João Gonçalves, Jornal de Notícias, 8 de Agosto de 2016
Costa move-se sempre no
limiar do delito político. Começou por derrubar Seguro depois de este ter dado
duas vitórias ao partido. A seguir, recuperou algum pessoal do «socratismo»,
desprezando ostensivamente Sócrates, quando percebeu que a «teoria do poucochinho»
se ia virar contra si. O poucochinho das legislativas levou-o a arranjar
comparsas que lhe dessem o que faltava. Começou, aliás, a tratar disso mal leu
o destino na opinião pública. Arranjou uma maioria parlamentar, esquadrinhada
em três ou quatro papeletas bilaterais, que lhe permitiu um Governo
minoritário, um programa, um Orçamento falacioso e outras bizarrias que vão
saindo no «Diário da República». Os
comparsas do Bloco e do PC não se preocupam excessivamente com detalhes. O que
ainda há menos de um ano seria alvo de intensa berraria e «luta», agora faz-se
de conta que não existe. Para estes beneméritos, não há aumento directo ou
encapotado de impostos, não há caciquismo PS e não existem reclamações acerca
do estado geral da nação. A ausência da «direita» do poder basta a estas almas
hipócritas como consolo. A tolerância destes novos beatos, sobretudo os
invertebrados e laicos do Bloco, para com o Governo de Costa também se nota em
coisas como as que envolveram o ministério do dr. Brandão e três secretários de
Estado por causa da bola e de uma empresa privada. Do primeiro, veio a «fonte»
que induziu este jornal a um título, desmentido adequadamente na edição
seguinte, sobre um juiz que alegadamente seria «interessado» numa sentença
desfavorável ao ministério. Este episódio induzido deu azo a um artigo
repelente do «Público» que mais parecia um relatório pidesco sobre a vida
privada do juiz. O assunto, não encerrado, dos secretários de Estado seria
simplesmente grotesco e irrelevante, se as reacções oficiais não tivessem sido
o absurdo que foram, revelando uma falta de escrúpulos pela inteligência do
comum dos cidadãos. Não existem «usos e costumes» que desculpem atitudes,
activas ou passivas, que anulam qualquer tipo de autoridade política ou administrativa
e que desprestigiam o Estado. Tudo e todos somados, parece estarmos entregues a
amorais simples, ou seja, a políticos que ignoram o imperativo categórico da
interiorização, da vinculação absoluta e da espontaneidade dos
deveres éticos. É o Portugal contemporâneo de que Oliveira Martins narrou, como
ninguém, o «exemplo singular de desordem moral», das «podridões do egoísmo» e
dos «defeitos próprios de aventureiros».
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