domingo, 18 de julho de 2010

Um país agarrado ao Estado

Camilo Lourenço, Jornal de Negócios

Rui Horta, coreógrafo de nomeada, criticou ontem violentamente (na Antena Aberta da RTP N) os cortes de verbas no Ministério da Cultura.

Horta considerou os cortes não democráticos por não terem sido discutidos previamente com as forças vivas do sector. E, para que não restassem dúvidas quanto ao papel da Cultura na Economia, lembrou que se trata de actividades prosseguidas pelo sector privado, não pelo Estado. A esta altura da conversa, eu, entusiasmado, dei por mim a comentar: "Querem ver que o modelo de negócio da Cultura mudou?" Mas a esperança foi sol de pouca dura. Porque de seguida Horta meteu a pata na poça, ao admitir que os subsídios (ou será financiamentos? Ou apoios? Ou ajudas...?) valem "apenas" 40% do sector. Apenas...!

Rui Horta é uma belíssima imagem do Portugal que somos: não há sector que viva sem a ajuda do Estado. Uns de forma explícita, outros mais discretos. Mas todos contam, na boa tradição salazarista, com a sua mão providencial.

Mas não é apenas na subsídio-dependência que Horta se revela o espelho do País. A sua ideia de que o Estado devia ter negociado os cortes, antes de os anunciar, mostra bem porque não saímos da cepa torta. Imagine, caro leitor, se a ministra tivesse ouvido cada "parceiro" da Cultura para saber onde cortar. "Not in my backyard" teria sido a resposta.

É provável que Horta não saiba que é o "complexo de negociação" (leia-se cedência às corporações) que explica a extraordinária engorda do Estado nos últimos 25 anos; e que é essa gordura que explica os (elevados) impostos que pagamos. Mas alguém lhe devia explicar, caramba.


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