João José Brandão Ferreira
O programa «Prós e Contras» passou a ser uma espécie de clínica psiquiátrica onde os portugueses vão semanalmente fazer uma catarse colectiva.
Os resultados, difíceis de avaliar, não parecem colher no campo da objectividade e das realizações práticas quaisquer melhorias sensíveis.
Em primeiro lugar porque tudo resulta numa pequena babilónia discursiva, onde se misturam acertos com disparates, emoções com espírito prático, subjectividades com análise, tudo isto numa comedida barafunda onde nunca se chega a conclusão alguma sobre o que quer que seja. A fasquia é sempre posta a uma altura que ninguém a consegue saltar…
Depois o programa é inócuo porque não tem poder – e ainda bem porque dali não resultaria nada de objectivo e nem consegue influenciar quem tem poder efectivo, ou nominal e apenas naquilo em que poderia vir a influenciar algum voto transviado.
Tem, porém, a grande valia de nos dar a todos uma fotografia de nós mesmos; da nossa indisciplina mental, do nosso desconchavo colectivo; da parcialidade como se olha para os problemas, da incultura geral com muitos saberes desgarrados pelo meio; da nossa inquietação sebástica permanente; na falta de confiança que todos temos com todos e da inacreditável frustração que sentimos em não poder ser, a todo o momento, um filho d’algo qualquer.
O País seria feliz se pudesse ter dez milhões de primeiros-ministros, mas infelizmente só pode haver um de cada vez…
A grande especialista da moda com o seu olhar profundo.
O que será o centro do seu olhar?
O que procurará ela que seja o centro do olhar do telespectador?
Mas, sobretudo, o que preocupa mais é constatar a falta de uma visão global das coisas, a inexistência de sínteses de conhecimento, a baralhação das referências morais e espirituais (ou ausência delas), a deriva do que representa uma família grande, chamada Nação. Isto é, não aparece clara em lado algum, que Ideia é que temos e queremos para Portugal. De Pátria portuguesa. Ainda por cima, aquela que havia e que sucessivas gerações de portugueses foi herdando, tem sido sistematicamente desconstruída nos seus fundamentos.
Ora sem esta base de partida formulada e sentida, em termos sólidos, quaisquer tentativas para sair desta crise ou de outra qualquer, resultará frustre. Parecemos um bando de baratas tontas, representados por um conjunto de bonecos desarticulados e gesticulantes, a que chamamos políticos. Por isso cada vez mais nos corrompemos quer individual quer colectivamente.
Sem nexo que nos oriente, entregamo-nos à única coisa que diariamente se torna indispensável e inadiável, que é sobreviver.
Sobreviver é também aquilo que melhor orienta os animais, ditos irracionais, no seu habitat natural.
Sem embargo, eles fazem-no com maior classe e, seguramente, melhor senso.
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