Maria João Marques, Observador,
20 de Julho de 2016
A culpa é dos indivíduos que escolhem matar e
violar, bem como da religião e da ideologia que a tal os inspira. Mas têm
cúmplices, que os tratam como crianças inimputáveis e ainda dão lições de
moral.
É daquelas pessoas que dá palmadinhas compadecidas
nas costas do muçulmano que violou a rapariga ocidental de minissaia, afinal
veio de uma cultural onde é normal maltratar mulheres, e por cá está
desempregado? Acha, como Ana Gomes, que a culpa dos atentados terroristas na
Europa é da austeridade? Defende que os pobres diabos, sejam violadores ou
terroristas, têm de ser compreendidos, assimilados, receber muito dinheiro dos
estados sociais europeus e, sobretudo, desculpados? Considera que os vilões
verdadeiros são os que denunciam que os costumes islâmicos são aberrantes, concretamente
para a condição feminina, e não podem ser tolerados na Europa? De cada vez que
há denúncia de vilanias islâmicas, prefere escrutinar o mensageiro para tentar
repudiar a mensagem? Vê como de uma lógica cristalina clamar contra o
patriarcado e o heteropatriarcado e, simultaneamente, recusar aceitar que as
comunidades islâmicas na Europa têm propensão para violar e brutalizar
mulheres, e acumular com defesa de regimes que enforcam ou afogam gays? Repete
vinte vezes por dia o mantra «o islão é uma religião de paz»?
Pois bem, é conveniente reconhecer que as pessoas
iluminadas que responderam sim a dez por cento destas questões são cúmplices do
caldo culpabilizante das vítimas que propicia os crimes dos islâmicos. Duvido
que o à vontade criminal fosse tão grande se não notassem a solidariedade dos
iluminados. Se não desconfiassem que a sua origem os vai livrar de
investigações ou acusações mal um idiota útil grite xenofobia. Se não
percebessem que a sociedade europeia se deixa vitimizar.
Vamos rever a matéria. O mais importante religioso
muçulmano de Portugal é acusado pela mulher (que aparece com a cara
ensanguentada em fotografias – certamente foi contra uma porta, como é costume)
de violência doméstica. O que sucede? Os jornais param rapidamente de falar
sobre o assunto e o Presidente da República dos afectos escolhe fazer na
mesquita do acusado uma cerimónia no início do seu mandato.
Na Suécia, as violações por imigrantes de primeira
e segunda geração, sobretudo de origem islâmica, são de tal ordem que o país já
é conhecido por «capital de violações do Ocidente». Mas as autoridades escondem
tanto quanto podem a origem dos violadores e chegam a culpar as mulheres por
serem violadas: é que as desmioladas adoptam comportamentos não tradicionais ao
papel do género feminino. Há até uma política sueca de esquerda – Barbro
Sorman, em gritante necessidade de transplante cerebral – que defendeu no
twitter que uma violação feita por um sueco é mais grave do que outra cometida
por um imigrante. Afinal é «normal os refugiados quererem violar mulheres» e
que aos suecos se exige que cumpram «standards mais altos que os imigrantes».
Deixemos de lado o tom colonialista deste discurso:
são uns selvagens que não cabem nos altos padrões da civilização Ocidental.
Iluminemos antes uma política de esquerda de um país europeu que vê como menos
grave um imigrante não querer cumprir o articulado legal para crimes violentos
do país que o acolhe – e os jornalistas que não incomodem mais os violadores
muçulmanos.
Na Alemanha os abusos sexuais na passagem de ano
foram abafados tanto quanto se pôde: os números, a origem dos abusadores, a
existência dos crimes. No norte de Inglaterra a polícia preferiu conviver com
adolescentes abusadas e prostituídas a investigar homens de origem
paquistanesa.
Estamos nisto. Os atentados terroristas são culpa
de George W. Bush e Tony Blair e Durão Barroso e da invasão do Iraque – esta é
a tese desse equívoco parlamentar do PS que se chama Tiago Barbosa Ribeiro. Que
França seja particularmente visada pelos terroristas, quando de forma ostensiva
criticou e se distanciou e não participou da invasão do Iraque, não atormenta
estas almas intelectualmente desafiadas. (Que se lembre que o 11 de Setembro de
2001 venha antes da dita invasão em 2003 também só se pode atribuir a
picuinhice de gente islamofóbica da minha extracção.)
As violações e os abusos sexuais são culpa das
mulheres, claro, que não se tapam nem facilitam nesta tarefa de permitir aos
homens islâmicos lidar com as mulheres na Europa da maneira como estavam
acostumados nos países de origem das suas famílias. Não somos acomodatícias e é
bem feito que sejamos punidas por isso.
Um muçulmano que batia na mulher mata dezenas com
um camião na Promenade des Anglais em Nice. Não teve nada a ver com ser
islâmico: o pobre coitado devia sofrer com o patrão e tinha objecção de
consciência ao fogo de artifício. Um refugiado afegão de 17 anos mata uns
tantos num comboio na Alemanha. Apesar da surpreendente coincidência de ser
islâmico (ninguém estava à espera), aposto que não foi religiosamente motivado,
devia enjoar quando anda de comboio, ou o maquinista não o deixou visitar a
locomotiva ou outra razão semelhante. E já temos um muçulmano (hein? quem
diria?) a esfaquear uma mulher e meninas porque estavam com roupa escassa. Mas
– novamente – não houve motivações religiosas nenhumas, ora essa, deve ter sido
algum caso de bikinifobia.
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