O coronel Jaime Neves, figura preponderante dos operacionais do golpe militar de 25 de Novembro de 1975, desvalorizou as críticas do PCP à sua anunciada promoção a general, noticia a Lusa.
«Quem é que em 1975 pôs o PCP na ordem? Quem é que travou o PCP? Quem é que os obrigou a encolherem-se? É natural que eles não gostem de mim, eu também não tenho simpatia por eles. No entanto respeito-os. É natural que sempre que possam mandem uns pontas-de-lança mandar umas bocas ou façam uns comunicados. Mas eu tenho uma coisa a dizer: os cães ladram, a caravana passa», disse.
«Jaime Neves é um símbolo de práticas anti-democráticas»
Para Jaime Neves, a promoção traduz um «reconhecimento tardio» da sua acção como chefe militar. «Foi a frase que o senhor Chefe de Estado-Maior do Exército usou, reconhecimento tardio. E tive que dizer que sim. E obrigado e fico à espera. Disse-me que o diploma tinha sido enviado para o senhor Presidente da República e que quando viesse falaria comigo. Estou à espera», relatou.
O problema de África
«Na altura não me apercebi bem do que era abandonar África, não dei o devido relevo. Se eu me tivesse apercebido que íamos abandonar África com certeza que não sei se entraria [na revolução de Abril]. Pelo menos não tomava parte activa», disse.
Para Jaime Neves, o «problema de África tinha que ser resolvido», mas os responsáveis políticos do pós-25 de Abril em Portugal demitiram-se de «controlar a independência».
«A independência devia ter sido controlada por nós. Angola e Moçambique tinha muitos brancos já nascidos lá. Lembro-me em Moçambique de haver a quinta e sexta geração. Como é, foram ignorados? Tinham que ter uma palavra a dizer», referiu.
E acrescentou: «Havia muitas maneiras de ficarmos em África. Não sou um defensor do Portugal inalienável e indivisível. Se a Guiné não aguentava, tenho muita pena, largávamos a Guiné. Mas isso não nos obrigava a largar Angola e Moçambique. Em Angola, quando se deu o 25 de Abril, não havia um tiro há seis meses.»
«Éramos uma espécie de bombeiros voluntários do país»
O coronel, que se notabilizou na unidade de Comandos em África e na Índia, frisou que participou na revolução de Abril «com convicção», após uma conversa que teve, já em Lisboa, com Otelo. No entanto, tudo começou a mudar uma vez deposto o Estado Novo.
«A seguir ao 25 de Abril eu fiquei em Lisboa com 500 homens. Éramos uma espécie de bombeiros voluntários do país. Fui para o Limoeiro quando os presos se revoltaram e pegaram fogo àquilo tudo, fui para a TAP para ver se metia os gajos a trabalhar, fui para imensas esquadras onde a população fechava os polícias, chamava-lhes nomes não havia autoridade neste país. Não foi para isso que fiz o 25 de Abril. Então eu fiz o 25 de Abril para instaurar no nosso país a indisciplina e a falta de respeito? Isso não», disse.
À «indisciplina e anarquia» Jaime Neves acrescenta outra razão: «Eu não fiz o 25 de Abril para ver o PCP e forças de extrema-esquerda a assenhorarem-se deste país e a mandarem em tudo.»
Hoje com 73 anos, o antigo operacional dos Comandos admitiu ter sido «o homem certo, no local certo e na hora exacta», desvalorizou a notoriedade alcançada em 1975 e disse que «não mudou nada» na sua vida depois de ter protagonizado acontecimentos marcantes da História recente de Portugal.
«Estive sempre a comandar o regimento de comandos e saí em 1981. Depois fui trabalhar 12 anos com o meu amigo e empresário Jorge de Brito e, ao fim desse tempo, uns companheiros meus dos comandos convidaram-me e fundámos uma empresa de segurança», relatou.
«Não posso estar satisfeito com a situação actual do nosso país se olho à minha volta e vejo tudo descontente. Chego eu próprio a pôr em dúvida se valeu a pena. Honestamente», concluiu.
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