Vasco Graça Moura
A audição dos
responsáveis pela petição «Em Defesa da Língua Portuguesa», de que sou o
primeiro subscritor, teve lugar na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da
Assembleia da República no dia 25 de Setembro, em sessão presidida pelo
deputado-relator Feliciano Barreiras Duarte.Num texto que publicou no blogue
oficial da petição (http://emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com/), Maria
Alzira Seixo dá conta do modo como aquela audição decorreu. E nunca será demais
encarecer a demolição total do Acordo Ortográfico a que, tanto Jorge Morais
Barbosa como António Emiliano, os dois reputados professores de Linguística que
com ela e comigo se deslocaram a São Bento, procederam uma vez mais na sessão
referida.
Neste momento, o
número de signatários da petição de todos os sectores ideológicos, políticos,
profissionais e sociais já ultrapassa os 95 mil, o que, apesar do inevitável
abrandamento de ritmo ocorrido em período de férias grandes, é
extraordinariamente expressivo. É de esperar que as assinaturas continuem a acumular-se
e parece evidente que o processo não pode parar até se chegar a um resultado
satisfatório.
Por um lado, essas
muitas dezenas de milhares de pessoas depositaram a sua expectativa e a sua
confiança no bom andamento e no êxito na petição, bem como no empenhamento dos
seus promotores. Por outro, não pode ainda considerar-se esgotado o conjunto de
possibilidades de ataque ao Acordo Ortográfico, nem no plano analítico e
argumentativo, nem no plano das acções a empreender.
Neste momento, o que
parece mais adequado é aguardar pela feitura do relatório do deputado Feliciano
Barreiras Duarte e esperar que esse documento seja presente ao plenário da
Assembleia da República, nos termos legais. Se tudo correr como os seus
promotores esperam, o objectivo da petição pode ser conseguido, levando à
suspensão do Acordo Ortográfico para fins da sua revisão.
O que neste momento está em apreço não tem
nada que ver com o segundo protocolo modificativo que o Presidente da República
ratificou há dois meses. Esse protocolo limita-se a estabelecer que a
ratificação por três de sete países obriga os restantes quatro. Independentemente
do absurdo jurídico e da imoralidade da coisa, temos que continua a não haver
notícias de que Angola, Moçambique e a Guiné-Bissau se conformem com tal
princípio e muito menos com o Acordo Ortográfico. Decorridos 18 anos, não o
ratificaram porque não o querem...O que está agora em apreço é o próprio
conteúdo do Acordo Ortográfico, ratificado em 1991. É a necessidade imperiosa
de se proceder à revisão das enormidades e vícios de um documento que nunca se
aplicou e uns quantos irresponsáveis continuam a defender. Ora nada impede que
o Parlamento se debruce sobre esses problemas, já que, da parte do Governo, não
há sinais de a gravidade e o alcance destas matérias terem, sequer, sido
compreendidos. Entretanto, tornou-se patente urbi et orbi que o nosso
Presidente da República, bem como o do Brasil e outras individualidades puderam
perfeitamente exprimir-se em português nas Nações Unidas, sem qualquer
necessidade de Acordo Ortográfico. Isso tornou-se possível porque houve quem
pagasse os custos da interpretação, o que foi sempre o único problema...António
Emiliano apresentou provas documentais (manual de estilo da Wikipedia e lista
dos Locale ID and Language Groups da Microsoft) de que são consideradas
inúmeras variantes ortográficas nacionais em línguas como o inglês, o espanhol
ou árabe, o que não lhes impede a projecção mundial. No caso português, a lista
da Microsoft apenas considera o português do Brasil (Portuguese-Brazilian) e o
português padrão (Portuguese-Standard), isto é, apenas duas variantes contra 15
para o inglês e 20 para o espanhol.
Em Junho, o ministro da Cultura afirmou no
Brasil que se o acordo é uma coisa boa, «então que seja o mais depressa
possível». Mas acrescentou: «Se é má, então não queremos, pura e simplesmente.»
Como o acordo é uma
coisa péssima, basta pegar-lhe na palavra e continuar a assinar a petição. Não
queremos, pura e simplesmente.
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