segunda-feira, 19 de maio de 2008

Introdução

«Está a chover mas somos fortes»




Introdução



Para poder reconstruir Portugal,
o pensamento português
deve libertar-se
do esquerdismo e do cinzentismo



( I )

A crise portuguesa e a sua origem


Já não podem esconder. Portugal está o caos. A crise é geral. A crise moral é profunda. A classe política está desa­creditada. A economia afunda-se. A justiça não funciona. A ordem pública tornou-se insegurança. A educação re­benta pela ignorância e pela anarquia. O sistema público de saúde e assistência é miserável ou não existe. A insti­tuição familiar desintegra-se.

O cidadão anónimo e a figura pública, os políticos de valores e os publicistas de valores (que ainda os há!), os empresários e os trabalhadores, os magistrados e os que recorrem à justiça, os agentes da ordem e as vítimas da insegurança, os professores e os alunos, os médicos e os doentes, os efectivos e os reformados, os diplomados em­pregados e desempregados — já ninguém acredita em nada. A classe política ilusionista já não consegue vender opti­mismo e esperança a ninguém. E ela própria reconhece que Portugal bateu no fundo.

Porquê esta situação? De uma vez por todas, temos de falar direito.

Por muito que custe a alguns que viram o sol nas suas vidas graças a esse acontecimento histórico, as causas des­ta situação têm de ser procuradas nas políticas es­quer­distas aplicadas em 1974 e 1975 e, daí em diante, em alternân­cia, nas políticas esquerdistas, semi-es­quer­distas e demo­cratas cinzentas que se lhe seguiram, isto é, no sistema político da III República e no «processo revolucio­nário em curso» que a instituiu.

O carreirismo, aliado à incompetência, e a corrupção, tal como a pornografia e a toxicomania, libertaram-se do espartilho que lhes tolhia os movimentos durante a cha­mada «longa noite fascista».

O desenvolvimento impetuoso de Portugal, com a se­gunda maior taxa de crescimento anual do mundo nos anos sessenta (sendo a primeira de um país asiático...), tendo mesmo ultrapassado os 10% no início dos anos setenta, foi interrompido em 1974. Daí em diante, a economia por­tuguesa tem oscilado entre o mau e o péssimo e nunca mais adquiriu um ritmo que permita a recuperação. As reservas de ouro e divisas diminuíram drasticamente e Portugal voltou a ser um país de mão estendida, que não era desde a I República.

E ainda, graças à permissividade instaurada, a ordem deu lugar à desordem nas ruas, nos bairros, nas escolas, nos estádios, nas outrora pacatas aldeias, vilas e cidades.

Eis o Portugal de cinzas de Abril, o Portugal de cinzas do MFA, o Portugal de cinzas do Partido Comunista, o Por­tugal dos incendiários e seus continuadores.

A história é a história. Cada coisa no tempo próprio. Mas, para aprender, há que falar verdade sobre a história: não enegrecer o que é claro nem branquear o que é vermelho.

Que ideias caíram então sobre Portugal para causarem todas estas calamidades?


( I I )

O pensamento errado apenas poderia fornecer
respostas erradas


O pensamento político determina a acção política. Pare­ce esta uma evidência total mas a verdade é que, sendo verdade, não é tão evidente para muitos. Só assim se ex­plica que o mesmo pensamento político, apesar dos seus sucessivos fracassos, apesar do desastre a que conduziu Portugal, continue a ser aplicado, apenas alternando os pro­tagonistas, com uma ou outra nuance. Afinal, a reali­dade não é evidente para o pensa­mento dos milhões de eleitores que legitimam esses protagonistas. Nem mesmo para os militantes partidários que os têm içado e feito eleger através das listas eleitorais dos seus partidos. Por esta razão, a luta política pela transformação de Portugal começa pela luta de ideias. A luta política exige a clari­ficação de ideias sobre o pen­sa­mento político vigente e a sua substituição por um pen­sa­mento político realista.

E em que pensamento político se têm baseado as polí­ticas desastrosas que conhecemos?

Até aqui, os princípios que têm orientado as más solu­ções para os problemas são fundamentalmente de dois ti­pos.

Primeiro, o esquerdismo. Parte das respostas aos pro­ble­mas nacionais têm assentado na ideologia mar­xista. Na orto­doxa, que o Partido Comunista, apoiado nas armas do MFA, impôs aos Portugueses e deixou como herança do tempo da sua he­gemonia de 1974-1975 — herança que, em parte, ainda subsiste através da influência ideo­lógica e social. Ou nas variantes sub­mar­xistas, aplicadas prin­cipalmente pelo Partido Socialis­ta. Ou, por vezes, de cariz anarco-liberal, aplicadas até pelos partidos de que menos se esperaria. Desde a Consti­tuição da III República à sim­ples regula­mentação de uma lei, grande parte da legislação está im­pregnada de con­ceitos marxistas e fun­ciona nessa lógica. As respostas es­querdistas aos proble­mas nacionais consis­tem fundamen­talmente na transpo­sição literal des­sas fan­tasias ideo­lógicas para o terreno da vida prática, o que, naturalmente, não resulta.

Segundo, o cinzentismo ou ausência de princípios. A outra parte das respostas aos problemas nacionais tem-se baseado nas ideologias liberais, utilitaristas e relativistas, o que significa ausência de princípios. A lingua­gem é vaga, conciliadora do bem com o mal, redonda, anes­tesiante, inconsequente, improdutiva, adiadora dos pro­blemas, oportunista. Ela apenas serve na essência e no «timing» os interesses materiais imediatos ou de carreira dos seus utilizadores. Os protagonistas do cinzentismo pretendem substituir o pensamento programático pelo «carisma», pelo «perfil», pela «imagem pública» fabricada artificialmente pelos media ao seu serviço. Os protagonistas do cinzentis­mo adoptam um tal perfil eleitoralista soft, «politicamen­te cor­rec­to», e, na sua demagogia redutora, qualificam de «radi­cal» e «fundamentalista» qualquer atitude frontal e séria em relação aos problemas. Nas mãos de um político cin­zento, um problema que tenha implicações negativas nos seus negócios privados ou na sua carreira, nunca será bem re­solvido ou simplesmente nunca será resolvido.

Nos últimos anos, as correntes esquerdistas herdadas do 25 de Abril têm cedido algum espaço às corren­tes do cinzentismo. Mas os actores de ambas, apesar das diferen­ças que os distinguem, estabeleceram entre si um pacto tácito de defesa do sistema da III República, que constitui o seu modus vivendi. Estão sentados à mesma mesa.

As ideologias erradas que têm dominado o pensamento político português não poderiam, efectivamente, produzir melhor resultado do que aquele que produziram. O pensa­mento errado do esquerdismo e do cinzentismo apenas poderia fornecer respostas erradas a Portugal.


( I I I )

Procurar o pensamento e o método certos
para obter respostas certas


Para encontrar as respostas correctas às questões que se colocam a Portugal, é preciso identificar os princípios directores válidos que as inspiram. Esses princípios não são mais do que aqueles que fizeram a nossa Civilização, os valores éticos cristãos assentes na matriz greco-latina.
A procura torna-se afinal fácil.

É a obstinada procura de inovações, originalidades e construções mentais subjectivistas que afasta os homens da realidade e cria os monstros ideológicos que conduzem às respostas erradas e à desgraça.

Contudo, para chegar a uma política concreta correc­ta, não basta o enunciar dos princípios da Civilização. Exi­gem-se também procedimentos correctos na aplicação des­ses princípios. E torna-se ainda mais necessário sub­linhar esses procedimentos quando aqueles que não pre­tendem, de nenhum modo, aplicar os princípios da Civi­lização tam­bém os enunciam frequentemente, obvia­mente em vão, tal publicidade enganosa.

De facto, surgem muitas respostas aos problemas colo­cados a Portugal, quer da autoria dos próprios causa­dores dos problemas, que, com as suas «novas» soluções, se pre­tendem perpetuamente alternar a si próprios no poder, quer da autoria dos candidatos a entrar para o círculo de mandantes e privilegiados — imerecidamente — do sis­tema. As respostas destes indivíduos, naturalmente erra­das, vêm lançar a confusão sobre as pessoas leigas em relação a esses pro­blemas e criar-lhes falsas expectativas. Efec­tivamente, como seria possível que aqueles que empur­ra­ram Portu­gal para o fundo, e ainda conservando o mesmo pensamento político, e con­ti­nuando enleados na mesma teia de interes­ses, fossem ago­ra capazes de o puxar para cima?
Pura ilusão.

Como avaliar então as múltiplas soluções apresentadas para ultrapassar a crise geral? Como saber se esta ou aquela é que é a boa? Como saber se «desta vez é que é», para usar­mos a expressão de esperança permanentemente proferida por milhares de sinceros militantes políticos e portugueses de consciência, continuamente na iminência de serem novamente ludibriados? Em que consistirá então uma solução certa para um problema político?

Uma solução certa para um problema político concreto, em pri­meiro lugar, terá de ser fundamentada na realidade. Isso pressupõe que a realidade seja seriamente estudada e que a solução seja deduzida da própria realidade. A solu­ção certa não provém, certamente, dos seguidores de teo­rias utopistas, que, simultaneamente, deformam a visão da rea­lidade e forçam respostas irrealistas ao problema. Nem provém, certamente, da grande maioria dos elemen­tos da classe política da III República, que, pela sua falta de for­mação filosófica, política e mesmo, em alguns casos, técnica, e enredada em interes­ses pessoais, se tem revelado incapaz de analisar seri­a­mente a realidade e extrair as soluções certas. Uma eco­nomia subjugada às ideologias socialista ou tecnocrática ou uma política de família aben­çoada pelo anarco-liberalismo ilustram bem a questão do realismo ou irrealismo da solução.

Uma solução certa para um problema político concreto, em se­gundo lugar, observa as suas causas profundas. A solução não pode ser apenas superficial, cosmética. Uma solução para um problema premente não pode fazer es­quecer a resolução do problema na sua raiz. A miopia e superfi­cialidade com que a classe política costuma analisar os problemas de Portugal configuram bem a sua incapa­ci­dade. Tentar solucionar a ordem nas escolas mantendo a filosofia da permissividade na sociedade ou tentar aumen­tar o rendimento escolar injectando mais dinheiro no seu orçamento mas mantendo o calamitoso sistema de ensino são bons exemplos dessa superficialidade na procura de respostas para os problemas.

Uma solução certa para um problema político concreto, em terceiro lugar, tem em consideração o enquadramento deste no conjunto dos problemas da sociedade. A solução para um problema não pode ignorar a existência de outros problemas, sobre os quais poderá interferir uma vez apli­cada. Tentar solucionar o problema financeiro do Estado sem considerar que se está a sufocar a economia com im­postos é porventura um dos erros a que mais fre­quente­mente assistimos na III República.

Uma solução certa para um problema político concreto, em quarto lugar, surge depois da hierarquização do con­junto dos problemas. Um problema real não pode ser enca­rado como um problema central ou único quando não o é, nem como problema secundário quando seja central. Re­cons­truir a Nação e o Estado significa a resolução de uma mon­tanha de problemas. Tal implica estabelecer uma hierar­quia quanto à sua importância e quanto à sua prio­ridade. Considerando a coesão da Nação uma questão es­tratégica, e considerando igualmente a escassez de recur­sos finan­ceiros da Nação, o que se tornará prioritário na política interna: socorrer os pobres de Portugal que vivem com reformas diminutas ou financiar o cinema, mesmo abs­traindo do seu duvidoso interesse cultural e até carác­ter pornográfico, ou outras acti­vidades lúdicas, mesmo abstraindo de que, na sua maioria, contribuem apenas para a degradação moral da juventude e adultos?

Uma solução certa para um problema político concreto, em quin­to lugar, é aquela que resolve realmente o proble­ma. Isto significa não o ampliar nem o deixar na mesma. A emenda não pode ser pior do que o soneto nem uma vã promessa eleitoralista. Haverá melhor exemplo da emenda ser pior do que o soneto do que as sucessivas reformas do ensino, cada uma mais promissora — no dizer dos seus autores — e ao mesmo tempo mais desas­trosa e estupi­dificante do que a anterior?

Uma solução certa para um problema político concreto, final­mente, em sexto lugar, incorpora em si mesma o res­peito pelos valores da Civilização. Isto significa que, além de resolver esse problema pontual, seja ele de natureza predo­minantemente moral, predominantemente política ou pre­dominantemente técnica, essa solução não pode pro­duzir efeitos secundários contra a Civilização e os seus valores, não pode constituir um veículo de antivalores. Estando fora do alcance do poder político evitar totalmente fenóme­nos que atentam contra a Civilização quando eles são do foro da moral individual, deve o Estado, pelo menos, não os agravar e mesmo contrariá-los quando possível. Assim, os autores de uma solução para qualquer problema terão de saber prever as suas consequências colaterais em relação aos valores da Civilização a curto, médio e longo prazo, ponderando devidamente a sua bondade autêntica nas circunstâncias dos limites do poder político sobre a moral dos homens. Estabelecer pluralismo nos media e, conse­quentemente, concorrência comercial entre canais de tele­visão? Porque não? Mas que dizer quando a solução con­corrência é sinónimo de banalização da pornografia, do brejeirismo e de degradação dos costumes? Que dizer das suas consequências directas na destruição da juven­tude, dissolução da família e degradação da sociedade? E qual será o papel do Estado? O de observador passivo?

Com todas estas considerações pretende-se chamar a atenção para a necessidade imperiosa do estudo sério de cada problema, devidamente enquadrado no seu conjunto e considerado à luz de uma hierarquia de valores morais, políticos e técnicos. Não se encontram soluções correctas para os problemas nacionais na base da inversão da hierar­quia dos valores, da superficialidade das análises, de cir­cunstâncias comicieiras eleitoralistas, de critérios car­reiristas ou dos antivalores. Dar respostas correctas às questões de uma Nação, aplicar critérios correctos nas políticas exige princípios directores válidos e trabalho de análise séria.

Para Portugal poder sair da gravíssima crise em que se encon­tra, tem decididamente de cortar com o pensamento político dominante, claramente responsável pelas más so­luções que têm sido aplicadas aos problemas de Portugal. Cortar com esse pensamento sig­nifica enfrentar frontal­mente e sem tibiezas a ideologia marxista e políticas do Par­tido Comunista, as variantes socia­listas, assim como o liberalismo e o anarco-liberalismo. Para Portugal sair da gravíssima crise em que se encontra, tem decididamente de derrotar essas ideologias, desmantelar uma a uma as suas aplica­ções na sociedade e, sem reservas, adoptar como guia os valores da Civi­lização e as políticas que daí decor­rem. Só desta maneira se poderá correctamente repen­sar Portugal e agir em conformidade.

Tal exige clarividência, dedicação e coragem. Clarividên­cia porque, no meio da confusão de ideias provocada pelos que dela beneficiam, é preciso apanhar o rumo certo. Dedi­cação porque a tarefa é grande. E coragem porque os esco­lhos são muitos.

De modo mais desenvolvido, vamos passar em revista os princípios de cada política sectorial, procurando deste modo con­tribuir para encontrar as respostas certas às questões suscitadas.
Assim libertamos o pensamento por­tuguês do esquer­dismo, do liberalismo e do cinzentismo. E assim, onde quer que estejamos, onde quer que milite­mos, poderemos con­tribuir para reconstruir o nosso Portugal.

A ti apelamos para que te juntes a nós nesta reflexão.

Ainda vamos a tempo.

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