quinta-feira, 27 de outubro de 2016
Legalizar a eutanásia?
Isabel Galriça Neto
É errado por princípio e perigoso pelos resultados
https://pt.scribd.com/document/328639766/Legalizar-a-eutanasia
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
Wikileaks.
O que dizem os e-mails
da campanha de Hillary Clinton?
João de Almeida Dias, Observador, 19 de
Outubro de 2016
A Wikileaks teve acesso a uma lista de 50 mil
e-mails do director de campanha de Hillary Clinton. Alguns são comprometedores
e podem fazer mossa na democrata. Conheça alguns exemplos.
Numas eleições normais, qualquer adversário
de Donald Trump já estaria a correr alegre e descontraidamente para a meta,
deixando para trás um candidato republicano soterrado debaixo da sua avalanche
de polémicas. «Mas é justo dizer que estas eleições não são normais», como
Barack Obama fez questão de referir num discurso da Convenção do Partido
Democrata, em Julho.
Um factor que contribui amplamente para a
singularidade destas eleições é que, do outro lado de Donald Trump, está
Hillary Clinton — uma mulher que, depois de mais de 30 anos na linha da frente
da política norte-americana, conseguiu um currículo invejável e extenso. Só
que, para lá das linhas onde aparecem cargos como «senadora por Nova Iorque,
2001-2009» ou «secretária de Estado, 2009-2013», muitos vêem inúmeras notas de
rodapé que apontam para várias polémicas, das quais Hillary Clinton surge como
uma candidata demasiado calculista, ambígua e desrespeitadora das regras.
A nota de rodapé mais recente no currículo de
rodapé é da cortesia do site Wikileaks, do activista australiano Julian Assange
— que, acredita que o departamento
de Estado norte-americano poderá ter sido ajudado pela Rússia —, que tem
divulgado a conta-gotas aquilo que diz ser um total de 50 mil e-mails que
estavam na conta de e-mail de John Podesta, o chefe máximo da campanha da
candidata democrata. Alguns mails contêm informações comprometedoras, outras
dúbias e também há algumas que são inocentes e rotineiras. Os e-mails começam
em 2000 e, para já, vão até Março de 2016. Em baixo, conheça o que está em
causa nalgumas das mensagens mais controversas.
Hillary Clinton já conhecia a pergunta antes
do debate
Num e-mail enviado a 12 de Março deste ano
por Dona Brazile, na altura vice-presidente do Comité Nacional Democrata (meses
depois, em Julho, passou a ser presidente interina, depois de outro escândalo
com e-mails ter levado à demissão da então presidente, acusada de favorecer
Hillary Clinton em detrimento de Bernie Sanders nas primárias) para a directora
de comunicação da campanha, Jennifer Palmieri, surgia a seguinte frase no campo
«Assunto» do e-mail: «De vez em quando, eu consigo ter as perguntas antes do
tempo».
O tema era o debate em formato de town
hall, agendado para o dia seguinte e que era da responsabilidade da
CNN. Dentro do e-mail, Dona Brazile, que também era comentadora residente na
CNN, avisou a campanha de Hillary Clinton que lhe ia ser colocada uma questão
sobre a pena de morte. Dona Brazile chegou a colocar o texto da pergunta no
e-mail. No dia seguinte, um dos moderadores lançou uma pergunta a Hillary
Clinton sobre esse tema, com um texto ligeiramente diferente mas inegavelmente
idêntico ao disponibilizado por Dona Brazile.
Dona Brazile nega a acusação, tal como a CNN.
A equipa de Hillary Clinton quis mudar a data
das primárias no Illinois
para prejudicar os candidatos moderados do
Partido Republicano
Em Novembro de 2014, praticamente meio ano
antes de Hillary Clinton anunciar a sua candidatura à Casa Branca, já havia
quem preparasse o seu caminho na retaguarda. Robby Mook, também da equipa de
Clinton, enviou um e-mail a John Podesta onde ensaiava a hipótese de, através de uma troca de
favores, conseguir adiar as primárias no Estado
do Illinois de Março para Abril ou Maio de 2016.
A ideia de Robby Mook era conseguir o aval do speaker do parlamento estatal do Illinois, o
democrata Mike Madigan, para que a data fosse alterada. O processo de persuasão
seria feito pelo chefe do staff de Obama na Casa Branca e um lobista
do Illinois. Segundo a proposta de Robby Mook, aquele Estado teria mais 10% de delegados a
nível nacional se as primárias fossem mudadas para Abril e mais 20% se as empurrassem até Maio.
Segundo Robby Mook, esta seria uma maneira de
controlar o tom da campanha republicana, que os democratas queriam que fosse o
menos moderada possível. «O objectivo global é mudar as primárias no Illinois
de meados de Março, onde eles ainda têm apoio para candidatos republicanos
moderados depois da maioritariamente sulista Super Tuesday [que ocorreu a 1 de
Março]», escreveu. Se as primárias fossem adiadas até Abril ou Maio, a
probabilidade de os candidatos mais moderados (naquela altura, John Kasich e
Marco Rubio) perderem força até lá seria maior.
Apesar dos esforços da campanha de Clinton,
as primárias no Illinois aconteceram a 15 de Março. No final de contas, Hillary
Clinton venceu com apenas mais 1,8% do que Bernie Sanders. Do outro lado,
venceu Donald Trump — o mais radical entre os republicanos.
A equipa de Clinton preocupada com a postura
da candidata
sobre o escândalo do e-mail privado
Está visto que, quando o assunto é a troca de
correspondência electrónica e Hillary Clinton está envolvida, o mais certo é
haver uma polémica. O primeiro capítulo desta colecção de histórias diz
respeito aos tempos de Hillary Clinton como secretária de Estado no primeiro
mandato de Barack Obama, 2009-2013. Durante esse período, contra as regras e
potencialmente colocando em perigo informações classificadas como top
secret e confidential,
Clinton usou uma conta de e-mail privada que estava alojada num servidor que
tinha na garagem da sua casa, em Chappaqua, em Nova Iorque.
Em plena campanha, Hillary Clinton foi
ilibada de qualquer acusação pela procuradora-geral, Loretta Lynch, depois de
uma recomendação nesse sentido do director do FBI, James Comey (leia mais sobre
este assunto aqui).
Em Agosto de 2015, uma das conselheiras da
campanha, Neera Tanden, escrevia a
John Podesta um e-mail titulado «os meus pensamentos» onde manifestava
preocupações sobre a postura de Hillary Clinton perante este caso. «Eu sei que
isto do e-mail não tem sido honesto. Eu sei muito que não. Mas eu temo que a
incapacidade dela de dar uma entrevista e comunicar de forma genuína
sentimentos de remorso e arrependimento está a tornar-se num problema de
personalidade (ainda mais do que de honestidade)», escreveu Neera Tanden.
«Ela precisa de fazer isto. Não vejo outra
maneira de avançarmos até Outubro», concluiu.
Desde então, Hillary Clinton tem adoptado uma
postura de arrependimento sempre que este tema é referido em debates e nas
(pouquíssimas) entrevistas e conferências de imprensa que tem dado.
Alguns jornalistas tinham uma relação próxima
com a equipa de Clinton
Pelo meio dos 50 mil e-mails da conta de John
Podesta, alguns contam com a assinatura de jornalistas de política de alguns
dos jornais mais conhecidos nos EUA. Nalgumas trocas de mensagens, pode ver-se
como alguns jornalistas e a equipa de Hillary Clinton mantinham uma relação de
proximidade, muitas vezes culminando no condicionamento do trabalho que saía a
público.
Num e-mail escrito pelo jornalista Mark Leibovich, da revista The New York
Times, este entrega um conjunto de citações que retirou de uma entrevista que
fez com Hillary Clinton, pedindo permissão para publicá-las à assessora de
campanha Jennifer Palmieri. «Esta conversa foi bastante interessante… Adoraria
ter a opção de usá-la», escreveu o jornalista. No final, depois de uma troca de
e-mails, a assessora limita o uso de algumas expressões e de citações inteiras.
«Foi um prazer fazer negócios contigo!», despediu-se Jennifer Palmieri.
Noutra ocasião, o jornalista Glenn Thrush, do
site Politico, envia um e-mail a
John Podesta com parágrafos que dizem directamente respeito ao chefe de
campanha de Hillary Clinton. A ideia do jornalista era ter a aprovação para
publicação daquelas partes em particular. «Por favor não partilhes ou digas a
ninguém que eu fiz isto», escreve o jornalista. «Diz-me se não f*di nada.»
Além do Wikileaks, também o site Intercept
— fundado pelo jornalista Glenn Greenwald, conhecido por ter dado a conhecer os
ficheiros de Edward Snowden — teve acesso a uma nota interna da campanha de Hillary Clinton escrita em Janeiro de 2015, onde se dizia como «colocar uma história»
num jornal por intermédio de um «jornalista amigável». Em particular, é
referido o exemplo de Maggie Haberman, do The New York Times. «Nós temos tido
uma relação muito boa com Maggie Haberman do Politico [onde a jornalista
trabalhou até Fevereiro de 2015] durante o último ano», lia-se naquela nota.
«Ela já nos preparou algumas histórias no passado.»
Os discursos em Wall Street pagos a peso de
ouro
Já durante as eleições primárias do Partido
Democrata, Bernie Sanders insistiu várias vezes para que Hillary Clinton
divulgasse as transcrições dos seus discursos pagos a peso de ouro em eventos
privados de bancos de Wall Street e outras instituições financeiras — mais ou
menos a mesma insistência que Hillary Clinton agora usa para exigir a Donald
Trump que torne pública a sua declaração fiscal. De acordo com a CNN, Hillary e
Bill Clinton fizeram 729 discursos pagos entre Fevereiro de 2001 e Maio de
2015. Em média, receberam 210 mil dólares por cada um.
Agora, as transcrições de três desses
discursos foram tornadas públicas pela Wikileaks, que os encontrou nos e-mails
de John Podesta. Nestas mensagens em particular, a equipa de Hillary Clinton
destacou as partes que poderiam levar a interpretações negativas por parte dos
seus adversários.
Num discurso de 2014, Hillary Clinton admitiu
que está «algo distante» das preocupações da classe média. «Eu não estou a
tomar posição em nenhuma medida, mas penso que há um sentimento crescente de
ansiedade e até de raiva neste país por causa da ideia de que o jogo está
combinado. E eu nunca senti isso quando era mais nova. Nunca», disse.
Em 2013, referiu num discurso que «na
política é preciso ter uma posição em público e outra em privado». Esta citação
tem sido usada contra Hillary Clinton pela campanha de Donald Trump, que estava
a explicar à audiência os meandros da negociação política, recorrendo ao
exemplo do filme «Lincoln» (2012), de Steven Spielberg, onde é demonstrado como
o presidente Abraham Lincoln conseguiu convencer várias congressistas a permitirem
o fim da escravatura, consagrado na 13.ª emenda da Constituição. «A política
faz-se como as salsichas. É desagradável, sempre foi assim, mas no final das
contas por vezes chegamos onde temos de estar», disse.
Subscrever:
Mensagens (Atom)