quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Afinal a NATO teve razão ao alargar-se
ao Leste da Europa
José Milhazes
Até aqui, alguns (entre eles eu) consideravam ter sido um erro o alargamento da Aliança Atlântica ao Leste da Europa. Hoje há muitos motivos para pensar que foi o melhor que esses países fizeram.
A guerra da Ucrânia e o papel de Moscovo nela levam-nos a tirar pelo menos duas conclusões: os países do Leste da Europa tiveram uma decisão sábia ao aderirem à NATO e Kiev cometeu um erro ao entregar as armas nucleares à Rússia em 1994.
Até aqui, alguns (entre eles eu) consideravam ter sido um erro o alargamento da Aliança Atlântica ao Leste da Europa, pois pensavam não haver razões para recear o ressurgimento do imperialismo russo e soviético. Depois da queda da União Soviética, a Rússia estava numa situação económica, política e social tão degradada, que o mais sensato era esperar que os seus dirigentes se concentrassem na recuperação do seu país.
Mas tal não aconteceu. No lugar de modernizar as infraestruturas do país, utilizando os preços altos dos combustíveis nos mercados internacionais, Vladimir Putin, nos já mais de 15 anos em que se encontra no poder, apenas se pode «gabar» de ter um regime tanto ou mais corrupto do que o do seu antecessor, Boris Ieltsin, e ter organizado bem os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi.
O Kremlin não se cansa de falar da «amizade russo-chinesa», mas não lhe faria mal estudar as causas do milagre económico no país vizinho e aprender algo com ele.
Enveredou pela via tradicional, indo ao encontro dos mais baixos instintos de uma parte significativa da sociedade russa, que confunde o significado dos verbos «respeitar» e «ter medo». Quando os actuais dirigentes exigem que se respeite a Rússia, querem dizer que se deve ter medo dela. «Nós vamos mostrar-lhes…», soa o coro dos «patriotas».
Por isso, não há nada de extraordinário no facto de os antigos países do «campo socialista» se terem apressado a aderir à NATO. Segundo alguns analistas, o único erro da NATO foi não ter aberto as portas à Geórgia, Moldávia e Ucrânia.
Quanto à entrega das armas nucleares pela Ucrânia, Bielorrússia e o Cazaquistão à Rússia, se eles não tivessem feito isso, hoje Moscovo não teria a política que tem em relação a esses países. No caso da Ucrânia, as coisas teriam corrido de outra maneira. No que diz respeito ao Cazaquistão, a actual política externa do Kremlin faz tremer o actual dirigente cazaque, Nussultan Nazarbaiev. E até o Presidente bielorrusso, Alexandre Lukachenko, faz forte equilibrismo para se manter no poder.
Quanto aos que afirmam que a NATO está a cercar a Rússia com bases militares, a querer sufocar (tal como a anaconda na geopolítica clássica) o maior país do mundo, apenas os convidaria a olhar para o mapa e a pensar como será possível conseguir isso, tendo em conta, por exemplo, que a Rússia tem um dos maiores arsenais nucleares do mundo, mísseis balísticos intercontinentais, etc., etc.
E deixo ainda mais uma pergunta: haverá algum louco na Europa ou nos Estados Unidos que tencione conquistar a Rússia, como afirmam alguns dirigentes russos e seus aliados no estrangeiro? Como e para quê se, até agora, o chamado Ocidente tem recebido sem guerras aquilo de que precisa desse país: petróleo, gás e milionários?
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