sábado, 15 de novembro de 2014
O dependentismo
Helena Matos
O legislador, na senda iluminista de levar ao povo a revolução que não escolheu, criou o dependentismo, com programa em 3 pontos: Para mim, deveres poucos ou nenhuns. Direitos todos. Amanhã logo se vê.
Nem liberalismo, nem socialismo. A ideologia mais popular na Europa actualmente é o dependentismo. O que é o dependentismo?
Antes de explicar o que é o dependentismo deixem-me que lhes conte a história de Sandra. Ou de Sabrina. Ou de Sofia. Nomes falsos por que a história verdadeira de uma jovem espanhola chegou recentemente aos jornais: de cima dos seus quase trinta aninhos, a nossa jovem acabou de conseguir que um tribunal obrigue o seu pai a pagar-lhe uma bem simpática mesada durante mais dois anos. Com a possibilidade de esse período ser alargado caso a dita jovem não consiga terminar até lá a licenciatura em psicologia que iniciou há largo tempo. A nossa jovem, ou melhor dizendo a nossa adulta que se recusa a deixar de ter vida de adolescente, é saudável, nasceu na classe média e nada a não ser a sua vontade ou falta dela a impediu de terminar o curso em seu devido tempo. Mas o tribunal que julgou a sua acção contra o pai considera que hoje em dia é penosa a integração dos jovens no mercado de trabalho.
Qual Podemos de Pablo Iglesias ou Frente Nacional de Marine Le Pen, o nosso verdadeiro terramoto político está nas mãos destes cidadãos nascidos nos anos 80 e 90 do século passado. Ao contrário das gerações anteriores que queriam ser independentes, estes jovens que há alguns anos seriam adultos lutam para ser materialmente dependentes. Por agora exigem aos pais que os sustentem. Amanhã exigirão a mesada a quem? Não são doentes e a avaliar pelas mesadas que reivindicam em tribunal não provêm de meios pobres. São oficialmente estudantes embora da maior parte não se possa dizer que estuda de forma regular. Alegam que não conseguem encontrar trabalho compatível com as habilitações de que se acham munidos e enquanto não cair do céu o lugar para que se acham dotados consideram que os pais têm de os sustentar nessa condição de estudantes mesmo que ocasionais.
A isto junta-se que a lei é omissa no que respeita ao limite de idade para se viver de uma mesada paterna pelo que não é de estranhar que dentro de alguns anos tenhamos quarentões neste grupo de indignados.
Quase sem darmos por isso, o legislador imaginou-se «grande educador» e instalou-se na relação que pais e filhos mantêm. E agora os tribunais sentem-se competentes para dizer a um pai que tem de sustentar um filho que é maior para tudo menos para trabalhar. Criámos leis e direitos contraditórios entre si e sem qualquer adesão à realidade: os mesmos pais a quem os tribunais, sobretudo em Espanha, criam a responsabilidade de continuar a sustentar filhos de 30 anos, apesar de estes serem saudáveis, são os mesmos pais a quem esses filhos já não ajudaram nas mais prosaicas tarefas domésticas porque havia o risco de tal ser considerado trabalho infantil.
A desautorização das famílias criou monstros legais como a britânica Cinderella Law que visa criminalizar a falta de manifestações de afecto dos pais para com os filhos, o que permite todo o tipo de arbítrios e subjectividades. Ou as chamadas «leis da palmada» que, visando combater os maus tratos às crianças, optam não por prevenir esses maus tratos, nomeadamente através de um acompanhamento mais eficaz das crianças que se suspeita poderem ser vítimas deles, mas sim por transformar a mais simples repreensão num caso de polícia.
Toda esta parafernália legislativa dos últimos anos, em que o Estado se assume como um bom educador por oposição às famílias, sempre vistas como ignorantes, não protegeu mais as crianças que precisavam de ser protegidas daqueles pais que excepcionalmente as maltratam. Mas acabou claramente a desautorizar a generalidade dos pais, ou seja, aqueles que se esforçam por tratar o melhor possível os seus filhos.
Há algo de disfuncional na relação que se criou com esta geração que em vários países europeus vai ao médico pediatra até aos 18 anos, mas que pode abortar a partir dos 16 sem que os seus pais sejam sequer informados. Mas se isto é válido para a perspectiva dos pais, ou se quisermos das gerações mais velhas, do ponto de vista dos filhos o resultado é bem mais complexo: criados numa concepção de direito a isto e àquilo, foram imbuídos de que o simples acto de nascer os revestia de vários direitos materiais.
Quanto a deveres, a simples enunciação desta palavra podia causar-lhes traumas vários. Enfim, desde que não se drogassem e fossem cumprindo as etapas da vida escolar já reuniam os requisitos básicos para serem considerados exemplares. Agora muitos já nem esse mínimo se sentem obrigados a cumprir e, quando se esperaria que, pelo menos uma vez adultos, trabalhassem, antes pelo contrário seguem para tribunal reivindicando que os pais os continuem a sustentar. E o legislador, sempre na senda iluminista de levar por força de lei o povo a viver a revolução que não escolheu, vai avalizando os argumentos do dependentismo.
O dependentismo, ou seja a convicção de que os nossos direitos materiais têm de ser garantidos independentemente da possibilidade de serem custeados ou de representarem um abuso sobre aqueles que têm de os custear, é hoje a ideologia mais popular na Europa.
Visto assim sob a perspectiva de uns meninos quase trintões que querem continuar no seu viver de estudante – se fosse agora, as tias do Vasquinho acabavam condenadas em tribunal e ele nunca dissertaria sobre o mastoideu no exame de Anatomia – é fácil caricaturizar o dependentismo. Mas pensemos na recente greve dos pilotos da Air France, na resistência às reformas empreendidas pelos governos italiano e belga, na língua de pau do Tribunal Constitucional em Portugal e confrontamo-nos com versões institucionais do dependentismo, essa ideologia cujo programa se resume a três pontos: «Para mim, deveres poucos ou nenhuns. Direitos todos. Amanhã logo se vê.»
Parece uma coisa de crianças e em parte é. Afinal o dependentismo infantilizou os europeus. Estes, sempre tão disponíveis para se deixarem enlevar por tudo aquilo que lhe parecesse uma vaga alternativa às suas democracias, não ficaram mais realistas após a queda do Muro de Berlim. Antes pelo contrário, os vendedores de utopias que por aí andam agora nem têm de se confrontar com o falhanço dos modelos alternativos.Valha a verdade eles também não defendem propriamente modelos alternativos de sociedade ou quando os defendem escondem-nos o suficiente porque sabem que ninguém quereria viver em tal inferno.
O que os infantilizados eleitores europeus querem não se distingue muito das exigências de mais mesada dos trintões espanhóis: afinal todos querem mais algum tempo de recreio. Se pudessem diziam como as crianças quando dantes brincavam na rua e as chamavam para ir jantar: «Já vou. Só mais um bocadinho!»
Cordão Humano pela defesa do Instituto de Odivelas
Ex.mo
S.r Presidente da Republica, S.r D.r Aníbal Cavaco Silva,
Ex.mo S.r Primeiro Ministro, D.r Pedro Passos Coelho,
Ex.mas S.ras e S.res Deputados,
Ex.mas Amigas e Amigos do Instituto de Odivelas,
Ex.mas Meninas de Odivelas,
Vai realizar-se o Cordão Humano pela defesa da manutenção
do Instituto de Odivelas.
O Cordão Humano terá terá início no Largo D. Dinis, no
próximo dia 15 de Novembro a partir das 15.00h.
O Instituto de Odivelas, fundado em 1900, faz parte
integrante da história, da cultura e da identidade da Cidade de Odivelas,
proporcionando uma educação de excelência e contribuindo, ainda, para a coesão
social e desenvolvimento económico local.
O Instituto de Odivelas, enquanto estabelecimento de
ensino público, adquiriu uma dimensão e reconhecimento a nível nacional pela
excelência do ensino e da formação que tem prestado ao longo dos seus 114 anos
de vida.
Evitar a extinção do Instituto de Odivelas é mais do que
uma questão local, é uma causa nacional, pelo que, apelamos à participação de
todos.
Faça parte do Cordão Humano.
Junte-se a esta causa.
Um acto de cidadania.
Cumprimentos.
Maria Teresa Magalhães
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
A nova Brigada do Reumático
João Miguel Tavares, Público, 11 de Novembro de 2014
Miguel Veiga deu ontem uma entrevista a este jornal a defender a subida ao poder de Rui Rio, para que faça «uma limpeza desejável no PSD». Luís Mira Amaral deu uma entrevista no sábado ao DN a desancar de cima a baixo Moreira da Silva, a quem chamou «ministro do CO2» e a quem acusou de ter «um discurso de talibãs verdes» por se atrever a taxar as gasolineiras. José Miguel Júdice tem-se desdobrado em entrevistas para demonstrar o seu apoio a António Costa segundo ele, «o político mais dotado da sua geração» e «a pessoa mais indicada para liderar o País nesta conjuntura».
A lista de sexagenários e septuagenários que são ou já foram da área do PSD e que dizem de Pedro Passos Coelho o que Maomé não disse do toucinho é impressionante. Uns sonham com Rui Rio (Miguel Veiga), outros com António Costa (José Miguel Júdice), outros nem com um, nem com outro (Mira Amaral), mas todos eles têm em comum uma profunda aversão a Passos Coelho e ao seu Governo.
Só que a aversão deles não é igual à aversão do desempregado, do operário, do funcionário público, do reformado, nem sequer à aversão de Pacheco Pereira – a sua aversão deriva da maior dificuldade que certos privilegiados hoje têm em aceder e em influenciar o poder político.
Aquilo que os incomoda não é o destino dos pobres. Aquilo que os incomoda é a crise, pela primeira vez, ter chegado aos ricos.
O embate de Moreira da Silva com o poderosíssimo sector das petrolíferas, o famoso «não» de Maria Luís Albuquerque a Ricardo Salgado ou a actual recusa do Governo em actuar na PT são das poucas decisões realmente decentes que o Governo de Pedro Passos Coelho tomou – critiquem-no por tudo e um par de botas, mas não por isso. Infelizmente, os privilegiados do regime fazem outras contas. Luís Mira Amaral está à frente do BIC de Isabel dos Santos e a gerir as ruínas do BPN, compradas ao preço da chuva.
Miguel Veiga é um «fundador» do PSD que há dois meses teceu inacreditáveis loas a Ricardo Salgado («um homem com mão de ferro em luva de veludo») numa vergonhosa «reportagem» da RTP, criticando de caminho Carlos Costa por ter acusado Salgado de forma «tendenciosa, prematura e injustificada».
E José Miguel Júdice, claro está, é José Miguel Júdice, só comparável à forma como Daniel Proença de Carvalho é Daniel Proença de Carvalho. Quando questionado pelo jornal i acerca da natureza dos problemas do Grupo Espírito Santo, Júdice respondeu assim: «A maior parte dos problemas do Grupo Espírito Santo resulta de a família não ter sido devidamente paga depois de expropriada.» É isso mesmo. A culpa de milhares de milhões a voar é sobretudo da injustiça das indemnizações há um quarto de século. Ah, já agora: segundo José Miguel Júdice, «Zeinal Bava, Henrique Granadeiro ou Ricardo Salgado são excelentes profissionais em qualquer parte do mundo.» Em qualquer parte do mundo, excepto em Portugal.
Receio bem que esta nova Brigada do Reumático, tal como a antiga, tenha uma enorme tendência para confundir os interesses de Portugal com os seus próprios interesses e a manutenção dos seus privilégios.
É por isso que convém separar os campos da crítica ao Governo com a precisão de um bisturi: a classe média tem mil e uma razões para se queixar de Passos Coelho, mas as suas razões não são as razões das classes altas representadas por Júdice, Veiga ou Mira Amaral. Os primeiros sonham com melhores políticos. Os segundos só sonham com políticos do antigamente. E eu, para esse peditório, já dei.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)