João José Brandão Ferreira
…«Um Exército mal armado e pouco numeroso não serve para
nada, senão para gastar ao Tesouro uma soma avultada de contos de Reis em pura
perda; um Exército organizado, bem disciplinado e tão numeroso quanto o
comportarem as forças do país é um elemento de ordem, independência e
prosperidade pública; é um meio de que servem todas as nações modernas, para
conservarem a sua dignidade e defenderem os seus interesses»...
General Fontes Pereira de Melo perante as Cortes, em 02 de
Julho de 1860
Antigamente o Rei mandava marchar (não chover) e as tropas
marchavam. Mas só marchavam se as Cortes, onde estavam representados os «braços» do Reino, autorizassem.
A coisa complicou-se quando inventaram os Partidos, disseram
que eles é que formavam governo - não o Rei - e mandavam. O Rei passou a reinar
mas não a governar. Ou seja, o Rei passou a ser uma figura algo decorativa, mas
continuava a ter poderes fácticos e simbólicos importantes. Os Parlamentos, que
substituíram as Cortes, passaram a funcionar, porém, muito pior do que estas. O
Rei, todavia, encarnava a Nação e era símbolo da Pátria. Era a continuidade da
Pátria. Os guerreiros eram o braço armado dessa entidade intangível, mas que
todos entendiam (será que ainda entendem?): a Pátria.
Ora, a rapaziada maçónica não descansou enquanto não acabou
com a Monarquia (e ainda não desistiu de fazer o mesmo com a Igreja). Sim, a
Monarquia existe, ainda, no Norte da Europa, mas não manda nada. Dedica-se aos
negócios e é apenas tolerada, enquanto não puser em causa o «status quo».
A excepção são os Windsor mas porque o Príncipe de Gales
(herdeiro da coroa) é logo feito Grão - Mestre da dita cuja. Quem pôs isto em
causa ou estava ligado à Igreja Católica foi deposto a tiro e à bomba. A Casa
de Bragança não foi excepção.
Passámos a ter, assim, uma República com o respectivo
Presidente - outra figura decorativa. Porém, com mais agravantes: é mais caro,
está sempre a mudar, representa pouco, nem sequer quem nele vota e, ainda por
cima, temos que o sustentar e a uma pequena «corte», depois de sair de Belém e
até baixar à cova. No Estado Novo não se notava tanto, pois Belém parecia mais
a Ajuda no tempo do Senhor D. Luís I. Com uma diferença importante: não havia
gamela onde se fosse comer.
Por isso o respeito pelo PR é apenas uma formalidade ou uma
boa educação e pouca gente entende para que serve. Outro dia, houve alguns
militares que o assobiaram à porta do palácio que os nossos impostos pagam. A
guarda dita republicana - que se devia chamar nacional - houve por bem fazer de
surda.
Sem Rei; com uma Presidência da República que não é carne
nem peixe; governos desnacionalizados; políticos com espírito clubista,
atravessados por diversos lobbies, que andam de avental ou não, filados nos
negócios e sem apeias que os metam na ordem, o país definha e corrompe-se.
Com receio da Espada de Damâcles; não o assumindo, mas
passando para a opinião publicada que a tropa não serve para nada; com o
sentimento que as desventuras internacionais nunca mais nos vão tocar e com as
chefias militares neutralizadas por um emaranhado de teias, a Instituição
Militar vai-se extinguindo sem sequer deixar rasto do seu passado.
Restariam os sindicatos. Mas os sindicatos são incompatíveis
com a missão, a organização e os esteios que mantêm um Exército de pé. Podem dizer
à vontade, que há FAs que os têm mas, reparem bem, alguém as leva a sério?
Conhecem algum país que queira empregar os seus militares seriamente, que tenha
sindicatos na tropa? Pensem bem, acreditam mesmo que os holandeses (que foram
apanhados quase à mão em Srebrenica) se batem? Ou os dinamarqueses, acreditam
que se aguentam se lhes deixarem de pagar horas extraordinárias? Imaginam que
se pode confiar nos italianos que nunca ganharam uma guerra e normalmente
começam um conflito de um lado e acabam do lado contrário?
Espero que não pensem nada disto, pois se pensam vão ter uma
desilusão.
Ou seja, neste momento tudo é adverso à IM e não há ninguém
para a defender: ela está entregue a si própria até uma desgraça grave acordar
a Nação. E nem sequer podemos emigrar - seguindo os conselhos dos nossos
queridos líderes - a não ser para a Legião Estrangeira…
Parece que a Srª Merkel está a organizar legislação que
permita a um militar português prestar serviço na Bundeswear e suas congéneres
naval e aérea - tarefa hoje facilitada pelos cursos de Bolonha e pelo «Erasmus
militar» - mas a coisa ainda não está madura.
Por isso, ó tropas, estamos sós e abandonados! Que isso seja
para nós estímulo de ressurgimento! Vejamos, que tal voltar ao «A, B, C» do
mister entre todos nobre?
Deixem-se pois de andar a manifestar na rua. Isso fica mal
aos polícias, quanto mais aos militares. É contra a nossa formação, e contra a
imagem que a população tem de nós. Não façam, também, levantamentos de rancho,
é contra a disciplina, não resolve nada, ficam com fome e estraga-se comida
(que a ASAE nem sequer deixa dar aos pobres).
Sejam inteligentes e não dêem o flanco. Vamos a um caso
concreto: o do congelamento das promoções, inadmissível a todos os títulos.
Pensar: conservar presente o princípio do objectivo; manter
a coesão das tropas; garantir a unidade de comando; ponderar modalidades de
acção, (nunca esquecer a surpresa); exploração do sucesso; plano B, dia
seguinte.
Passos: pedir audiências singulares através da cadeia
hierárquica expondo as razões pelas quais a situação é insustentável e
inadmissível e entregar exposição sobre o assunto; ir pedindo audiências
sucessivas até o requerimento ter resposta; quem está fora dos Ramos deve
solicitar, por escrito, o seu regresso imediato, incluindo os que estão em
missões no estrangeiro; não haver mais declarações de voluntariado para missões
fora do país; quando um político visitar uma unidade, façam-lhe a continência,
mas não lhe apertem a mão e sempre que tiverem oportunidade digam-lhes o que
lhes vai na alma.
Procurem-se os ex-titulares de cargos políticos que tenham
responsabilidades no caso e confrontem-nos publicamente, como aquele cidadão
fez ao Armando Vara, à entrada do tribunal onde ia ser julgado - eles assim
percebem que ficam marcados e podem ser responsabilizados no futuro. Nos casos
que assim o justifiquem devem ser demandados judicialmente.
A irresponsabilidade tem que acabar.
Outra modalidade de acção deve ser equacionada desde já: a
boiada.
A tradição da boiada perde-se na bruma dos tempos.
Atenção, não é preciso atirar ovos e tomates ao Ministro da
Defesa, como já sucedeu na Bélgica. Que diabo nós temos 900 anos de História e
Tradição. Não somos um país artificial, um sub - produto do Congresso de Viena,
de 1815, cujo herdeiro da coroa nem sequer tem direito a casar com um(a) jovem
da sua terra! Mesmo tendo em conta os adiantados mentais que acham os «modelos» desenvolvidos nessas paragens frias e nevoentas como aplicáveis à nossa terra
(embora, confesse, tenha ficado com algum fascínio por esta recente experiência
de estar mais de um ano, sem governo…).
Não, nós não somos os belgas e por isso vamos ter algum
respeito, mesmo, por quem não tem nenhum respeito pelas FAs. Basta que quando
algum político se atrase quando chegar a uma cerimónia militar, as tropas façam
direita volver, destroçar; que quando o Sr. ministro (por ex.) começar a
discursar no IDN, no IESM, em qualquer sítio, a assistência se levante e passe
à frente dele, motivada por uma súbita vontade de ir à casa de banho; ninguém
falar com S. Exªs aquando de um almoço ou encontro social (ou sequer estar
presente), etc.
Julgo que já ilustrei o ponto. Vão ver que eles percebem
rapidamente. E se não entenderem a pauta logo se dança conforme a música.
Era escusado ter chegado a isto? Era; pode ter custos? Pode;
é preciso alguma coragem? É. Bom, mas não se pode constantemente acusar a
hierarquia, nomeadamente a de topo, de tudo e mais alguma coisa (nem sempre com
razão), e depois ter comportamento idêntico.
O que se é em general é, basicamente, aquilo que se foi em
alferes, com a diferença dos cabelos brancos.
E nunca faltam desculpas, a quem não quer fazer nada.[1]
[1] Próximo e último: casos mediáticos de generais e
almirantes dos últimos 30 anos.
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