Inês Teotónio Pereira
O PS, segundo o seu
programa eleitoral, promete o que tem e o que não tem e com estas promessas tem
esperança de vir a ter mais votos. As contas não batem certo, as previsões são
baseadas na esperança e até faz tábua rasa de tudo o que tem dito até aqui. Ora
eu sou igualzinha com os meus filhos: também lhes prometo tudo na esperança que
eles me obedeçam e cumpram as suas obrigações. Digo uma coisa num dia e outra
coisa noutro dia só para fazer chegar a água ao meu moinho e nem me preocupo
com a coerência das minhas promessas porque as batalhas diárias não dão espaço
para preocupações dessa ordem.
Nós,
eu e o PS, fazemos tudo para atingir os nossos resultados: o PS votos e eu que
os miúdos vão para a cama. Até hoje eu achava que esta não era a melhor forma
de educar crianças, que não devia prometer tanto e muitas vezes não conseguir
cumprir. Achava ingenuamente que os estava a comprar e que isso era mau. Mas
graças ao PS percebi que não, que não é mau. É que segundo o economista do PS
João Galamba comprar votos é um mero exercício de democracia.
Obrigada,
João Galamba, já somos dois democratas.
Eu,
tal como o PS, compro tudo aos meus filhos sem vergonha nenhuma e prometo-lhes
o céu e a terra só para poder ver o telejornal descansada. Prometo-lhes chupas
se eles tirarem boas notas, rebuçados se se calarem, cinema se se portarem bem,
a chucha ao bebé se ele comer a sopa, etc. E a verdade é que muitas vezes não
cumpro essas promessas. Não é por mal, é que muitas vezes não tenho tempo para
os levar ao cinema, raramente tenho chupas em casa e na maioria dos casos nem
me lembro do que prometi. Enfim, vivo a subornar os meus filhos e a fazer-lhes
promessas falsas. Não por votos, como o PS, mas por causas muito menos nobres,
como seja o sucesso escolar deles, o meu sossego, eles comerem legumes, etc. A
minha veia democrata e socialista é de tal forma latejante que até lhes prometo
que se estudarem podem vir a ser economistas do PS, assinar manifestos e até
chegar a ministros.
Ora
aquilo que eu achava que era uma fragilidade maternal, um erro pedagógico, uma
forma de compensar a minha falta de autoridade e de verdade, afinal não é. Este
é um dos casos em que os fins justificam os meios, ensinou-me o PS. Eu compro
os meus filhos para eles fazerem o que eu quero, o PS faz o mesmo com os
portugueses para ganhar eleições.
São
ambos bons fins e ao que parece até são democráticos.
Mas eu
ainda tenho muito a aprender com o PS e gostava sinceramente que outro programa
eleitoral ou outra qualquer declaração do economista João Galamba me
ensinassem. O meu grande problema, que aproveito para partilhar com o PS, é que
os meus filhos já me toparam e eu sinto-me mal. Eu sei que o PS não tem esta
preocupação e já ultrapassou estes dilemas morais, mas ainda sou verde nestas
coisas do socialismo e por isso tenho uma dúvida: o PS nunca tem vergonha?