Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 31 de Maio de 2015
O prof. da Nóvoa promete abraçar o «legado» dos ex-presidentes que o apoiam, na medida em que um chefe de Estado «não deve agir nem contra nem a favor dos governos ou oposições». É bem visto: Jorge Sampaio usou Santana para sossegar o PS e patrocinar a ascensão do lendário Sócrates. Soares passou o segundo mandato em campanha contra Cavaco. Eanes cozinhou um partido privativo.
O prof. da Nóvoa exigirá que a Europa abandone as «políticas de austeridade». Embora pareça impossível, há mesmo indivíduos convencidos de que a abundância se estabelece por decreto.
O prof. da Nóvoa não aceitará sem referendo «mais medidas que retirem soberania a Portugal». A ideia subjacente é a de que temos escolha, ou uma escolha que não conduz à bancarrota num ápice.
O prof. da Nóvoa deseja que os portugueses travem «um amplo debate» sobre a Europa. É igual a discutir a FIFA na assembleia geral do Olhanense: não se espera que a Europa trema.
O prof. da Nóvoa prestará «atenção especial ao combate à corrupção e à promiscuidade entre a política e os negócios». Presumivelmente, ainda não acredita que será o candidato do PS.
O prof. da Nóvoa propõe um «compromisso claro na luta contra a pobreza e contra o aumento das desigualdades». É o modelo grego ou, na versão tropical, «bolivariano», que em geral acaba com a classe média de rastos e a igualdade obtida na partilha da miséria.
O prof. da Nóvoa defende que «um presidente pode ser muito mais do que tem sido, (...) pode ser alguém que junta, que une, que abre o futuro quando caminha ao lado das pessoas». Curioso: se alinharmos umas palavras a seguir às outras forma-se qualquer coisa semelhante a uma frase.
O prof. da Nóvoa assume que «ser poeta também é essa inabilidade para o mundo do lucro». Tradução: de lirismo em lirismo até ao prejuízo final.
O prof. da Nóvoa acha que «não podemos continuar a forçar a emigração dos nossos jovens mais qualificados». Evidentemente, muitos dos idosos sem qualificação perceptível ficaram por cá.
O prof. da Nóvoa admite ser um candidato que «incomoda muita gente». O termo adequado é embaraça. Embaraça.
A conclusão a que cheguei é que o prof. da Nóvoa é de facto uma inteligência superior. A quem? No mínimo, aos espécimes que o levam a sério – os que fingem levá-lo a sério por estratégia ou gozo não contam.
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