quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Um guia para os perplexos
Pedro Magalhães, Observador, 28 de Setembro de 2015
Como é que a coligação pode ter hipótese de ganhar esta eleição? As sondagens ainda podem mudar? Esta é a história que eu acho que sei contar com alguma segurança. Qual é a vossa?
«Como é possível que a coligação governamental possa chegar a estas eleições sem ser castigada eleitoralmente?»
A coligação vai ser castigada eleitoralmente. Vamos imaginar que no dia 4 tinha os 38% que o agregador do Popstar lhe dá neste momento. Presumindo que a participação eleitoral não muda muito de 2011 para 2015, isto implicaria que a coligação perderia 700 000 votos, 1 em cada 4 dos votos de 2011. Desde 1974, PSD+CDS só tiveram menos em conjunto nas eleições de 2005. Perdas acima dos 12 pontos percentuais para um governo só tivemos de 1983 para 1985 para os partidos do Bloco Central (mas isso foi no ano do PRD), de 1991 para 1995 para o PSD, e de 2002 para 2005 para a coligação PSD/CDS. Claro que, se tiver algo mais perto dos 41% que a Católica lhe atribui neste momento, as perdas serão menores. Mas mesmo assim seriam cerca de 550 000 votos, 1 em cada 5 dos de 2011.
«OK, mas mesmo assim como é possível que a coligação tenha hipótese de ganhar esta eleição, depois de quatro anos de austeridade?»
Quatro anos de austeridade sob este governo talvez seja esticar um pouco a coisa. A medida convencional de ajustamento orçamental é a mudança no défice estrutural, o défice calculado em relação ao PIB potencial, retirada a componente cíclica (sei que há controvérsias mas para este efeito não fazem grande diferença). A evolução ao longo dos últimos anos na Europa do Sul foi descrita há pouco tempo num artigo da Bloomberg:
Primeiro, note-se que a austeridade já vinha de 2009 para 2011. Segundo, sendo certo que se acentua claramente de 2011 para 2012, desacelera de novo até 2014 e – surpresa – inverte de 2014 para 2015, segundo as previsões. O FMI anda-se a queixar há uns tempos, mas o PM já explicou que são uns grandes pessimistas.
«OK, mas isso é demasiado abstracto. As medidas tomadas inicialmente geraram mesmo assim uma espiral recessiva, não foi?»
Não, não foi. O gráfico abaixo mostra, no eixo y da direita, a taxa de desemprego (fonte). A partir de Fevereiro de 2013, o desemprego começa a descer.
Do lado direito vemos as intenções de voto do conjunto PSD+CDS (até Maio) e da coligação pré-eleitoral PSD/CDS (a partir daí). Os partidos de governo perdem continuamente até Setembro de 2012, perdem ainda mais de forma súbita nesse mês (toda a gente sabe porquê), atingem o ponto mínimo em Julho de 2013 (também toda a gente sabe porquê), e a partir daí mantêm-se mais ou menos estáveis. Não deve ser um acaso.
Podemos também olhar para o crescimento do PIB (por trimestre, real, em relação ao trimestre anterior, fonte) e veremos mais ou menos o mesmo:
«OK, mas as pessoas não andam a ver dados económicos em sites do Eurostat ou do BCE. O que importa é a percepção que têm, e essa não melhorou.»
Melhorou sim, pouco mas melhorou. O gráfico abaixo mostra o valor médio das respostas à pergunta «Como avalia a situação actual da economia portuguesa», numa escala de 1 (muito má) a 4 (muito boa), do Eurobarómetro. De Novembro de 2013 para Junho de 2014 subiu, e continuou a subir.
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