João Cândido da Silva, Jornal de Negócios
Como diria José Berardo, também conhecido por Joe, há coisas que são "silly" em todas as "seasons".
Por exemplo: o choro e ranger de dentes que estourou em redor do negócio de venda da Vivo, com o objectivo de definir a quem devem ser entregues os louros.
Uma operação com a envergadura estonteante de 7,5 mil milhões de euros, acompanhada da aquisição de uma nova posição accionista no capital de um concorrente e feita em tempo recorde é o pretexto apetitoso para a refrega. E mostra-se de tal forma irresistível para quem, de perto ou de longe, acompanhou os progressos do negócio, que até conseguiu extinguir a mais leve noção do ridículo em protagonistas que costumam cultivar uma pose sisuda, decorada com botões de punho.
José Sócrates, praticante indefectível do auto-elogio, deu o arranque. Numa das suas já lendárias piruetas, passou uma esponja sobre o primeiro-ministro que alegou ser a Vivo uma participação de interesse estratégico nacional. E passou a aprovar a operação e o encaixe de investidores que, ao tempo da utilização da "golden share", eram acusados de apenas conviver bem com os ganhos de curto prazo. Se não fosse ele, nada se teria feito. Um coro amestrado concordou.
Seguiu-se o presidente brasileiro. Não quis ficar para trás e não ficou. Em poucos dias, surgiram nos media as notícias e comentários que davam a intervenção de Lula da Silva como um elemento determinante de todo o processo. Sem ele, nada se teria feito. Já eram dois para ocupar o lugar cimeiro do pódio mas nada impediu que um coro amestrado concordasse, nem sequer que a história terminasse por aqui.
Para a assembleia geral de accionistas em que a "operação Vivo" foi aprovada, estavam reservadas mais reivindicações de glória. Henrique Granadeiro disse que o órgão encontrou soluções onde outros criaram problemas. Se quisesse justificar os apreciáveis salários e prémios que se pagam a este nível, não teria encontrado melhor formulação. Feitas as contas, por esta altura o pódio já tinha três pretendentes, todos disponíveis para ficar na mó mais de cima, porque sem Granadeiro nada se teria feito. O coro acenou em concordância.
Zeinal Bava, com o toque cosmopolita que só se adquire depois de frequentar Wall Street, escolheu uma revista brasileira de grande circulação e influência para se juntar ao grupo. Fez as declarações suficientes para se perceber que se vê, e quer ser visto, como o verdadeiro herói. Uma parte do coro assentiu, outra não gostou. Como não há quatro sem cinco, José Maria Ricciardi, presidente do banco de investimento que seguiu toda a operação, não quis ficar apenas com a comissão, generosa, e dispensar a coroa de louros, vistosa. Sem o banqueiro, garantiram fontes anónimas mas oportunas, nada se teria feito.
Nos grandes negócios, nada disto é inédito. Há uns dias, numa entrevista publicada no "Expresso", António Mexia declarou ter trazido a Autoeuropa para Portugal, afirmação que deve ter mexido com os nervos de Fernando Faria de Oliveira e Luís Mira Amaral. O que devia surpreender é que estas lutas para ver quem fica com o penacho são travadas por quem não se cansa de falar em colaboração, parcerias e trabalho de equipa. Se o objectivo fosse o de traçar uma caricatura, não seriam capazes de melhor.
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