Alberto Gonçalves, DN
De passagem por Madrid, Joseph Stiglitz aproveitou para se reunir com 300 "indignados". Stiglitz é um Nobel da Economia americano que costuma aconselhar, pelos vistos com excelentes resultados, o Governo do sr. Zapatero (as eleições foram antecipadas para Novembro). Os "indignados" são aqueles meninos não demasiado lavados que acampam há meses no centro da capital espanhola a exigir coisas maravilhosas como o trabalho para todos e a conseguir não trabalhar de todo. Os jornais falam de um encontro profícuo, com Stiglitz de "megafone na mão, roupas desportivas e ténis" a "pedir ideias" à rapaziada, a qual, a julgar pelo megafone, é um tanto surda.
Felizmente a rapaziada não é muda e, numa perfeita troca de galhardetes, disse a Stiglitz exactamente aquilo que Stiglitz diz a quem lhe encomenda o talento. A saber, que o capitalismo é o culpado da crise, que a crise pede regulação dos mercados, que os mercados são malvados e o Estado é bonzinho, etc.
Claro que para os portugueses tudo isto roça o primitivo. Em vez de enviarmos os nossos Nobel a Espanha para aprender marxismo com os "indignados", importámos de Espanha uma particular "indignada" que, de brinde, traz o nosso Nobel incluído, isto se o prémio se transmitir, conforme parece, por matrimónio e herança.
Refiro-me, evidentemente, a Pilar del Río, viúva de José Saramago e presidenta (a senhora, que apesar dos galões não é dada às letras, prefere assim) da fundação com o mesmo nome (o de Saramago, não o dela). Quando não está a reclamar da autarquia lisboeta copiosos "investimentos" para a Fundação, a dona Pilar está na televisão a explicar que nunca recebeu um tostão do Estado português e a aliviar-se de clichés ideológicos já analfabetos em 1968.
Um destes dias, a dona Pilar foi entrevistada por um sr. Goucha incapaz, nos vários sentidos da palavra, de contrariar as insanidades que a chefa, perdão, a presidenta produz com assinaláveis rapidez e presunção. Presunção é o termo: por um lado, a dona Pilar convenceu-se realmente de que Portugal lhe deve reparações de vária ordem e é seu direito reclamá-las. Por outro lado, convenceu-se de que somos tontos o bastante para a levar a sério. Acertou em metade.
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