemburgo, que desenvolveu o conceito. Terão noção os PSD que isto é assim? Ou pretendem rever a história e que repentinamente acordaram para uma nova realidade em que a velhota não está, nem escreveu sobre o assunto? Eles não percebem que devem ter lições sobre o pensamento dos seus pais fundadores, o seu mestre Bernstein, um judeu útil, para perceber a revolução adiada e o compromisso a prazo para a instalação da sociedade justa, que é pura ideologia? A ideologia morreu ou foi esquecida e utilizada de outro modo, em outras versões como avisou Vilfredo Pareto?
Observando com isenção os partidos, só se observa na arena política permitida (diz-se oligarquia de partido ou monopólio da política) o PCP com uma ideologia linear cujas raízes assentam no mais saudável estalinismo. Dispensam as dúvidas do próprio Lenin, porque a escrita é vasta e abarca vários volumes indigeríveis por humanos inteligentes e não inteligentes de modo que as coisas têm que se passar ao nível do slogan da propaganda bastarda. Aqui também ninguém tem capacidade para ler os seus fundadores. Têm manuais. Mas eles não explicam as controvérsias que fizeram evoluir a doutrina. Tenho saudades das vendas de livros na Amadora da Editorial Mir, de Moscovo. Barato e seguro. Lia-se o que era o pensamento autêntico dos velhos fósseis, mas conhecia-se o que pensavam. Pacheco Pereira poderia dar lições sobre estas matérias, em companhia de Guterres e de outros distintos senhores desta terra de dores e agonia. No tempo do chamado «Renegado Vilar» há histórias sobre as hesitações de toda esta gente de esquerda face a um partido marxista-leninista e que valeria a pena escrever, para vergonha dos senhores alçados com a ideologia e que depois virão dizer que ela significa pouco. Interessará sim a técnica e a produtividade no futuro utópico. Vindos donde vêm?
Dizia-se que quem não muda de ideias é como quem não muda de vestuário. Chega a um momento que cheira mal. Eles souberam manter o bom odor Pierre Cardin ou Kelvin Klein.
Se a finalidade não fosse abolir a política e excluir dela os chamados «não profissionais», compreenderia perfeitamente o problema. Mas a questão dos profissionais é que não têm consciência e foram descritos pelos especialistas como carreiristas impiedosos, do pior nível moral, medíocres de origem, pessoas que se dedicaram à política porque no fundo não sabiam fazer mais nada. As suas conquistas financeiras são o melhor enlevo. Vêm do «pé rapado» e isto é que melhor os define: então desfrutar dos bens do Estado como se fossem donos ou rendeiros poderosos é uma tentação incontornável. E andam eles, tontos e embriagados desse nevoeiro que só desvia os imbecis, e os puros ambiciosos sem ideologia.
Como desafiou Medina Carreira oportunamente: quem terá uma solução para o problema de Portugal? Ninguém a adiantou. Creio que o problema continua a ser ideológico e mesmo assim ainda não económico, porque este se submeterá à ideologia.
Antes de mais torna-se necessário entender que o problema do País é de ter ou não uma visão sobre si próprio. É o de não ter uma Weltanshauung, uma Világnézet, uma Medevastonum ou uma Mrovozzrenye como na Rússia. É o que leva um autor inteligente do Desenvolvimento Económico a entender que as coisas até vão bem no ambiente catastrófico que se vive, ainda que muito realista na escola que lhe cabe por herança. Todavia ninguém percebe que Portugal não passa de uma ideia histórica de que poucos participam activa e entusiasticamente. Não há Mundovisão e os partidos carecem de ideologia. Fica tudo dito.
Talvez o assunto esteja em reformulação e o revivalismo das ideologias ainda fecundem uma terra dura e um povo subjugado e como, pelos vistos, com um grande futuro no futuro da economia. Para que fique, o Professor Inving Kristol, dizendo que os seus amigos lamentavam a ideologização da política nos USA, escreveu entretanto este trecho: «Nesta época, os partidos conservadores devem desenvolver uma clara identidade ideológica», apesar de perceber que a sociedade de direita era adversa das ideologias. Torna-se claro que hoje se defronta o mesmo problema de há 40 anos quando Kristol escreveu o texto no Wall Street Journal.
Mas dirão todos: Quem era esse imbecil do Kristol? Era bom fazer uma busca sobre este grande ideólogo dos conservadores americanos.

António Marques Bessa

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sobre as opiniões de Saramago

Bom remédio

Comecei a minha carreira de jornalista no Diário de Notícias.

Tinham passado ainda poucos anos da breve passagem de Saramago pela direcção do Jornal. Não deixara saudades.

Ficou a imagem de perseguidor feroz dos adversários numa passagem tristemente marcada pelo saneamento político de dezenas de jornalistas.

Viviam-se tempos difíceis de enorme tensão política e luta ideológica. Mas, então como agora, houve quem soubesse escolher o respeito pela liberdade de expressão dos "inimigos" e os que não resistiram à tentação de tentar, por todos os meios, e em nome de novas verdades absolutas, prolongar os tempos da censura.

A defesa da liberdade de expressão e crítica aberta não foi então a marca de água do escritor.

Não serve o argumento para coarctar a sua. Tem Saramago direito a propagar o seu jacobinismo e dizer o que pensa. Até de declarar guerra a Deus e às religiões embora o respeito pela liberdade dos outros aconselhasse, aqui como em tudo, a dispensa do insulto fácil.

Os que acreditam em Deus esperam que as dúvidas de Saramago sobre a Sua existência se dissipem, um dia, num encontro a dois. Onde, para espanto do escritor, em vez do juiz cruel que a sua imaginação produziu e a razão rejeita se encontrará com O Pai infinitamente bom. Capaz de compreender toda a arrogância e perdoar o insulto.

Aos crentes, incapazes da mesma atitude, resta: não comprar.

Graça Franco, Rádio Renancença

Decidir contra o povo

Pedro Vaz Patto, juiz, no Público, 2009.09.09

Quando foi sugerido que a questão da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse submetida a referendo, como expressão mais fiel da legitimidade democrática, partidários dessa legalização disseram que a questão teria de ser subtraída à vontade da maioria, por mais expressiva que esta fosse, uma vez que dizia respeito ao princípio constitucional básico da igualdade e da não-discriminação. A questão estaria já decidida a partir do momento em que a Constituição veio incluir a orientação sexual entre os factores explicitamente referidos como motivo de indiscriminações inadmissíveis. Parecia, até, que o assunto estava encerrado no plano da discussão da política legislativa, em nome da superioridade dos princípios constitucionais.

O recente acórdão do Tribunal Constitucional n.º 359/09 vem deitar por terra esta argumentação. De acordo com esse acórdão, o princípio da igualdade constitucionalmente consagrado não impõe a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Fica, assim, aberto o campo de discussão no plano da política legislativa. É certo que não houve unanimidade entre os juízes (em cinco, dois votaram vencidos), mas o facto de se tratar de questão controversa só reforça a ideia de que não pode o argumento da inconstitucionalidade servir de barreira à discussão de política legislativa relativa a esta questão.

E não pode servir de barreira à possibilidade de submissão desta questão a referendo. A superior consideração da legitimidade democrática aconselha essa submissão. Trata-se, como a questão do aborto, de uma questão de consciência transversal aos eleitores dos vários partidos políticos. Ainda que seja incluída no programa eleitoral de um partido, não pode dizer-se que a generalidade dos eleitores desse partido a sufrague, uma vez que serão normalmente outras questões, que mais preenchem a agenda política, a pesar na sua opção de voto.

Numa matéria de tão grande significado ético, cultural e civilizacional, onde se joga o modelo de referência de família como núcleo social fundamental, onde se pretende alterar um modelo secular, seria inadmissível que uma opção tão relevante fosse tomada em função de estratégias políticas ou modas ideológicas e contra o sentir da maioria do povo, como o vêm revelando várias sondagens. Se é o povo que está supostamente "atrasado", pois que se aproveite o referendo para o "esclarecer". Mas que não se decida contra ele.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota

Inaugurado em 2008, o CIBA pretende dar a conhecer, de uma forma rigorosa e inovadora, os factos mais importantes da Batalha que tornou possível a consolidação da identidade nacional. O Centro foi criado pela fundação Batalha de Aljubarrota no campo de São Jorge onde em 1385 as tropas portuguesas venceram o exército castelhano.


http://www.tvfatima.com/portal/index.php?id=1480

E depois o Pacheco acha que é demagogia populista...

A corrupção dos parlamentares e governantes, isto é, da classe política, é conhecida. Por isso, chamar político a alguém é insultar a pessoa. Mas o Pacheco Pereira acha que citar a realidade é «demagogia populista»... A realidade é populista e demagoga!

Aqui vai este vídeo da TVI a ilustrar que o Pacheco tem razão! Afinal a classe política é séria, poupadinha e amiga dos portugueses.

Heduíno Gomes

Hino e Bandeira

Letra e Música

Hino: lindo.

Bandeira: horrorosa, mas é a que temos, obra dos republicanos. Não seria mais própria, estética e simples a da fundação? Esperemos que um dia regresse o bom senso... e a estética!

http://www.youtube.com/watch?v=WGbWYo_CzHc&feature=related

A PORTUGUESA

Data: 1890 (com alterações de 1957)
Letra: Henrique Lopes de Mendonça
Música: Alfredo Keil

I
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

II
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Ás armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!