Camilo Lourenço, Jornal de Negócios
Nas últimas semanas alguns bancos europeus andaram a dizer aos mercados que não têm (ou têm pouca) divida dos países em risco de bancarrota. Entre os quais Portugal. A estratégia é clara: mostrar aos financiadores que não andam com más companhias. E que, por isso, qualquer desastre que aconteça a essas más companhias não os afecta.
A consequência imediata desta atitude é que bancos portugueses, mesmo os mais sólidos, passaram a ter ainda mais dificuldade em financiar-se nos mercados interbancários.
Em qualquer país sério isto teria provocado duas coisas: fuga de depósitos e toque a rebate na classe política. Porque não pode haver pior sinal, para um país, do que quando os mercados o passam a olhar como um leproso.
Em vez disso o que temos? Um Governo que não corta despesa corrente (e que exulta com a subida de 15 por cento nas receitas do IVA); um parlamento que chumba uma proposta para congelar o TGV e um primeiro-ministro que diz que só corta salários aos políticos porque a isso se comprometeu com o líder da oposição.
Enquanto isso, aqui ao lado, um Governo sem maioria decidiu cortar salários a quem trabalha para o Estado (a Espanha tem, como nós, um défice externo superior a 10% do PIB) e vai avançar com uma reforma laboral mesmo sem acordo de sindicatos e patrões.
Caro leitor, imagine que gere as poupanças que milhares de trabalhadores colocaram num qualquer fundo de pensões. Emprestaria dinheiro a Portugal?
P.S. - Passos Coelho diz que se o Governo tiver de recorrer a ajuda externa, o PSD não se opõe. Os mercados ficaram a saber que o futuro primeiro-ministro acha que o País não se safa pelos próprios meios.
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