Vasco Pulido Valente, Observador, 12 de Setembro de 2015
O público e os comentadores gostam de excitação e de alarido, como os pacóvios gostam de ver desastres.
Não se percebe por que razão o jornalismo português (profissional ou amador) resolveu achar que António Costa tinha ganho a Passos Coelho.
A ideia parece ser que um debate é uma espécie de altercação de taberna em que ganha quem der mais murros no adversário e se mostrar, de maneira geral, mais malcriado e belicoso. Se este modelo se aplica a uma discussão sobre o Estado e a vida dos portugueses nos próximos cinco anos, temos, de facto, razão para desesperar. António Costa gritou e esbracejou mais do que Passos Coelho. E Passos Coelho foi falando com uma certa serenidade e não permitiu que, da parte dele, a conversa degenerasse num chinfrim com o primeiro-ministro. Mas, dizem os peritos, perdeu. O público e os comentadores gostam de excitação e de alarido, como os pacóvios gostam de ver desastres.
Não
passou pela cabeça dos jornalistas que «presidiam» ao debate com a sua
insuportável embófia perguntar às duas notabilidades que ali putativamente
discursavam ao país onde tencionavam arranjar o dinheiro para a redenção da
Pátria. Ao contrário do que um observador ingénuo talvez concluísse, em todo
aquele espectáculo, digno de Las Vegas (e tirando uns 600 milhões que faltam à
segurança social), não se ouviu a imunda palavra «dinheiro» uma única vez.
Vivemos numa situação periclitante em que o menor abano pode deitar tudo
abaixo. Mas naquela arena (não sei que outra coisa lhe devo chamar) não se
mencionou a Europa, a América ou a China. Apesar da retórica sobre a «globalização»,
Portugal acaba em Badajoz. E o dr. Costa e Passos Coelho, coitados, suspeito
que também.
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