João Marcelino, Diário de Notícias, 5.9.2010
Quando a FPF pediu o apoio do Governo para a candidatura, conjunta com a Espanha, ao Mundial de 2018, eu escrevi aqui que era uma boa ideia. O futebol é um poderosíssimo veículo turístico e, além do mais, estas organizações são sempre lucrativas desde que não se tenha de fazer tudo de novo.
Hoje, sou frontalmente contra esta realização, precisamente porque ela abandonou a filosofia com que nos foi vendida inicialmente e abdicou dos princípios.
Primeiro: não é uma parceria. Portugal entra com duas cidades (Lisboa e Porto) e três estádios, Espanha apresenta 16 cidades e 18 estádios - ou seja, pela primeira vez numa organização de futebol, dois países coligam-se em posições diferenciadas. Não fora assim, antes, no Coreia do Sul- -Japão, no Áustria-Suíça, nem no Holanda-Bélgica.
Segundo: pela calada, caiu também o jogo de abertura, que nos devia caber, porque Espanha decidiu que sendo a final em Madrid, e por equilíbrios políticos internos, a abertura deveria ser feita em Barcelona. Para Portugal sobraram umas migalhas que deveriam envergonhar: o sorteio será realizado em Santa Maria da Feira e teremos um "privilégio" inovador ao albergarmos um segundo jogo de abertura, a realizar umas horas depois do primeiro...
Este é o prémio a que teremos direito por servirmos como íman aos votos da lusofonia, de Brasil a Angola. De resto é bom de ver que esta candidatura não precisaria de nós. A contribuição de Portugal é equivalente à de uma qualquer província espanhola, mas há, para português ver, um argumento que os tempos acolhem: bom investimento, poucos custos.
Ainda para mais o estádio do jogo inaugural teria de ter 80 mil lugares e o nosso maior, o da Luz, só alberga 65 mil pessoas.
Não vou perder tempo com a desmontagem destes argumentos tontos de quem quer entrar numa festa a todo o custo. Digo apenas que quem não tem dinheiro não deve ter vícios e acrescento o seguinte: esta triste candidatura não deveria ser reduzida a uma questão de dinheiro e de lucros. É uma questão de política, de estratégia e de princípios. Se não estranho que os homens do futebol pouco se interessem com estes pormenores, desde que venha a massa, desgosta-me que o Governo, os partidos e o próprio Presidente da República não se interessem pelo assunto e não reflictam sobre ele à luz da História e das relações entre os dois Estados.
Esta organização não tem a ver com dinheiro. Ela encerra um conceito perigoso para a nossa política e para a nossa economia. Através do futebol estamos a comunicar que somos uma província da Ibéria. A ideia de Saramago começa a fazer o seu caminho. Eu sou contra!
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Hoje, sou frontalmente contra esta realização, precisamente porque ela abandonou a filosofia com que nos foi vendida inicialmente e abdicou dos princípios.
Primeiro: não é uma parceria. Portugal entra com duas cidades (Lisboa e Porto) e três estádios, Espanha apresenta 16 cidades e 18 estádios - ou seja, pela primeira vez numa organização de futebol, dois países coligam-se em posições diferenciadas. Não fora assim, antes, no Coreia do Sul- -Japão, no Áustria-Suíça, nem no Holanda-Bélgica.
Segundo: pela calada, caiu também o jogo de abertura, que nos devia caber, porque Espanha decidiu que sendo a final em Madrid, e por equilíbrios políticos internos, a abertura deveria ser feita em Barcelona. Para Portugal sobraram umas migalhas que deveriam envergonhar: o sorteio será realizado em Santa Maria da Feira e teremos um "privilégio" inovador ao albergarmos um segundo jogo de abertura, a realizar umas horas depois do primeiro...
Este é o prémio a que teremos direito por servirmos como íman aos votos da lusofonia, de Brasil a Angola. De resto é bom de ver que esta candidatura não precisaria de nós. A contribuição de Portugal é equivalente à de uma qualquer província espanhola, mas há, para português ver, um argumento que os tempos acolhem: bom investimento, poucos custos.
Ainda para mais o estádio do jogo inaugural teria de ter 80 mil lugares e o nosso maior, o da Luz, só alberga 65 mil pessoas.
Não vou perder tempo com a desmontagem destes argumentos tontos de quem quer entrar numa festa a todo o custo. Digo apenas que quem não tem dinheiro não deve ter vícios e acrescento o seguinte: esta triste candidatura não deveria ser reduzida a uma questão de dinheiro e de lucros. É uma questão de política, de estratégia e de princípios. Se não estranho que os homens do futebol pouco se interessem com estes pormenores, desde que venha a massa, desgosta-me que o Governo, os partidos e o próprio Presidente da República não se interessem pelo assunto e não reflictam sobre ele à luz da História e das relações entre os dois Estados.
Esta organização não tem a ver com dinheiro. Ela encerra um conceito perigoso para a nossa política e para a nossa economia. Através do futebol estamos a comunicar que somos uma província da Ibéria. A ideia de Saramago começa a fazer o seu caminho. Eu sou contra!
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