quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quem é Cavaco Silva?

Inês Dentinho, A Geração de 60

As palavras de Cavaco Silva na despedida de Bento XVI deixavam adivinhar um Presidente da República corajoso, livre de complexos sobre a laicidade do Estado (sem a comprometer), fiel representante dos anseios da imensa maioria dos portugueses. Teríamos homem? Rapidamente alguém esclareceu: «Então não o conhece? Vamos ver se não está a preparar o caminho para aprovar a leizinha».

Deixemos o conteúdo da lei que permite o Casamento de homossexuais.



Quem é Cavaco?

Um equilibrista que compromete os mandatos que lhe são confiados pensando no percurso que lhe falta percorrer?

Ou um verdadeiro político que distingue as questões de Estado das confissões pessoais?

O que foi a sua vida política? Esteve com o esplendor de Sá Carneiro. Evitou Balsemão na trágica herança. Combateu o Bloco Central (83 - 85) depois da dificuldade das contas, antevendo a prosperidade dos fundos europeus (86).

Teve equilíbrio para acompanhar a onda do novo ciclo, durante dois mandatos. Ultrapassou, com mérito, a derrota nas autárquicas, alcançando uma segunda maioria, no início da década de 90. Pelo caminho, fez a revisão Constitucional (89), que libertou a economia do Estado, e uma reforma fiscal que rendeu frutos. Aproximou o País com alcatrão, fez a expo e recuperou a confiança do mercado interno.

Mas funcionou sempre com a segurança das maiorias (a minoria 85 - 87 foi propedêutica). Sentindo dificuldades na corrida a Belém, traiu o seu braço direito e herdeiro, Fernando Nogueira e, por uma vez, estampou-se com calculado tabu sobre as Presidenciais.

Usou o deserto de dez anos na Academia (95 - 05) para consumo interno: «pontuou» nos artigos sobre o «Monstro» criado por Guterres e sobre a «boa e má moeda» em Novembro de 2004, apunhalando o XVI Governo Constitucional. Pouco depois, com o mesmo cálculo, recusaria o uso da sua fotografia num cartaz das Legislativas do PSD de Fevereiro de 2005 onde surgiam todos os líderes desde a fundação do partido. Cavaco sabia que não seria eleito com um Governo laranja.

Eleito pela Direita, fez um festim de cooperação institucional com Sócrates. Aprovou a Lei do Aborto sem que o Referendo tenha tido uma participação maioritária, como a Constituição impõe. Irritou-se (e bem) com o novo Estatuto dos Açores que lhe pisou os calos e inverteria os poderes do Estado e aprova agora a Lei do Casamento entre pessoas do mesmo sexo, contra todas as razões que soube identificar e que são reais. O veto estava ao seu alcance e ninguém, à esquerda ou à direita, levaria a mal que o usasse. Afinal, foi eleito sem dizer que, consigo, esta lei passaria sem qualquer dificuldade.

Terá uma agenda direitíssima até ao final do mandato apostando na memória curta de quem o elegeu. Mas, para vencer as eleições, basta a qualquer adversário fazer um replay da última intervenção do PR. «Sou muito direito, quando as circunstâncias pessoais o permitem. Contem com o meu cálculo. Comigo, não».




1 comentário:

Anónimo disse...

Um liberal é um liberal, não sei porque esperam que um liberal se comporte como outra coisa.