João J. Brandão Ferreira
«Esta mascarada enorme
Com que o mundo nos aldraba
Dura
enquanto o povo dorme
Quando
acordar acaba.»
António
Aleixo
A
análise que fizemos, em pretérito artigo, sobre o último «Dia de Portugal» o
que, pelo andar da carruagem será o próximo feriado a ser extinto – Camões
também disse que morria com a Pátria – não ficaria completa se não nos
debruçássemos sobre a derradeira e badalada reunião do «Grupo de Bilderberg»
(GB), para a qual foram convidados os Drs. Paulo Portas e António Seguro.
Não
pretendo fazer um levantamento das «relações» entre este grupo cheio de
sumidades, que apelidam de reflexão, e o nosso país – que já tarda em ser
escrito e conhecido – mas, tão-somente, refletir sobre este episódio.
Acrescentaremos,
apenas que, aparentemente, o GB, só começou a interferir – antes disso não se
lhes dava confiança para tal – com o nosso devir colectivo, quando numa das
suas reuniões (19/4/1974, ocorrida no hotel d’Arbois, em Megéve (Alpes
Franceses), propriedade de Edmond Rotschild, se terá dado luz verde à alteração
de regime em Portugal – coisa que, certamente, nunca terá passado pela cabeça
de nenhum capitão de Abril…
A
partir daí – e por razões e processos que são objecto de especulação – foi
alcandorado a uma espécie de «secretário» ou «representante permanente» do GB,
na antiga Ocidental Praia Lusitana, o Dr. Pinto Balsemão, grande amigo dos Reis
de Espanha, também convivas nestes eventos. Provavelmente desde 1983.
É ele
que escolheu a já longa lista de «convidados» portugueses (que se saiba nenhum
recusou o convite) de onde, certamente, por coincidência têm saído quase todos
os Primeiros -Ministros, desde então.
Quem
lá está agora foi excepção à regra e ou nos enganamos muito, ou já está selada
a sua sorte e a da futura dupla que nos governará. Isto é, como os do «clube»
nos governarão através deles…
A
reunião que decorreu entre 6 e 8 de Junho, no hotel «The Grove», no
Hertfordshire, a norte de Londres reveste-se, porém, de uma novidade que
importa realçar: a de que foi a 1.ª vez que tal evento, pelo menos em Portugal,
foi amplamente noticiado, inclusive nas televisões, e em que se revelou a
identidade dos participantes.[1]
Até
agora era tudo secreto e tudo se escondia, quanto muito falava-se à socapa e
aparecia uma pequena notícia de duas linhas a um canto inferior de uma página
de jornal, e «a posteriori»…
O mais
importante do que se passa, contudo, não é divulgado: a organização, agenda,
qualquer ideia debatida e conclusões.
Porque
se terá mudado de estratégia? Só pode ser por duas razões: o terem ganho uma
confiança e sensação de impunidade, que dispensa rodeios e, ou, por já não se
conseguir impedir o total secretismo da coisa.
Ora o
que se passa levanta um conjunto de questões nada despiciendo, eis algumas:
- Que organização é esta, quais os fins que persegue, a quem se liga e a quem obedece?
- Que figura do Direito Internacional encarna, se alguma?
- Alguém os elegeu? Como ficamos em termos de «Democracia»?
- Quem os controla?
- Como é que uma tal entidade se insere no quadro das Relações Internacionais?
- Porque é que os governos dos países em que as reuniões têm lugar – já houve uma em Portugal, na Quinta da Penha Longa, de 3 a 6 de Junho de 1999 – as autorizam e a que título lhes montam e pagam, a segurança?
- Quem é o Dr. Pinto Balsemão para fazer os convites que faz e como é que os convidados o reconhecem com autoridade para tal? Quais os compromissos a que se obrigam?
- E são convidados a que título? Pessoal? Técnico? Político?
- Será que a participação nestas reuniões é compatível com a função de Conselheiro de Estado?
- Que explicação terá dado o Dr. Seguro, ao PS, para lá ir? Te-lo-á mandatado para fazer alguma intervenção?
- E o Dr. Portas, sendo membro do Governo foi autorizado por este a lá ir? E quando voltou fez algum relatório sobre o que lá se passou, ou tirou uns dias de férias e foi dar um passeio?
- O Parlamento é apenas uma marionete no meio disto tudo ou um depósito de putativos recrutáveis para futuros convites?
- Já me esquecia, o PR que ainda tem uma palavra a dizer sobre Política Externa (o que, em boa verdade, Portugal deixou de ter, faz décadas) foi ouvido e achado?
Tudo
isto se passa como se fosse a coisa mais normal do mundo, quando o que na
realidade acontece é que assistimos à subversão completa da soberania dos
Estados e das Nações e onde o termo «Democracia» apenas serve de capa e moldura
a um verdadeiro embuste político que, aliás, tem sido primorosamente perseguido
desde meados do século XVIII!
E
nenhuma das possíveis respostas às perguntas que elencámos parece poder
desmentir.
Bem-vindos
à realidade.
Se
gostaram, não se macem e deixem-se estar.
[1] Até o comentador-mor do reino se referiu ao mesmo!
Sem comentários:
Enviar um comentário