«Está a chover mas somos fortes»
Introdução
Para poder reconstruir Portugal,
o pensamento português
deve libertar-se
do esquerdismo e do cinzentismo
( I )
A crise portuguesa e a sua origem
Já não podem esconder. Portugal está o caos. A crise é geral. A crise moral é profunda. A classe política está desacreditada. A economia afunda-se. A justiça não funciona. A ordem pública tornou-se insegurança. A educação rebenta pela ignorância e pela anarquia. O sistema público de saúde e assistência é miserável ou não existe. A instituição familiar desintegra-se.
O cidadão anónimo e a figura pública, os políticos de valores e os publicistas de valores (que ainda os há!), os empresários e os trabalhadores, os magistrados e os que recorrem à justiça, os agentes da ordem e as vítimas da insegurança, os professores e os alunos, os médicos e os doentes, os efectivos e os reformados, os diplomados empregados e desempregados — já ninguém acredita em nada. A classe política ilusionista já não consegue vender optimismo e esperança a ninguém. E ela própria reconhece que Portugal bateu no fundo.
Porquê esta situação? De uma vez por todas, temos de falar direito.
Por muito que custe a alguns que viram o sol nas suas vidas graças a esse acontecimento histórico, as causas desta situação têm de ser procuradas nas políticas esquerdistas aplicadas em 1974 e 1975 e, daí em diante, em alternância, nas políticas esquerdistas, semi-esquerdistas e democratas cinzentas que se lhe seguiram, isto é, no sistema político da III República e no «processo revolucionário em curso» que a instituiu.
O carreirismo, aliado à incompetência, e a corrupção, tal como a pornografia e a toxicomania, libertaram-se do espartilho que lhes tolhia os movimentos durante a chamada «longa noite fascista».
O desenvolvimento impetuoso de Portugal, com a segunda maior taxa de crescimento anual do mundo nos anos sessenta (sendo a primeira de um país asiático...), tendo mesmo ultrapassado os 10% no início dos anos setenta, foi interrompido em 1974. Daí em diante, a economia portuguesa tem oscilado entre o mau e o péssimo e nunca mais adquiriu um ritmo que permita a recuperação. As reservas de ouro e divisas diminuíram drasticamente e Portugal voltou a ser um país de mão estendida, que não era desde a I República.
E ainda, graças à permissividade instaurada, a ordem deu lugar à desordem nas ruas, nos bairros, nas escolas, nos estádios, nas outrora pacatas aldeias, vilas e cidades.
Eis o Portugal de cinzas de Abril, o Portugal de cinzas do MFA, o Portugal de cinzas do Partido Comunista, o Portugal dos incendiários e seus continuadores.
A história é a história. Cada coisa no tempo próprio. Mas, para aprender, há que falar verdade sobre a história: não enegrecer o que é claro nem branquear o que é vermelho.
Que ideias caíram então sobre Portugal para causarem todas estas calamidades?
( I I )
O pensamento errado apenas poderia fornecer
respostas erradas
O pensamento político determina a acção política. Parece esta uma evidência total mas a verdade é que, sendo verdade, não é tão evidente para muitos. Só assim se explica que o mesmo pensamento político, apesar dos seus sucessivos fracassos, apesar do desastre a que conduziu Portugal, continue a ser aplicado, apenas alternando os protagonistas, com uma ou outra nuance. Afinal, a realidade não é evidente para o pensamento dos milhões de eleitores que legitimam esses protagonistas. Nem mesmo para os militantes partidários que os têm içado e feito eleger através das listas eleitorais dos seus partidos. Por esta razão, a luta política pela transformação de Portugal começa pela luta de ideias. A luta política exige a clarificação de ideias sobre o pensamento político vigente e a sua substituição por um pensamento político realista.
E em que pensamento político se têm baseado as políticas desastrosas que conhecemos?
Até aqui, os princípios que têm orientado as más soluções para os problemas são fundamentalmente de dois tipos.
Primeiro, o esquerdismo. Parte das respostas aos problemas nacionais têm assentado na ideologia marxista. Na ortodoxa, que o Partido Comunista, apoiado nas armas do MFA, impôs aos Portugueses e deixou como herança do tempo da sua hegemonia de 1974-1975 — herança que, em parte, ainda subsiste através da influência ideológica e social. Ou nas variantes submarxistas, aplicadas principalmente pelo Partido Socialista. Ou, por vezes, de cariz anarco-liberal, aplicadas até pelos partidos de que menos se esperaria. Desde a Constituição da III República à simples regulamentação de uma lei, grande parte da legislação está impregnada de conceitos marxistas e funciona nessa lógica. As respostas esquerdistas aos problemas nacionais consistem fundamentalmente na transposição literal dessas fantasias ideológicas para o terreno da vida prática, o que, naturalmente, não resulta.
Segundo, o cinzentismo ou ausência de princípios. A outra parte das respostas aos problemas nacionais tem-se baseado nas ideologias liberais, utilitaristas e relativistas, o que significa ausência de princípios. A linguagem é vaga, conciliadora do bem com o mal, redonda, anestesiante, inconsequente, improdutiva, adiadora dos problemas, oportunista. Ela apenas serve na essência e no «timing» os interesses materiais imediatos ou de carreira dos seus utilizadores. Os protagonistas do cinzentismo pretendem substituir o pensamento programático pelo «carisma», pelo «perfil», pela «imagem pública» fabricada artificialmente pelos media ao seu serviço. Os protagonistas do cinzentismo adoptam um tal perfil eleitoralista soft, «politicamente correcto», e, na sua demagogia redutora, qualificam de «radical» e «fundamentalista» qualquer atitude frontal e séria em relação aos problemas. Nas mãos de um político cinzento, um problema que tenha implicações negativas nos seus negócios privados ou na sua carreira, nunca será bem resolvido ou simplesmente nunca será resolvido.
Nos últimos anos, as correntes esquerdistas herdadas do 25 de Abril têm cedido algum espaço às correntes do cinzentismo. Mas os actores de ambas, apesar das diferenças que os distinguem, estabeleceram entre si um pacto tácito de defesa do sistema da III República, que constitui o seu modus vivendi. Estão sentados à mesma mesa.
As ideologias erradas que têm dominado o pensamento político português não poderiam, efectivamente, produzir melhor resultado do que aquele que produziram. O pensamento errado do esquerdismo e do cinzentismo apenas poderia fornecer respostas erradas a Portugal.
( I I I )
Procurar o pensamento e o método certos
para obter respostas certas
Para encontrar as respostas correctas às questões que se colocam a Portugal, é preciso identificar os princípios directores válidos que as inspiram. Esses princípios não são mais do que aqueles que fizeram a nossa Civilização, os valores éticos cristãos assentes na matriz greco-latina.
A procura torna-se afinal fácil.
É a obstinada procura de inovações, originalidades e construções mentais subjectivistas que afasta os homens da realidade e cria os monstros ideológicos que conduzem às respostas erradas e à desgraça.
Contudo, para chegar a uma política concreta correcta, não basta o enunciar dos princípios da Civilização. Exigem-se também procedimentos correctos na aplicação desses princípios. E torna-se ainda mais necessário sublinhar esses procedimentos quando aqueles que não pretendem, de nenhum modo, aplicar os princípios da Civilização também os enunciam frequentemente, obviamente em vão, tal publicidade enganosa.
De facto, surgem muitas respostas aos problemas colocados a Portugal, quer da autoria dos próprios causadores dos problemas, que, com as suas «novas» soluções, se pretendem perpetuamente alternar a si próprios no poder, quer da autoria dos candidatos a entrar para o círculo de mandantes e privilegiados — imerecidamente — do sistema. As respostas destes indivíduos, naturalmente erradas, vêm lançar a confusão sobre as pessoas leigas em relação a esses problemas e criar-lhes falsas expectativas. Efectivamente, como seria possível que aqueles que empurraram Portugal para o fundo, e ainda conservando o mesmo pensamento político, e continuando enleados na mesma teia de interesses, fossem agora capazes de o puxar para cima?
Pura ilusão.
Como avaliar então as múltiplas soluções apresentadas para ultrapassar a crise geral? Como saber se esta ou aquela é que é a boa? Como saber se «desta vez é que é», para usarmos a expressão de esperança permanentemente proferida por milhares de sinceros militantes políticos e portugueses de consciência, continuamente na iminência de serem novamente ludibriados? Em que consistirá então uma solução certa para um problema político?
Uma solução certa para um problema político concreto, em primeiro lugar, terá de ser fundamentada na realidade. Isso pressupõe que a realidade seja seriamente estudada e que a solução seja deduzida da própria realidade. A solução certa não provém, certamente, dos seguidores de teorias utopistas, que, simultaneamente, deformam a visão da realidade e forçam respostas irrealistas ao problema. Nem provém, certamente, da grande maioria dos elementos da classe política da III República, que, pela sua falta de formação filosófica, política e mesmo, em alguns casos, técnica, e enredada em interesses pessoais, se tem revelado incapaz de analisar seriamente a realidade e extrair as soluções certas. Uma economia subjugada às ideologias socialista ou tecnocrática ou uma política de família abençoada pelo anarco-liberalismo ilustram bem a questão do realismo ou irrealismo da solução.
Uma solução certa para um problema político concreto, em segundo lugar, observa as suas causas profundas. A solução não pode ser apenas superficial, cosmética. Uma solução para um problema premente não pode fazer esquecer a resolução do problema na sua raiz. A miopia e superficialidade com que a classe política costuma analisar os problemas de Portugal configuram bem a sua incapacidade. Tentar solucionar a ordem nas escolas mantendo a filosofia da permissividade na sociedade ou tentar aumentar o rendimento escolar injectando mais dinheiro no seu orçamento mas mantendo o calamitoso sistema de ensino são bons exemplos dessa superficialidade na procura de respostas para os problemas.
Uma solução certa para um problema político concreto, em terceiro lugar, tem em consideração o enquadramento deste no conjunto dos problemas da sociedade. A solução para um problema não pode ignorar a existência de outros problemas, sobre os quais poderá interferir uma vez aplicada. Tentar solucionar o problema financeiro do Estado sem considerar que se está a sufocar a economia com impostos é porventura um dos erros a que mais frequentemente assistimos na III República.
Uma solução certa para um problema político concreto, em quarto lugar, surge depois da hierarquização do conjunto dos problemas. Um problema real não pode ser encarado como um problema central ou único quando não o é, nem como problema secundário quando seja central. Reconstruir a Nação e o Estado significa a resolução de uma montanha de problemas. Tal implica estabelecer uma hierarquia quanto à sua importância e quanto à sua prioridade. Considerando a coesão da Nação uma questão estratégica, e considerando igualmente a escassez de recursos financeiros da Nação, o que se tornará prioritário na política interna: socorrer os pobres de Portugal que vivem com reformas diminutas ou financiar o cinema, mesmo abstraindo do seu duvidoso interesse cultural e até carácter pornográfico, ou outras actividades lúdicas, mesmo abstraindo de que, na sua maioria, contribuem apenas para a degradação moral da juventude e adultos?
Uma solução certa para um problema político concreto, em quinto lugar, é aquela que resolve realmente o problema. Isto significa não o ampliar nem o deixar na mesma. A emenda não pode ser pior do que o soneto nem uma vã promessa eleitoralista. Haverá melhor exemplo da emenda ser pior do que o soneto do que as sucessivas reformas do ensino, cada uma mais promissora — no dizer dos seus autores — e ao mesmo tempo mais desastrosa e estupidificante do que a anterior?
Uma solução certa para um problema político concreto, finalmente, em sexto lugar, incorpora em si mesma o respeito pelos valores da Civilização. Isto significa que, além de resolver esse problema pontual, seja ele de natureza predominantemente moral, predominantemente política ou predominantemente técnica, essa solução não pode produzir efeitos secundários contra a Civilização e os seus valores, não pode constituir um veículo de antivalores. Estando fora do alcance do poder político evitar totalmente fenómenos que atentam contra a Civilização quando eles são do foro da moral individual, deve o Estado, pelo menos, não os agravar e mesmo contrariá-los quando possível. Assim, os autores de uma solução para qualquer problema terão de saber prever as suas consequências colaterais em relação aos valores da Civilização a curto, médio e longo prazo, ponderando devidamente a sua bondade autêntica nas circunstâncias dos limites do poder político sobre a moral dos homens. Estabelecer pluralismo nos media e, consequentemente, concorrência comercial entre canais de televisão? Porque não? Mas que dizer quando a solução concorrência é sinónimo de banalização da pornografia, do brejeirismo e de degradação dos costumes? Que dizer das suas consequências directas na destruição da juventude, dissolução da família e degradação da sociedade? E qual será o papel do Estado? O de observador passivo?
Com todas estas considerações pretende-se chamar a atenção para a necessidade imperiosa do estudo sério de cada problema, devidamente enquadrado no seu conjunto e considerado à luz de uma hierarquia de valores morais, políticos e técnicos. Não se encontram soluções correctas para os problemas nacionais na base da inversão da hierarquia dos valores, da superficialidade das análises, de circunstâncias comicieiras eleitoralistas, de critérios carreiristas ou dos antivalores. Dar respostas correctas às questões de uma Nação, aplicar critérios correctos nas políticas exige princípios directores válidos e trabalho de análise séria.
Para Portugal poder sair da gravíssima crise em que se encontra, tem decididamente de cortar com o pensamento político dominante, claramente responsável pelas más soluções que têm sido aplicadas aos problemas de Portugal. Cortar com esse pensamento significa enfrentar frontalmente e sem tibiezas a ideologia marxista e políticas do Partido Comunista, as variantes socialistas, assim como o liberalismo e o anarco-liberalismo. Para Portugal sair da gravíssima crise em que se encontra, tem decididamente de derrotar essas ideologias, desmantelar uma a uma as suas aplicações na sociedade e, sem reservas, adoptar como guia os valores da Civilização e as políticas que daí decorrem. Só desta maneira se poderá correctamente repensar Portugal e agir em conformidade.
Tal exige clarividência, dedicação e coragem. Clarividência porque, no meio da confusão de ideias provocada pelos que dela beneficiam, é preciso apanhar o rumo certo. Dedicação porque a tarefa é grande. E coragem porque os escolhos são muitos.
De modo mais desenvolvido, vamos passar em revista os princípios de cada política sectorial, procurando deste modo contribuir para encontrar as respostas certas às questões suscitadas.
Assim libertamos o pensamento português do esquerdismo, do liberalismo e do cinzentismo. E assim, onde quer que estejamos, onde quer que militemos, poderemos contribuir para reconstruir o nosso Portugal.
A ti apelamos para que te juntes a nós nesta reflexão.
Ainda vamos a tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário