quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Os meus filhos são socialistas?


Inês Teotónio Pereira

Não sei se são só os meus filhos que são socialistas ou se são todas as crianças que sofrem do mesmo mal. Mas tenho a certeza do que falo em relação aos meus. E nada disto é deformação educacional, eles têm sido insistentemente educados no sentido inverso. Mas a natureza das criaturas resiste à benéfica influência paternal como a aldeia do Astérix resistiu culturalmente aos romanos. Os garotos são estóicos e defendem com resistência a bandeira marxista sem fazerem ideia de quem é o senhor.

Ora o primeiro sintoma desta deformação ideológica tem que ver com os direitos. Os meus filhos só têm direitos. Direitos materiais, emocionais, futuros, ambíguos e todos eles adquiridos. É tudo, absolutamente tudo, adquirido. Eles dão como adquirido o divertimento, as férias, a boleia para a escola, a escola, os ténis novos, o computador, a roupinha lavada, a televisão e até eu. Deveres, não têm nenhum. Quanto muito lavam um prato por dia e puxam o edredão da cama para cima, pouco mais. Vivem literalmente de mão estendida sem qualquer vergonha ou humildade. Na cabecinha socialista deles não existe o conceito de bem comum, só o bem deles. Muito, muito deles.

O segundo sintoma tem que ver com a origem desses direitos. Como aparecem esses direitos. Não sabem. Sabem que basta abrirem a torneira que a água vem quente, que dentro do frigorífico está invariavelmente leite fresquinho, que os livros da escola aparecem forradinhos todos os anos, que o carro tem sempre gasolina e que o dinheiro nasce na parede onde estão as máquinas de multibanco. A única diferença entre eles e os socialistas com cartão de militante é que, justiça seja feita, estes últimos (socialistas) já não acreditam na parede, são os bancos que imprimem dinheiro e pronto, ele nunca falta.!!!!

Outro sintoma alarmante é a visão de futuro. O futuro para os meus filhos é qualquer coisa que se vai passar logo à noite, o mais tardar. Eles não vão mais longe do que isto. Na sua cabecinha não há planeamento, só gastamento, só o imediato. Se há, come-se, gasta-se, esgota-se, e depois logo se vê. Poupar não é com eles. Um saco de gomas ou uma caixa de chocolates deixada no meio da sala da minha casa tem o mesmo destino que um crédito de milhões endereçado ao Largo do Rato: acaba tudo no esgoto. E não foi ninguém?

O quarto tique socialista das minhas crianças é estarem convictas de que nada depende delas. Como são só crianças, acham que nada do que fazem tem importância ou consequências. Ora esta visão do mundo e da vida faz com que os meus filhos achem que podem fazer todo o tipo de asneiras que alguém irá depois apanhar os cacos. Eles ficam de castigo é certo (mais ou menos a mesma coisa que perder eleições), mas quem apanha os cacos sou eu. Os meus filhos nasceram desresponsabilizados. A responsabilidade é sempre de outro qualquer: o outro que paga, o outro que assina, o outro que limpa. No caso dos meus filhos o outro sou eu, no caso dos socialistas encartados o outro é o governo seguinte.

Por fim, o último mas não menos aterrorizador sintoma muito socialista dos meus filhos é a inveja: eles não podem ver nada que já querem. Acham que têm de ter tudo o que o do lado tem quer mereçam quer não. São autênticos novos-ricos sem cheta. Acham que todos temos de ter o mesmo e se não dá para repartir ninguém tem. Ou comem todos ou não come nenhum. Senão vão à luta. Eu não posso dar mais dinheiro a um do que a outro ou tenho o mesmo destino que Nicolau II. Mesmo que um ajude mais que outro e tenha melhores notas, a «cultura democrática» em minha casa não permite essa diferenciação. Os meus filhos chamam a esta inveja disfarçada, justiça, os socialistas deram-lhe o nome de justiça social.

A minha sorte é que os meus filhos crescem. Já os socialistas são crianças a vida inteira.!!!!!





quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Calendário das comemorações
do 1.º de Dezembro



Organizado pela Sociedade Histórica
da Independência de Portugal (SHIP)

Domingo, 1 de Dezembro de 2013

09h30: Hastear da Bandeira da Restauração com Banda do Exército.
10h00: Missa cantada de Acção de Graças aos «Heróis da Restauração».
11h30: Cerimónias Oficiais de Homenagem aos Restauradores.
12h30: Assinatura do Livro de Honra da SHIP.
14h30: Desfile de Bandas Filarmónicas.
17h00: «Reviver 1640» Reconstrução histórica da actuação dramática
dos 40 conjurados.
17h45: «Arraial da Conjura» com música popular portuguesa.
18h30: «LiberTUNAS» com a presença de tunas académicas.





terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mário Soares


Um mito em desconstrução

José António Saraiva, Sol

Tinha decidido não voltar a escrever sobre Mário Soares, porque este deixou de fazer parte do mundo da política para integrar outra realidade, outro mundo, outra galeria de personagens.

Não faz hoje qualquer sentido comentar «politicamente» as afirmações do fundador do PS. Mas existe um problema de outra natureza: Mário Soares está a destruir dia após dia a imagem respeitável que construiu ao longo de décadas.

Todas as vezes que abre hoje a boca retira mais uma pedra da sua estátua imaginária. Vai pondo a nu os defeitos que antes conseguia esconder – e lança dúvidas sobre algumas qualidades que se lhe reconheciam.

Soares nunca foi um ideólogo, nem um pensador, nem um modelo de virtudes, nem um poço de cultura, nem sequer um estadista. Soares sempre foi um hábil «manejador da política», pouco preocupado com a coerência, implacável com todos os que se lhe atravessaram na frente, egocêntrico em alto grau Colocou-se sempre a si próprio à frente de tudo – da família, do partido e mesmo do país.

Mas a habilidade com que manejava a política foi escondendo as características negativas e valorizando as virtudes. Encontrei muita gente, tanto à esquerda como à direita, que olhava para Mário Soares com uma veneração quase religiosa. Ora, esta sua involução acelerada está a pôr tudo em causa.  Há quem diga que isso tem pouca importância, porque aquilo que de bom Soares fez está feito, a obra está lá – e o que ele diz agora é irrelevante. É fácil ver como isto não é verdade.

O processo começou em 1999, quando Mário Soares se candidatou imponderadamente à presidência do Parlamento Europeu e foi derrotado por Nicole Fontaine. Soares tinha algum prestígio na Europa – e esse passo em falso levou-o a perder um pouco da aura que criara (até pela sua reacção à derrota, dizendo que a mulher que o venceu deveria era estar em casa de avental).

Depois foi a recandidatura, também insensata, à Presidência da República Portuguesa, em 2005.   Soares tinha saído de Belém venerado pelos portugueses quase como um Rei – e este novo passo em falso, agravado pelo facto de nem sequer ter conseguido ficar em 2.º lugar, retirou-lhe algo do que ganhara na passagem pela Presidência.  Outra coroa de louros de Soares tinha que ver com o modo como evitara a bancarrota em 1983, quando era primeiro-ministro, impondo (com a ajuda de Ernâni Lopes) uma corajosa política de austeridade.

Ora, as violentas críticas que agora faz à austeridade ofuscam de certo modo esse seu feito, lançando legítimas dúvidas sobre a convicção com que agiu naquela época.

Mas a história não acaba aqui.  A imagem de marca que Soares construiu no período escaldante do pós-25 de Abril foi  a de um político pragmático e moderado, que não embarca em aventuras e não se deixa tentar pelas ilusões revolucionárias, muito em voga nos meios intelectuais daquela época.

Ora, a linguagem radical e descabelada que agora utiliza, e a participação em manifestações frentistas de braço dado com o PCP e o Bloco de Esquerda, está a apagar essa imagem moderada. Finalmente, em 1975, quando o PCP dominava a rua e promovia sucessivas manifestações para assustar e condicionar o Governo, Soares insurgiu-se contra o «poder popular», afirmando o primado do voto nas urnas sobre as acções de rua, e bateu-se pela realização de eleições.  Ora, hoje afirma que o actual Governo, saído do voto, é «ilegítimo» – e valoriza sobretudo os desfiles nas ruas e as manifestações anárquicas de descontentamento.

Pedra atrás de pedra, Mário Soares vai desconstruindo a estátua que ergueu dentro da cabeça de muitos portugueses. Nessa tarefa de destruição sistemática colaboram jornalistas sem grandes escrúpulos que sabem que, quando lhe colocam um microfone à frente, Soares não resiste a falar e diz normalmente uma bojarda qualquer.

E há directores de jornais que, na ausência de manchete para o dia seguinte, ligam a Soares sabendo que dali sairá qualquer coisa «chocante» que ajudará a disfarçar a falta de notícias. Mas não é decente explorar assim as pessoas. O passado de Soares não merecia estes tratos de polé.





domingo, 24 de novembro de 2013

Sobre o serão esquerdista da Aula Magna


A diferença

Vasco Pulido ValentePúblico, 23.11.2013

O dr. Mário Soares não percebe, ou não quer perceber, que prevenir contra a violência é ao mesmo tempo um incitamento à violência. E pior do que isso nunca explica em que espécie de violência está a pensar.

Não pensa com certeza nas barricadas de Vítor Hugo ou da revolução de 1848. Não pensa também numa revolta do Exército, que está unido e relativamente resignado. Ou numa insurreição popular como a «Maria da Fonte». Quando muito, pensa em um ou outro distúrbio na Avenida da Liberdade ou no centro do Porto, com uma quantidade respeitável de pancadaria e algumas montras partidas. Só que essa violência seria em princípio inconsequente e não mudaria nada, excepto a taxa dos juros. E o espectáculo de que o país não gosta e a que não está habituado talvez viesse mesmo a fortalecer o Governo.

Mas Quinta-Feira, 21, oito corporações policiais (da Judiciária ao SEF) afastaram as barreiras e subiram a escadaria da Assembleia da República sem encontrar resistência. Obviamente os polícias não queriam agredir os polícias; e, se os manifestantes tivessem acabado por entrar na sala de sessões e escavacado meia dúzia de bancadas (o que não é difícil), em que situação ficaria o poder? Ou chamaria o Exército para, como se dizia, «restabelecer a ordem», ou ficaria à mercê do primeiro cidadão que o achasse, como Vasco Lourenço, digno de paulada. De qualquer maneira, daqui em diante as forças de segurança não garantem segurança nenhuma: se não se mexeram contra os colegas para cumprir a lei, porque se incomodariam agora com um pequeno tumulto de civis, que não conhecem e com quem provavelmente simpatizam?
E há mais. Se o Governo e o Presidente da República ficassem paralisados por falta de protecção, quem os substituiria? Não existem nos partidos corpos paramilitares. Uma intervenção externa não é sequer imaginável. Então, o quê? Uma junta de generais, com um título pomposo, que não hesitaria em acabar com a democracia e com o Estado social. A indignação da Aula Magna, como anteontem se exprimiu, leva rapidamente ao desastre; e o desastre, a suceder, não tardaria a liquidar tudo o que é estimável e bom em Portugal. Espanta que o dr. Soares não compreenda isto. E espanta a irresponsabilidade com que o Governo tratou as polícias. Existe uma diferença essencial entre um civil e um homem da GNR ou da PSP: os civis não andam armados. Um facto que aparentemente ainda não entrou na cabeça dos nossos chefes democráticos.