sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A simpatia jornalística pelos gays

Pedro Vassalo

Escrevo usando dois chapéus: o de ex-jornalista e de co-organizador da manifestação em defesa da família, no sábado em Lisboa. Reivindico o estatuto de ex-jornalista, porque este artigo versa sobre a cobertura do Públiico à manifestação de sábado. Paralelamente, reconhecendo-me como parte interessada, o assunto toca-me mais fundo e admito, até, perder alguma objectividade na análise ao texto do Públiico. Mas não me parece ser o caso. Vamos por isso aos factos: das 97 linhas, a 4 colunas, que o Públiico dedicou ao assunto (página 8, de 21/02), no texto assinado por Maria Lopes, 69 das linhas (ou seja mais de 70% da notícia) foram dedicadas a descrever uma “confusão entre activistas da Acção Nacional (AN) e um grupo de gays”. Convém, agora, cuidado na análise. Não se tratou de confrontos físicos, nem de empurrões ou desordem pública. Tratou-se apenas de “insultos fortes de dezena e meia (15) de rapazes da AN …enquanto os defensores do casamento gay lhes acenavam e mandavam beijos”. Já antes, Maria Lopes escrevia que (os gays) “estavam várias dezenas de jovens com tambores, apitos, serpentinas e cartazes”. Ou seja, a própria jornalista reconhece que a contra manifestação dos gays (sem qualquer espécie de autorização e com o único intuito de provocar) era superior, em número, aos que se deixaram provocar. Maria Lopes poderia ter-se interrogado sobre a existência desta contra manifestação, convocada com o único propósito de provocar. Mas nada. Poderia ter meditado que a ser assim não poderá nunca haver qualquer manifestação ordeira, como é pressuposto da democracia, porque bastam umas dezenas de arruaceiros que distraiam os jornalistas do conteúdo da mensagem do desfile. Como foi o caso! Poderia ter perguntado aos gays como se sentiriam se fosse ao contrário (imagina-se o coro de protestos). Poderia ainda ter notado que das milhares de pessoas na manifestação (a PSP refere 5 mil), apenas “dezena e meia”, ou seja 0,003%, se deixou arrastar na infeliz troca de insultos com os gays. Poderia ainda perceber que sendo (qualquer) manifestação um acto público, não é possível (mal ou bem) impedir quem quer que seja de participar. Finalmente poderia, num exercício de equilíbrio jornalístico, referido que a organização fez um esforço visível para ignorar os apupos dos gays apelando aos “rapazes da AN” para que fizessem o mesmo. E eu sei disso, porque estava lá (identificado) a fazer esse trabalho. Caso a jornalista quisesse, era impossível não ter percebido isso.

Maria Lopes não fez nada do muito que poderia ter feito. Preferiu gastar mais de 70% do espaço a dar voz a contra manifestantes que, insisto, sem qualquer autorização, só lá estavam com o propósito de provocar, e chamar a atenção dos media. Conseguiram.

Finalmente, poderia lembrar que nenhuma organização não partidária, ou sindical, junta 5 mil pessoas na Av. Liberdade. Poderia ter perguntado pelas dificuldades, como e quem paga o quê, o que os move. Nada! Poderia recordar que houve mais de 92 mil assinaturas reunidas em 3 semanas por causa disso (quantas é que os gays reuniram?). E não vale dizer que a Igreja patrocinava a manifestação. Porquê? Porque da última vez que a Igreja “desfilou” em Lisboa, fechou a cidade de Entre Campos aos Restauradores (com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima). Eu sei que é difícil ao jornalista distanciar-se do facto, não se envolver e procurar a objectividade. Mas Maria Lopes exagerou. E ninguém lhe agradecerá, a começar pela comunidade gay, que não acredito se reveja naqueles arruaceiros e no método.

PS: Fui jornalista mais de 12 anos. Colaborei em rádios (RR e RDP) em Jornais (Correio da Manhã, Século, 24 Horas, Jornal de Negócios, Semanário) e na RTP. Fui “comentador / cronista” em rádios, jornais e na RTP. Chefiei secções de economia e fui autor de programas de informação.




1 comentário:

Unknown disse...

Li com muita atenção o seu post, e quero expressar a minha total consonância com o conteúdo do mesmo.

A meu ver, a atitude da jornalista do Público revela uma total falta de profissionalismo, pois em vez do seu dever de isenção jornalística, preferiu noticiar o evento certamente pelo prisma que mais lhe interessava, acabando no fundo por desvalorizar a projecção mediática do mesmo.

E há uma explicação para isso. É que os discursos dos vários oradores, proferidos durante a manifestação, foram muito duros e tinham recados muito claros para vários sectores do poder político relativamente a esta verdadeira revolução nos costumes e à tentativa de imposição de uma "moral do Regime" a que a sociedade portuguesa vai assistindo.

Em minha opinião, certamente não convinha realçar esse aspecto para a opinião pública, pois isso acabaria por resultar no engrossar das fileiras daqueles que se opõem ao "casamento" homossexual.

Considero que as reportagens televisivas também ficaram muito aquém do que seria de esperar para um evento com esta importância.

É claramente o lóbi gay a funcionar na comunicação social.

Penso que, qualquer pessoa que tenha estado na manifestação e que esteja a acompanhar na blogosfera as repercussões da mesma, sente claramente que os activistas do lóbi homossexual ficaram incomodados com esta clara manifestação de desafio ao poder lcaico e socialista por parte de tantas famílias portuguesas.

José Filipe Sepúlveda da Fonseca
Associação Monárquica Arautos d'El-Rei