Alberto Gonçalves, DN


No fundo, é a diferença entre sofrer um desastre a dormir e correr contra o muro de olhos bem abertos. Além de inúmeras proezas similares, o pudor do eng. Sócrates levava-o por exemplo a orçamentar por baixo os gastos salariais dos funcionários públicos, habilidade que, segundo Vítor Gaspar, explica em parte o famoso desvio de 2 mil milhões nas contas. Além da transparência, o Governo actual parece empenhado na sinceridade. Resta apurar em que é que isso nos beneficia se, desde a taxa extraordinária que remendará metade do desvio dito "colossal" às nomeações com que se atafulha a hospitaleira máquina estatal, até ver a transparência e a sinceridade concentram-se muito mais no aumento dos encargos de quem obedece do que na moderação da despesa de quem manda.
Nas necessidades a sério, das privatizações das grandes empresas públicas à supressão das pequenas, da reforma autárquica aos despedimentos na administração e, em suma, ao anunciado alívio do peso do Estado intrometido e clientelar, o discurso surge enrodilhado em contradições e tende para o opaco. É preciso tempo e ponderação? Provavelmente, embora nas medidas que prejudicam a ralé se tivesse dispensado ambos. Resta-nos esperar, esperar que os presságios se enganem e que o Governo não seja um caso perdido. Por enquanto, é apenas um caso. Perdidos, e sem um adjunto do adjunto do adjunto que nos valha, andamos nós.
Sem comentários:
Enviar um comentário