sexta-feira, 5 de setembro de 2014


Aterrorizam o Iraque e cobiçam Portugal


Leonídio Paulo Ferreira, Diário de Notícias, 11 de Agosto de 2014

Já aparecem pintados de negro Portugal e Espanha, esse Al-Andaluz que sempre fascinou os árabes e agora alimenta a cobiça dos jihadistas. E também a Grécia, o resto dos Balcãs e até a Áustria. É um mapa que mostra tanto as ambições como a ignorância do Estado Islâmico, o grupo que controla muito da Síria e do Iraque e que nestes dias ganhou ainda pior fama por ameaçar exterminar os cristãos e outras minorias.

Comecemos pela ambição: liderado por um autoproclamado califa, o Estado Islâmico é um fenómeno com meses, que aproveitou a guerra civil na Síria e o caos pós-Saddam para conquistar território nos dois lados da fronteira e tomar Mossul, a segunda cidade do Iraque. E se uma coligação entre os curdos e os xiitas iraquianos, agora com cobertura aérea da América, o impede de marchar sobre Bagdad, a verdade é que a recente mudança de nome, cortando de Estado Islâmico do Iraque e do Levante a parte que limitava os seus horizontes, denuncia uma estratégia.

O Médio Oriente é pequeno para Abu Bakr al-Baghdadi; o objectivo é conquistar parte da Europa, metade de África e toda a Ásia até ao rio Indo. E aqui entra a ignorância, apesar de os escassos dados biográficos sobre o líder do Estado Islâmico o dizerem doutorado: no mapa a circular na net, e que os espanhóis do ABC mostraram na edição online, surgem territórios que chegaram a ser islamizados durante séculos como a Península Ibérica ou os Balcãs, mas onde hoje são escassos os seguidores do islão. Contudo, esquece uma Índia onde a minoria muçulmana supera os 150 milhões e até o Bangladesh, tão fiel a Alá, que já se chamou Paquistão Oriental.

E inclui a Áustria (que repeliu os dois cercos otomanos a Viena), excluindo, porém, a Sicília, durante 200 anos muçulmana, ou Malta, cuja língua deriva do árabe do ano 1000.

Não é nova a obsessão dos jihadistas com o Al-Andaluz, exemplo de islão tolerante com capital em Córdova. Há discursos em que Al-Zawahiri, sucessor de Bin Laden à frente da Al-Qaeda, refere a Península Ibérica como «sob ocupação». Mas a banalização de uma ameaça não a elimina. Assusta a facilidade com que uma célula islamita organizou os atentados de 2004 em Madrid. E que tantos europeus estejam a ser atraídos pela «guerra santa», unindo-se a um grupo que junta líbios e iemenitas, egípcios ou paquistaneses. Voltando ao ABC, ainda ontem revelava que duas adolescentes espanholas tentavam ir para o território do Estado Islâmico servir de escravas sexuais, após «um processo acelerado de fanatização». Sem alarmismos, Portugal tem de estar vigilante. O relatório de segurança interna falava já dos jihadistas. E pode haver uma dezena com nacionalidade portuguesa. Como tem reafirmado Fernando Reinares, um especialista espanhol, pelo seu passado islâmico os dois países ibéricos têm uma «vulnerabilidade diferencial» em relação a outros europeus.





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