quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
O lóbi homossexualista no ministério da Educação
O grande educador sexual
A chamada «educação sexual»: preparação ideológica
para a
pedofilia e para a
homossexualidade.
|
Inês
Teotónio Pereira, Diário de Notícias, 10 de Dezembro de 2016
Já no próximo ano lectivo, uma criança com 5 anos pode
aprender educação sexual no pré-escolar através de temas pedagógicos como este:
«Desenvolver uma atitude positiva em relação ao prazer e à sexualidade.» Cinco
anos.
Já aos 10 é possível assistirem a aulas sobre
contraceptivos e aborto. Dez anos. Não sei porquê mas em Portugal convive-se
bem com o conceito do Estado Grande Educador: não aflige ninguém que o Estado
nos entre pela casa dentro e imponha como é que os nossos filhos devem ser
educados. Não é quais as competências que as crianças devem adquirir a
Matemática, Geografia ou Português. Isso é fascismo. Não, é mesmo o que eles
devem pensar, como devem ser formados. Imaginem que há por aí famílias que só
querem explicar aos filhos o que é o aborto depois de eles saberem como nascem
os bebés? Um perigo. Ora, na dúvida sobre quem são os pais, o Estado
antecipa-se através dos bancos da escola a educar os filhos segundo os cânones
de directores-gerais de Educação e técnicos que lhes vão recarregando as armas
com relatórios e estudos. Mas ninguém se chateia.
O conteúdo do documento intitulado Referencial da Educação para a Saúde e o facto de ainda ninguém ter
invadido o Ministério da Educação como consequência lógica deste documento é
prova dessa indiferença. Se fosse eu a entrar em casa da minha vizinha para
explicar à sua filha de 10 anos a diferença entre a interrupção voluntária da
gravidez e a não voluntária ou a dinâmica positiva do prazer e da sexualidade,
acredito que a minha vizinha chamasse a polícia. E bem. Mas, se for a
professora de ciências, não faz mal nenhum. Afinal, ela está apenas a educar
para a saúde.
Um Estado socialista
como o nosso vai até onde o deixam ir e com a convicção perigosa de quem se
acha mais habilitado do que os pais para educar os filhos. Seja em educação
sexual, alimentação, religião ou laicidade. Um Estado como o nosso não toca à
campainha para entrar em nossa casa. Entra. E é isto o mais sinistro do
documento referencial: o abuso. É que estas são portas que não se abrem a
estranhos e muito menos à figura abstracta que é o Estado.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
CARTA ABERTA AO REI DE ESPANHA
João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador
Mui Católica Majestade, Filipe VI
Ao pisar de novo a terra da Nação dos Portugueses, iremos recebê-lo com
a galhardia da lusa gente, até porque, se está entre nós oficialmente, é porque
foi convidado.
Lamentavelmente não temos hoje um Rei com igual majestade para o
receber, pois não há nada como os laços telúricos do sangue e da terra,
irmanados pelo espirito de servir e na crença do sobrenatural, que nos
ultrapassa, para o correcto entendimento e tratamento das coisas e dos homens.
Território de Olivença e seu termo. |
Todavia, não lhe irei dispensar as boas vindas.
Tal não tem a ver com as 18 invasões de que já fomos alvo durante uma
História que partilhámos como vizinhos – nós também já as retribuímos algumas
vezes; tão pouco tem a ver com a má memória que a dinastia (Filipina) – que V.
Majestade herdou no nome – por cá deixou para todo o sempre.
Como sabe estamos prestes a comemorar mais um aniversário da sua feliz
expulsão, através da aclamação de um Rei natural, num feriado há pouco reposto,
que uma decisão política «infeliz», tinha extinguido.
Sabe, por cá sempre tivemos uns quantos compatriotas com
responsabilidades, que se distraem das coisas importantes, quiçá fundamentais…
Olivença, no Alentejo. |
V. Majestade certamente compreende o que estou a dizer, pois no seu
Reino não se pode gabar de estar isento deles, também.
Tão pouco não lhe darei as boas vindas, pela má vizinhança –
chamemos-lhe assim – que os governos que os vossos súbditos têm elegido, têm
feito àqueles pedaços de terra rodeados de mar, a que chamamos «Ilhas
Selvagens».
Espero que o bom senso e a diplomacia vão tratando da questão a
contendo.
Castelo de Olivença, mandado construir por D. Dinis. |
Também não queremos esquivar-nos a dar-lhe as boas vindas e à senhora
sua esposa, por causa do «ataque» à economia e, sobretudo, às finanças
portuguesas.
Nesse campo apenas tenho que vos tirar o chapéu, pois estão a fazer,
naturalmente, o vosso papel. O problema maior, mais uma vez, é o facto de andar
por cá muita gente distraída, para não lhes chamar outras coisas, sabe?
Igreja de Santa Maria Madalena – Olivença. |
Não, aquilo que me leva a não lhe dar as boas vindas tem a ver com o
facto da Coroa e da República Espanholas, não terem restituído a Portugal a
portuguesíssima vila de Olivença e seu termo, que ocupam ilegalmente, «manu
militare», desde 1815 (eu diria, desde 1807).
V. Majestade sabe certamente os contornos do caso e tem seguramente à
mão, excelentes diplomatas e historiadores que lhe podem dar conta dos
pormenores.
Calçada portuguesa, na «Plaza de Espana» – Olivença. |
Vou apenas recordar-lhe o que um deles, o Ministro dos Negócios
Estrangeiros Fedrico Trillo Y Figueroa, disse, em 12 de Setembro de 1997, no
Mosteiro de Santa Maria de Aguiar (Castelo Rodrigo), nas comemorações dos 700
anos do Tratado de Alcanizes. Disse ele, «Na questão de Olivença a Espanha não
tem defesa».
Espero ter ilustrado o ponto.
Porta manuelina nos Paços do Concelho – Olivença. |
Se nada mais fizesse, o reinado de Filipe VI, já teria algo importante
na balança do «deve e do haver», ao tratar este assunto com deve, e limpava uma
nódoa que não ilustra a nobreza dos povos que o ceptro de Castela foi unindo,
ao longo dos séculos.
Com este caso resolvido, ou seja pela retrocessão dos cerca de 750 Km2,
na modalidade a acordar entre Estados e Nações que se desejam amigas e
colaborantes.
Nesse dia eu serei o primeiro a ir esperá-lo, Majestade, e dar-lhe as
boas vindas.
E brindarei com um bom vinho de «Rioja» acompanhado de umas «tapas».
Fica prometido.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
A propósito de Olivença e da visita do novo Filipe
Declaração do Grupo dos Amigos de Olivença
Por ocasião da visita a Portugal do Chefe de Estado de Espanha, Sua
Majestade
o Rei Filipe VI, o Grupo dos Amigos de Olivença, torna público o seguinte:
o Rei Filipe VI, o Grupo dos Amigos de Olivença, torna público o seguinte:
A Questão de Olivença, inquestionavelmente presente na realidade
política luso-espanhola, continua por resolver, uma vez que Portugal não
reconhece a soberania de Espanha sobre o território e considera o mesmo, de
jure, português. Aliás, o Governo português, conforme o comando constitucional,
tem reafirmado publicamente que «mantém a posição conhecida quanto à delimitação
das fronteiras do território nacional» e que «Olivença é território português».
O litígio à volta da soberania de Olivença, propiciando, pela sua
natureza, desconfiança e reserva entre os dois Estados, tem efeitos reais e
negativos no seu relacionamento. Se o confronto se evidencia em episódios
«menores», também é certo que muitos dos atritos e dificuldades verificados em
áreas relevantes da política bilateral terão causa na persistência da Questão
de Olivença.
Porque uma política de boa vizinhança entre os dois Estados não pode ser
construída sobre equívocos e ressentimentos, sendo escusada, inadmissível e
insustentável a tentativa de esconder a existência política da Questão de
Olivença e os prejuízos que ela traz ao relacionamento peninsular, impõe-se que
a mesma seja inscrita — com natural frontalidade e sem subterfúgios — na agenda
diplomática luso-espanhola.
Nas circunstâncias actuais, em que se procura aprofundar essa visão de
amizade fraterna entre os dois povos, assente numa amizade antiga e por
conseguinte experimentada, exigente e desafiadora, e integrando Portugal e
Espanha os mesmos espaços políticos, económicos e militares, com salutar
aproximação e colaboração em vastas áreas, são propícias a que ambos os Estados
assumam que é chegado o momento de discutir, de forma adequada, a Questão de
Olivença e de dar cumprimento à legalidade e ao Direito Internacional.
O Grupo dos Amigos de Olivença, com a legitimidade que lhe conferem 78
anos de esforços pela retrocessão do território, lança um desafio aos
Governantes dos dois Estados para que, no respeito pela História, pela Cultura
e pelo Direito, dêem início a conversações que conduzam à solução justa do
litígio.
O Grupo dos Amigos de Olivença, na véspera do 1.º de Dezembro, dia em
que se assinala a Restauração da Independência Nacional, obra do glorioso e
unânime esforço colectivo do povo português, fazendo seus os anseios de tantos
e tantos portugueses, apela ao Governo de Portugal para que, resolutamente,
leve por diante a sustentação dos direitos de Portugal.
OLIVENÇA É TERRA PORTUGUESA!
VIVA OLIVENÇA PORTUGUESA!
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
O pessimismo explicado
aos leitores de esquerda
João Miguel Tavares, Público, 22
de Novembro de 2016
Sais de fruto. Pastilhas Rennie. Comprimidos Omeprazol. Não se consegue
escrever um texto a criticar o Governo de António Costa e a situação do país
sem receber em troca uma receita médica, diligentemente prescrita pelos
leitores de esquerda. O estado de saúde de quem votou no PSD ou no CDS
inspira-lhes mais cuidados do que o estado do país: todo o nosso pessimismo é
justificado por razões de azia e descontrolo dos sucos gástricos, devido à
substituição do Governo de Pedro Passos Coelho pelo Governo de António Costa. É
a homeopatia aplicada ao debate político — se diluirmos o pessimismo, o
optimismo floresce, e Portugal voltará a convergir com a Europa.
Numa coisa, pelo menos, os leitores de esquerda têm razão: esta visão do
estado do país e dos desafios que ele enfrenta é de tal forma alucinada que nem
litro e meio de sais de fruto refreia a indigestão. Imagine, caro leitor, que
você está endividado até ao pescoço. O seu ordenado cresce 1,5% ao ano (vamos
ser optimistas), tem uma dívida gigantesca a crescer ao ritmo do seu ordenado,
e paga ao banco juros anuais de 3,5%.
Diga-me, caro leitor: com o correr dos meses e dos anos, parece-lhe que
a sua situação irá piorar ou melhorar? Eu diria (já digo há muito tempo) que
não é uma questão de esquerda ou de direita, mas de matemática. Só que em
Portugal há um número espantoso de pessoas que pensa da seguinte forma: a
situação iria piorar, se fosse Pedro Passos Coelho que estivesse no governo,
mas, estando lá António Costa, a situação vai com certeza melhorar. Não há
matemática que perturbe o realismo mágico-ideológico da esquerda nacional.
Ao contrário do que se possa pensar, não sou um espectacular fã da
anterior coligação PSD-CDS. Acho que se perdeu uma oportunidade para reformar
mais profundamente o país. Acho que a explicação daquilo que se fez foi uma
desgraça. Acho que Pedro Passos Coelho ficou preso a um chavão no Governo — «ir
além da troika» —, como voltou a ficar preso a um chavão na oposição — «Vem aí
o diabo» —, o que significa que, nesse aspecto, aprendeu muito pouco. Mas
reconheço o seu esforço e coragem em várias áreas, e a capacidade para diminuir
o défice de 11,2% em 2011 para 3% em 2015 (sem Banif, que foi já uma decisão de
António Costa).
Ora, quando comparamos a indiferença generalizada perante a redução do
défice em 8,2 pontos percentuais em quatro anos (média: 2,05%/ano) com o
entusiasmo que uma possível redução de 0,5 pontos percentuais em 2016 está a
provocar, percebemos que onde Costa arrasa Passos Coelho não é na capacidade de
governar, mas sim na capacidade de se autopromover. Costa vende-se muito bem a
gente cheia de vontade de o comprar, porque está farta do discurso dos
sacrifícios e da tanga.
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
As sucessivas derrotas políticas
de Bergoglio exprimem claramente
a sua fraca influência moral no mundo
FratresInUnum
Bergoglio perdeu no plebiscito que excluiu da política da Colômbia os
criminosos das FARC.
Bergoglio perdeu na Hungria, que continuou com a política
restritiva aos imigrantes islâmicos, protegidos dele.
Bergoglio perdeu na Argentina, que derrotou Kirchner,
beijada e paparicada por ele.
Bergoglio perdeu no Brasil, com o impeachment da Dilma,
momento triste para ele, que causou o tristíssimo cancelamento da viagem
dele.
E Bergoglio perdeu nos Estados Unidos, onde acaba de ser
eleito Trump, que ele, fora das suas atribuições e imprudentemente, atacou.
Na entrevista do vôo de regresso da
América, Bergoglio declarou sobre Trump:
«Uma pessoa que pensa em construir muros, quem quer que seja, não é
cristão. Este não é o Evangelho», disse Bergoglio aludindo às declarações do candidato à presidência dos
EUA que planeia construir 2 500 km de muro ao longo da fronteira entre os EUA e
o México e deportar 10 milhões de imigrantes ilegais.
Os católicos americanos devem votar nele? «Eu não me meto,
apenas digo que este homem não é cristão, se ele diz essas coisas. É preciso
ver se ele disse isso ou não. Sobre isso dou-lhe o benefício da dúvida.»
Por sua vez, Trump não o deixou sem resposta:
«O Papa é uma figura muito política. Para um líder religioso, pôr em
dúvida a fé de uma pessoa é vergonhoso. Eu sou orgulhoso de ser cristão e como
Presidente não vou permitir que a Cristandade continue a ser constantemente
atacada e enfraquecida, como está acontecendo com o actual Presidente norte-americano».
E na sua página do Facebook, Donald Trump
respondeu assim a Bergoglio:
«Se e quando o Vaticano for atacado pelo ISIS, que, como todos sabem, é
o troféu mais cobiçado pelo ISIS, eu posso assegurar-lhes que o Papa teria
desejado e rezado para que Donald Trump fosse o Presidente, porque comigo isso
não teria acontecido. O ISIS já teria sido erradicado, ao contrário do que está
a acontecer agora com os nossos políticos, que são tudo conversa e nada de
acção».
Fazendo
bem as contas...
Pois bem, vê-se que a influência de Bergoglio sobre o mundo é mínima, ao
contrário do que pretendem os progressistas, cuja insistência em
propagandeá-la apenas revela a sua real irrelevância moral. Um verdadeiro
Papa, com autoridade moral, fala por si mesmo, não precisa dessa corte de
propagandistas maçónicos. A simpatia que o povo tem por Bergoglio é apenas pela
sua figura, pelo personagem apresentado como humilde e simpático. No
entanto, sobre o que vai pelo mundo Bergoglio diz o contrário do que dele se esperaria.
Triunfo de Trump: luzes e sombras
Republicanos comemoram a vitória de Donald Trump |
Credo
Chile, 14 de
Novembro de 2016
O que triunfou nos Estados Unidos foi claramente uma
reacção conservadora, desgostosa com os rumos que norteiam a política
norte-americana nos últimos anos.
As consequências das eleições norte-americanas podem de
tal modo significar uma grande reviravolta na situação do mundo, que seria
completamente sem sentido uma «análise da semana» que não se referisse ao
triunfo de Trump.
Abordamos a questão do ponto de vista estritamente
apolítico e dos interesses da civilização cristã, que são as perspectivas
do Credo Chile.
O que triunfou nos Estados Unidos foi claramente uma
reacção conservadora, desgostosa com os rumos que norteiam a política
norte-americana nos últimos anos. E o que nela houve de substancial confirma-se
no amplo apoio obtido pelos candidatos republicanos em ambas as Câmaras.
Tudo isso indica uma recusa da opinião pública
norte-americana àquela corrente de pensamento predominante entre os democratas,
conhecida como «politicamente correcta», isto é, ao establishment.
Não obstante essa reacção anti-establishment seja
profundamente saudável, ela não deixa ao mesmo tempo de projectar algumas
sombras inquietantes.
Vejamos sumariamente ambas as perspectivas que se abrem
com a nova presidência de Trump.
O saudável dessa reacção é tão evidente, que salta à
vista. Se havia uma candidata «politicamente correcta», esta era Hillary
Clinton. Ela representava todas as «conquistas sociais», a liberdade completa
em matéria de costumes morais, aborto, uniões homossexuais, identidade de
género etc. De onde a sua profunda hostilidade à religião, em especial à
católica, e a tudo que fosse conservador.
Nem precisa dizer que, a julgar pela fisionomia do casal Clinton, trata-se da foto do momento em que Hillary reconheceu a sua derrota nas recentes eleições |
A derrota eleitoral desse paradigma não pode deixar de
ser vista com enorme alívio, e com simpatia e esperança o triunfo do candidato
opositor.
Com o triunfo dos conservadores na pessoa de Trump surge
sem embargo uma preocupação, cuja importância internacional não havia tido até
aqui todo o seu destaque. É que, juntamente com os aspectos «conservadores»
daqueles que sustentam posições «politicamente correctas» — como a defesa das
identidades nacionais, da família, da religião etc. —, projectam-se algumas
dúvidas, consistentes em saber até onde chegará o «incorrecto», ou, mais
precisamente, quem guiará a «incorrecção» dessas políticas.
Um exemplo nos permitirá aquilatar essa preocupação. O
actual presidente da Rússia.
Como se sabe, a propaganda russa apresenta um Putin [foto] que estaria
liderando há vários anos uma política interior no bom sentido do
«incorrecto». Na última semana, por exemplo, inaugurou uma enorme estátua
de 25 metros de altura, de São Wladimir (o seu próprio nome…), o fundador da
Rússia cristã.
No entanto, simultaneamente, quase como outro braço do
mesmo corpo, está promovendo a expansão das suas fronteiras à custa dos países
libertados do jugo da ex-URSS, e ameaça aumentar ainda mais a dita expansão.
Faz parte da sua posição não excluir nem condenar os
períodos de Lénin e de Stalin, e menos ainda a influência ideológica e
territorial da ex-URSS sobre o mundo inteiro. Esses tentáculos russos
ex-soviéticos celebraram nas últimas semanas acordos com a Venezuela de Maduro
e a ditadura de Ortega na Nicarágua, não obstante, ou precisamente por isso,
ambos não esconderem a sua filiação marxista.
Ou seja, as simpatias despertadas por Putin pela
propaganda que o apresenta como favorável à família e contra o aborto (apesar
de nada ter feito de substancial nesse sentido) diluem-se quando vistas sob o
prisma do seu ânimo expansionista e favorável à época soviética.
No caso do Presidente eleito Trump, inquietam as suas
declarações destemperadas como candidato; as suas promessas isolacionistas; a
sua intenção de deixar a OTAN e a Coreia do Sul cuidarem das suas próprias
defesas; os apoios internacionais suscitados numa vasta rede de partidos
«populistas» em crescimento na Europa; a falta de referências morais e religiosas
desses populismos; os vínculos com a Rússia de Putin; as diferentes
posições assumidas ao longo da sua carreira etc. Todo esse conjunto de
factores não pode deixar de projectar uma pesada sombra no porvir.
Resumamos o dilema
Quando o «politicamente incorrecto» constitui a oposição
e a parte débil do panorama, as suas posições em geral são boas, pois
definem-se como contrárias a todo o mal do «politicamente correcto». Mas como
se comportará essa política «incorrecta» quando passa a ser governo e
representa a parte forte? Se ela se deixar levar somente pelos caprichos do
«populismo», o futuro não será tão promissor, pois dos temores populistas
puderam sair o nazismo, o socialismo, o peronismo, e muitos outros «ismos» de
nefastas consequências para a civilização cristã.
Ainda é cedo para dizer se essas sombras darão origem a
chuvas benéficas ou a tempestades devastadoras. Mas seria ingénuo abster-se de
levantar o problema e somente festejar, fechando os olhos para os aspectos
sombrios do panorama.
terça-feira, 15 de novembro de 2016
Rapaz ou rapariga: uma escolha?
Cláudia Sebastião
«Já sabem se é menino ou menina?», é a pergunta mais ouvida por casais à
espera de bebé. O enxoval, o nome e o quarto do bebé são preparados a partir
daí. Mais tarde, começarão as perguntas sobre as diferenças entre meninas e
meninos. Agora imagine que não respondia ou que dizia: «Teres pipi não
significa que sejas menina. Podes decidir mais tarde.»
Diogo Costa Gonçalves é professor auxiliar da
Faculdade de Direito de Lisboa. Em 2003, foi consultor da Conferência Episcopal
para uma carta pastoral sobre a ideologia de género. À FAMÍLIA CRISTÃ faz
questão de dizer que o termo não significa igualdade de direitos entre homens e
mulheres. Então o que é?
Diogo Costa Gonçalves explica tratar-se de uma
estrutura de pensamento antropológica cuja característica fundamental é
«entender a masculinidade e a feminilidade como produtos puramente culturais,
sendo absolutamente indiferente a realidade genital ou cromossomática com que
as pessoas nascem; defende que a identidade sexual é produzida por um contexto cultural
patriarcal e machista que visa subjugar a mulher». Ou seja, ninguém nasce homem
ou mulher, torna-se homem ou mulher pela educação e pela cultura. Assim, o
objectivo da ideologia de género é ter uma sociedade sem sexos.
Para isso, desde os primeiros anos é preciso
promover a troca de papéis e eliminar as diferenças de comportamento entre
meninas e meninos. Maria José Vilaça é psicóloga e afirma que nesta ideologia
«tudo aquilo que eu sou passa a ser determinado pela minha preferência sexual e
não pelo meu corpo. Há uma espécie de divisão entre aquilo que eu sou e aquilo
que o meu corpo é.»
Em Portugal, Diogo Costa Gonçalves explica que o
primeiro passo da ideologia de género foi dado na lei do divórcio sem culpa. Ou
melhor, numa das epígrafes do registo civil. «O que era ‘poder paternal’ passou
a chamar-se ‘poder parental’. Foi uma manipulação de linguagem importante
porque o termo ‘paternidade’ está muito relacionado com a geração biológica.
Era preciso desconstruir socialmente a figura do pai e da mãe.»
«Ideologia de género já está nas escolas»
A Comunidade de Madrid aprovou a Lei contra a
LBGT fobia que obriga a integrar a realidade homossexual, bissexual,
transexual, transgénero e intersexual nos conteúdos escolares transversais de
todas as escolas madrilenas, públicas e privadas.
Diogo Costa Gonçalves tem sete filhos e diz que
isso já está a acontecer em Portugal. «A ideologia de género está cá. Os
programas de educação sexual são em bom rigor de ideologia de género em todos
os graus de ensino. Promove-se a confusão da identidade sexual. Isto é, tenho
de descobrir se sou mesmo heterossexual ou não e diz-se que a família é uma
construção cultural tão válida como qualquer outra relação.»
Maria José Vilaça concorda e fala da sua
experiência: «Hoje, nas escolas, falo com miúdos de 16 ou 17 anos que não
tiveram uma namorada e a primeira ideia que têm é: ‘Será que eu sou homossexual
ou bissexual?’ Já não lhes passa pela cabeça serem heterossexuais.»
Escolas de Madrid ensinam ideologia de género
Manuel Martínez-Sellés é médico cardiologista em
Madrid. Vê a aprovação da lei LGBT «com enorme preocupação». Como investigador,
afirma que «a ideologia de género está em total contradição com o conhecimento
da ciência sobre a biologia e a realidade física. Infelizmente, esta ideologia
já está a transformar escolas em fábricas de crianças sem sexo.»
Arantzazu Perez Grande é professora primária:
ensina língua e matemática a crianças de seis anos. Católica, não se pode
recusar a aplicar a lei, porque «podemos ser vítimas de sanções económicas ou
até, no meu caso, perder o emprego, porque sou funcionária pública». Esta
professora é mãe de três crianças. «Claro que me preocupa, porque quero poder
dar aos meus filhos a educação e as crenças que eu tenho. Não quero que o
Estado lhes diga o que têm de pensar ou no que têm de acreditar.»
Manuel Martínez-Sellés e Maria José Vilaça
acrescentam que nos Estados Unidos da América o Colégio de Pediatria publicou
um documento intitulado A ideologia de género prejudica as crianças. Nesse documento, os pediatras norte-americanos
defendem que «a sexualidade humana é uma característica biológica binária
objectiva» e que «ninguém nasce com um género, todos nascemos com um sexo.
Mulheres e homens são diferentes?
Há investigações que comprovam isto mesmo.
Independentemente das diferenças culturais, sociais e económicas, homens e
mulheres são diferentes. Richard A. Lippa, da Universidade da Califórnia, fez
uma investigação sobre preferências profissionais, com 200 mil entrevistas a
pessoas de 53 países da Europa, América, África e Ásia. O investigador concluiu
que os homens tendem para trabalhos mais técnicos, enquanto as mulheres
preferem as ocupações sociais. Acontece em todos os países e continentes.
Também o professor Simon Baron-Cohen, do Trinity College da Universidade de
Cambridge, autor de Sex differences in human neonatal social perception, constatou que os bebés meninos, com apenas
horas de vida, se fixam mais em objectos mecânicos e as bebés meninas dão mais
atenção a rostos humanos.
Dicas para os pais
Que podem os pais fazer? Diogo Costa Gonçalves
diz que «é preciso criar espírito crítico nos educadores. Nenhum dos nossos
pais se sentou connosco a explicar porque é que o casamento é entre um homem e
uma mulher. Era dado mais do que adquirido. Neste momento, vou ter de fazer
isso com os meus filhos.»
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
500 anos depois, de joelhos diante de Lutero
O Papa Francisco e o pastor luterano Martin Junge assinam uma «Declaração Conjunta». O heresiarca Lutero definiu, no século XVI, o Papa como «apóstolo de Satanás» e «anticristo». |
Roberto De Mattei
O Concílio de Trento pronunciou um ditame irrevogável sobre a
incompatibilidade entre a fé católica
e a protestante.
e a protestante.
Dizemo-lo com profunda dor. Parece uma nova religião aquela que aflorou
em Lund no dia 31 de Outubro, durante o encontro ecuménico entre o Papa
Francisco e os representantes da Federação Luterana Mundial. Uma religião em
que são claros os pontos de partida, mas obscura e inquietante a linha de
chegada.
O slogan que mais ressoou na catedral de Lund foi o da necessidade de um
«caminho comum» que leve católicos e luteranos «do conflito à comunhão». Tanto
o Papa Francisco quanto o pastor Martin Junge, secretário da Federação
Luterana, se referiram nos seus sermões à parábola evangélica da videira e dos
ramos. Católicos e luteranos seriam «ramos secos» de uma única árvore que não
dá frutos por causa da separação de 1517. Mas ninguém sabe quais seriam esses
«frutos». O que católicos e luteranos parecem ter agora em comum é apenas uma
situação de profunda crise, ainda que por motivos diferentes.
O luteranismo foi um dos principais factores da secularização da
sociedade ocidental e hoje está agonizando pela coerência com que desenvolveu
os germes de dissolução que portava dentro de si desde a sua irrupção. Na
vanguarda da secularização estiveram os países escandinavos, apresentados por
longo tempo como modelo do nosso futuro. Mas a Suécia, depois de ter-se transformado
na pátria do multiculturalismo e dos direitos homossexuais, é hoje um país onde
apenas 2% dos luteranos são praticantes, enquanto quase 10% da população segue
a religião islâmica.
A Igreja católica, pelo contrário, está em crise de autodemolição porque
abandonou a sua Tradição para abraçar o processo de secularização do mundo
moderno na hora em que este entrava na sua fase final de decomposição. Os
luteranos procuram no ecumenismo um sopro de vida, e a Igreja católica não
adverte nesse abraço o mau hálito da morte.
«O que nos une é muito mais do que aquilo que nos divide», foi
ainda dito na cerimónia de Lund. Mas, o que une católicos e luteranos? Nada,
nem sequer o significado do baptismo, o único dos sete sacramentos que os
luteranos reconhecem. Para os católicos, o baptismo elimina de facto o pecado
original, enquanto para os luteranos ele não pode apagá-lo, porque consideram a
natureza humana radicalmente corrupta, e irremovível o pecado. A fórmula de
Lutero «peca com força, mas crê com maior força ainda» resume o seu pensamento.
O homem é incapaz de praticar o bem e não pode senão pecar e abandonar-se
cegamente à misericórdia divina. A vontade corrompida do homem não tendo
nenhuma participação nesse acto de fé, no fundo é Deus que decide, de forma
arbitrária e inapelável, quem se condena e quem se salva, como deduziu Calvino.
Não existe liberdade, mas apenas rigorosa predestinação dos eleitos e dos
condenados.
Santo Inácio de Loyola combateu com muita coragem e eficácia a heresia luterana |
A «Sola Fede» é acompanhada pela «Sola Scriptura». Para os católicos, a
Sagrada Escritura e a Tradição são as duas fontes da Revelação divina. Os
luteranos eliminam a Tradição porque afirmam que o homem deve ter uma relação
directa com Deus, sem a mediação da Igreja. É o princípio do «livre exame» das
Escrituras, a partir do qual fluem o individualismo e o relativismo
contemporâneos. Este princípio implica a negação do papel da Igreja e do Papa,
que Lutero define como «apóstolo de Satanás» e «anticristo». Lutero odiava
especialmente o Papa e a Missa católica, que ele queria reduzir a mera
comemoração, negando-lhe o carácter de sacrifício e impugnando a transubstanciação
do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo. Mas, para os católicos,
a renovação incruenta do sacrifício de Cristo existente na Missa é a fonte
principal da graça divina. Trata-se de simples incompreensões e
mal-entendidos?
O Papa Francisco declarou em Lund: «Também nós devemos olhar, com
amor e honestidade, para o nosso passado e reconhecer o erro e pedir perdão.»
E ainda: «Com a mesma honestidade e amor, temos de reconhecer que a nossa
divisão se afastava da intuição originária do povo de Deus, cujo anseio é
naturalmente estar unido, e, historicamente, foi perpetuada mais por homens do
poder deste mundo do que por vontade do povo fiel.» — Quem são esses homens
de poder? Os Papas e os santos, que combateram o luteranismo desde o início? A
Igreja, que o condenou durante cinco séculos?
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
Legalizar a eutanásia?
Isabel Galriça Neto
É errado por princípio e perigoso pelos resultados
https://pt.scribd.com/document/328639766/Legalizar-a-eutanasia
segunda-feira, 24 de outubro de 2016
Wikileaks.
O que dizem os e-mails
da campanha de Hillary Clinton?
João de Almeida Dias, Observador, 19 de
Outubro de 2016
A Wikileaks teve acesso a uma lista de 50 mil
e-mails do director de campanha de Hillary Clinton. Alguns são comprometedores
e podem fazer mossa na democrata. Conheça alguns exemplos.
Numas eleições normais, qualquer adversário
de Donald Trump já estaria a correr alegre e descontraidamente para a meta,
deixando para trás um candidato republicano soterrado debaixo da sua avalanche
de polémicas. «Mas é justo dizer que estas eleições não são normais», como
Barack Obama fez questão de referir num discurso da Convenção do Partido
Democrata, em Julho.
Um factor que contribui amplamente para a
singularidade destas eleições é que, do outro lado de Donald Trump, está
Hillary Clinton — uma mulher que, depois de mais de 30 anos na linha da frente
da política norte-americana, conseguiu um currículo invejável e extenso. Só
que, para lá das linhas onde aparecem cargos como «senadora por Nova Iorque,
2001-2009» ou «secretária de Estado, 2009-2013», muitos vêem inúmeras notas de
rodapé que apontam para várias polémicas, das quais Hillary Clinton surge como
uma candidata demasiado calculista, ambígua e desrespeitadora das regras.
A nota de rodapé mais recente no currículo de
rodapé é da cortesia do site Wikileaks, do activista australiano Julian Assange
— que, acredita que o departamento
de Estado norte-americano poderá ter sido ajudado pela Rússia —, que tem
divulgado a conta-gotas aquilo que diz ser um total de 50 mil e-mails que
estavam na conta de e-mail de John Podesta, o chefe máximo da campanha da
candidata democrata. Alguns mails contêm informações comprometedoras, outras
dúbias e também há algumas que são inocentes e rotineiras. Os e-mails começam
em 2000 e, para já, vão até Março de 2016. Em baixo, conheça o que está em
causa nalgumas das mensagens mais controversas.
Hillary Clinton já conhecia a pergunta antes
do debate
Num e-mail enviado a 12 de Março deste ano
por Dona Brazile, na altura vice-presidente do Comité Nacional Democrata (meses
depois, em Julho, passou a ser presidente interina, depois de outro escândalo
com e-mails ter levado à demissão da então presidente, acusada de favorecer
Hillary Clinton em detrimento de Bernie Sanders nas primárias) para a directora
de comunicação da campanha, Jennifer Palmieri, surgia a seguinte frase no campo
«Assunto» do e-mail: «De vez em quando, eu consigo ter as perguntas antes do
tempo».
O tema era o debate em formato de town
hall, agendado para o dia seguinte e que era da responsabilidade da
CNN. Dentro do e-mail, Dona Brazile, que também era comentadora residente na
CNN, avisou a campanha de Hillary Clinton que lhe ia ser colocada uma questão
sobre a pena de morte. Dona Brazile chegou a colocar o texto da pergunta no
e-mail. No dia seguinte, um dos moderadores lançou uma pergunta a Hillary
Clinton sobre esse tema, com um texto ligeiramente diferente mas inegavelmente
idêntico ao disponibilizado por Dona Brazile.
Dona Brazile nega a acusação, tal como a CNN.
A equipa de Hillary Clinton quis mudar a data
das primárias no Illinois
para prejudicar os candidatos moderados do
Partido Republicano
Em Novembro de 2014, praticamente meio ano
antes de Hillary Clinton anunciar a sua candidatura à Casa Branca, já havia
quem preparasse o seu caminho na retaguarda. Robby Mook, também da equipa de
Clinton, enviou um e-mail a John Podesta onde ensaiava a hipótese de, através de uma troca de
favores, conseguir adiar as primárias no Estado
do Illinois de Março para Abril ou Maio de 2016.
A ideia de Robby Mook era conseguir o aval do speaker do parlamento estatal do Illinois, o
democrata Mike Madigan, para que a data fosse alterada. O processo de persuasão
seria feito pelo chefe do staff de Obama na Casa Branca e um lobista
do Illinois. Segundo a proposta de Robby Mook, aquele Estado teria mais 10% de delegados a
nível nacional se as primárias fossem mudadas para Abril e mais 20% se as empurrassem até Maio.
Segundo Robby Mook, esta seria uma maneira de
controlar o tom da campanha republicana, que os democratas queriam que fosse o
menos moderada possível. «O objectivo global é mudar as primárias no Illinois
de meados de Março, onde eles ainda têm apoio para candidatos republicanos
moderados depois da maioritariamente sulista Super Tuesday [que ocorreu a 1 de
Março]», escreveu. Se as primárias fossem adiadas até Abril ou Maio, a
probabilidade de os candidatos mais moderados (naquela altura, John Kasich e
Marco Rubio) perderem força até lá seria maior.
Apesar dos esforços da campanha de Clinton,
as primárias no Illinois aconteceram a 15 de Março. No final de contas, Hillary
Clinton venceu com apenas mais 1,8% do que Bernie Sanders. Do outro lado,
venceu Donald Trump — o mais radical entre os republicanos.
A equipa de Clinton preocupada com a postura
da candidata
sobre o escândalo do e-mail privado
Está visto que, quando o assunto é a troca de
correspondência electrónica e Hillary Clinton está envolvida, o mais certo é
haver uma polémica. O primeiro capítulo desta colecção de histórias diz
respeito aos tempos de Hillary Clinton como secretária de Estado no primeiro
mandato de Barack Obama, 2009-2013. Durante esse período, contra as regras e
potencialmente colocando em perigo informações classificadas como top
secret e confidential,
Clinton usou uma conta de e-mail privada que estava alojada num servidor que
tinha na garagem da sua casa, em Chappaqua, em Nova Iorque.
Em plena campanha, Hillary Clinton foi
ilibada de qualquer acusação pela procuradora-geral, Loretta Lynch, depois de
uma recomendação nesse sentido do director do FBI, James Comey (leia mais sobre
este assunto aqui).
Em Agosto de 2015, uma das conselheiras da
campanha, Neera Tanden, escrevia a
John Podesta um e-mail titulado «os meus pensamentos» onde manifestava
preocupações sobre a postura de Hillary Clinton perante este caso. «Eu sei que
isto do e-mail não tem sido honesto. Eu sei muito que não. Mas eu temo que a
incapacidade dela de dar uma entrevista e comunicar de forma genuína
sentimentos de remorso e arrependimento está a tornar-se num problema de
personalidade (ainda mais do que de honestidade)», escreveu Neera Tanden.
«Ela precisa de fazer isto. Não vejo outra
maneira de avançarmos até Outubro», concluiu.
Desde então, Hillary Clinton tem adoptado uma
postura de arrependimento sempre que este tema é referido em debates e nas
(pouquíssimas) entrevistas e conferências de imprensa que tem dado.
Alguns jornalistas tinham uma relação próxima
com a equipa de Clinton
Pelo meio dos 50 mil e-mails da conta de John
Podesta, alguns contam com a assinatura de jornalistas de política de alguns
dos jornais mais conhecidos nos EUA. Nalgumas trocas de mensagens, pode ver-se
como alguns jornalistas e a equipa de Hillary Clinton mantinham uma relação de
proximidade, muitas vezes culminando no condicionamento do trabalho que saía a
público.
Num e-mail escrito pelo jornalista Mark Leibovich, da revista The New York
Times, este entrega um conjunto de citações que retirou de uma entrevista que
fez com Hillary Clinton, pedindo permissão para publicá-las à assessora de
campanha Jennifer Palmieri. «Esta conversa foi bastante interessante… Adoraria
ter a opção de usá-la», escreveu o jornalista. No final, depois de uma troca de
e-mails, a assessora limita o uso de algumas expressões e de citações inteiras.
«Foi um prazer fazer negócios contigo!», despediu-se Jennifer Palmieri.
Noutra ocasião, o jornalista Glenn Thrush, do
site Politico, envia um e-mail a
John Podesta com parágrafos que dizem directamente respeito ao chefe de
campanha de Hillary Clinton. A ideia do jornalista era ter a aprovação para
publicação daquelas partes em particular. «Por favor não partilhes ou digas a
ninguém que eu fiz isto», escreve o jornalista. «Diz-me se não f*di nada.»
Além do Wikileaks, também o site Intercept
— fundado pelo jornalista Glenn Greenwald, conhecido por ter dado a conhecer os
ficheiros de Edward Snowden — teve acesso a uma nota interna da campanha de Hillary Clinton escrita em Janeiro de 2015, onde se dizia como «colocar uma história»
num jornal por intermédio de um «jornalista amigável». Em particular, é
referido o exemplo de Maggie Haberman, do The New York Times. «Nós temos tido
uma relação muito boa com Maggie Haberman do Politico [onde a jornalista
trabalhou até Fevereiro de 2015] durante o último ano», lia-se naquela nota.
«Ela já nos preparou algumas histórias no passado.»
Os discursos em Wall Street pagos a peso de
ouro
Já durante as eleições primárias do Partido
Democrata, Bernie Sanders insistiu várias vezes para que Hillary Clinton
divulgasse as transcrições dos seus discursos pagos a peso de ouro em eventos
privados de bancos de Wall Street e outras instituições financeiras — mais ou
menos a mesma insistência que Hillary Clinton agora usa para exigir a Donald
Trump que torne pública a sua declaração fiscal. De acordo com a CNN, Hillary e
Bill Clinton fizeram 729 discursos pagos entre Fevereiro de 2001 e Maio de
2015. Em média, receberam 210 mil dólares por cada um.
Agora, as transcrições de três desses
discursos foram tornadas públicas pela Wikileaks, que os encontrou nos e-mails
de John Podesta. Nestas mensagens em particular, a equipa de Hillary Clinton
destacou as partes que poderiam levar a interpretações negativas por parte dos
seus adversários.
Num discurso de 2014, Hillary Clinton admitiu
que está «algo distante» das preocupações da classe média. «Eu não estou a
tomar posição em nenhuma medida, mas penso que há um sentimento crescente de
ansiedade e até de raiva neste país por causa da ideia de que o jogo está
combinado. E eu nunca senti isso quando era mais nova. Nunca», disse.
Em 2013, referiu num discurso que «na
política é preciso ter uma posição em público e outra em privado». Esta citação
tem sido usada contra Hillary Clinton pela campanha de Donald Trump, que estava
a explicar à audiência os meandros da negociação política, recorrendo ao
exemplo do filme «Lincoln» (2012), de Steven Spielberg, onde é demonstrado como
o presidente Abraham Lincoln conseguiu convencer várias congressistas a permitirem
o fim da escravatura, consagrado na 13.ª emenda da Constituição. «A política
faz-se como as salsichas. É desagradável, sempre foi assim, mas no final das
contas por vezes chegamos onde temos de estar», disse.
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