A língua, escrita ou falada, é a expressão viva da evolução social. Particularmente num mundo sem fronteiras, com novas formas de comunicação e de relação. O português – a 5ª língua nativa mais falada – não foge a essa regra.
Mas uma coisa é a absorção de modificações que se vão verificando, outra é a sua imposição por decreto. O Acordo Ortográfico é o produto não de uma evolução natural e impregnada na prática, não de uma necessidade de defesa e promoção linguísticas, mas tão-só a imposição de iluminados, que o Estado avalizou, menosprezando posições diferentes e ignorando a voz do povo soberano.
O Acordo é também uma expressão de submissão às maiorias populacionais. Neste caso, do Brasil. Esquece-se que uma língua se enriquece na diversidade e se empobrece na «unicidade» por forçada via legal. Claro que há sempre prosaicas justificações mercantis (interesses?) em sua defesa e há quem vá ganhar com tudo isto.
Imagina-se o Governo britânico a uniformizar a grafia de vocábulos escritos nos Estados Unidos ou Austrália (v.g. «realise»/«realize», «center»/«centre» ou «labour»/«labor»)? Ou o castelhano a adaptar, por lei, a escrita de certos vocábulos na Argentina?
Pequeninos geograficamente, teimamos em ser pequeninos patrioticamente. Dizia sabiamente Fernando Pessoa: «A palavra escrita é um elemento cultural, a falada apenas social».
Adivinhem o que se quer dizer com «não me pelo pelo pelo de quem para para desistir»? Na rejeitada e antiga grafia escreve-se: «não me pélo pelo pêlo de quem pára para desistir».
Já não nos chegavam os agravos à nossa língua nas tv e textos públicos, eis que os tornam agora obrigatórios. Os «supônhamos» e «houveram» de braço dado com os «suntuosos» e os «contrassensos».
Enfim, a lógica da batata. Ou da «(H)ortografia».
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