João Pereira Coutinho, Correio da Manhã
O ensino português não pára de nos abismar. Agora, o país ficou a saber que é possível a um aluno de 15 anos, ‘retido’ no 8.º ano, fazer o exame do 9.º e passar para o 10.º. Não é fácil, garante a ministra. Mas é possível: ‘a vontade move o mundo’, disse a dra. Alçada, que imagina um cábula de 15 anos, a bater com a cabeça nas paredes do 8º ano, mas subitamente tomado por uma vontade irresistível de passar para o 10.º.
Não perturbo esta fantasia. Só estranho que a ministra não se sinta perturbada com a imagem que a fantasia revela. Se um aluno não precisa de frequentar o 9.º ano para passar para o 10.º, para que serve o 9.º ano? Aliás, para que serve estudar no 8.º? Para que servem, no fundo, os rituais clássicos da escolaridade clássica – as aulas, a assiduidade, a avaliação contínua e sazonal – quando é possível dispensar estes empecilhos? No limite, a medida da dra. Alçada permitiria desmantelar todo o sistema e erguer um novo: uma espécie de ‘ensino por correspondência’ onde, em rigor, não existiriam escolas, professores ou alunos. Pena que só sobraçasse o Ministério.
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