Camilo Lourenço, Jornal de Negócios
Quem esteve nos bastidores da negociação para a venda da EDP
conta que os chineses, referindo-se ao re-financiamento da empresa, terão
perguntado: «Financiamento a 20 anos chega?»
Não sei se a história é verdadeira, mas ela enquadra o
problema maior que afecta as nossas empresas: a obtenção de funding a valores
sustentáveis... e a longo prazo. Problemas que têm de ser avaliados de forma
integrada, agora que nos preparamos para vender a REN aos chineses.
Vamos por partes: têm sentido as preocupações sobre o
controlo do sector da Energia pela China? O Governo diz que não, devido ao
papel do regulador na fiscalização de eventuais «abusos». Face ao «track record» da regulação em Portugal, é legítimo ter dúvidas. Mas
na situação em que estamos, a cavalo dado não se olha o dente...
Agora a questão estratégica: é possível transformar a mera
venda de duas empresas da Energia em algo mais? Se calhar é, e o Governo devia
empenhar-se nisso. Nós temos algo que para os chineses, neste momento, é
estratégico: entrada na Europa e mercados de futuro: Brasil, Angola e
Moçambique. Eles têm... o financiamento. Sem restrições. Sendo assim, porque
não transformar uma mera venda de activos numa verdadeira aliança? Que, além de
investimentos na área industrial (automóvel?) e da entrada em bancos
portugueses, incluísse a criação, de raiz, de um banco de investimento em
Portugal. Um banco cujo «funding» não ficasse dependente dos volúveis
mercados financeiros e que estivesse vocacionada para o financiamento de
projectos a longo prazo. Uma instituição deste género daria uma preciosa ajuda
à recuperação da economia.
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