segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Novos episódios do parque jurássico do PCP

Henrique Raposo

I. Há dias, o Sol tinha uma peça engraçada sobre os jovens valores da extrema-esquerda parlamentar (devia ser um oximoro, mas não é). Foi muito útil. Deu para perceber que o PCP ainda tem um stalinista, pior, um stalinista de 30 anos, a saber: Miguel Tiago. Ok, podem dizer que são todos estalinistas naquela bancada. Pois, mas este senhor nem sequer se dá ao trabalho de meter as luvas. Ele diz que o governo é «protofascista» (reparem no esforço de linguagem: o «proto» dá um ar fino; «protofascista» é coisa de deputado, «fascista» é para o maquinista) e que Portas e Passos são «cavalos» da «mafia capitalista».

Reparem como a imagem cavalar revela um talento nato para a metáfora, uma qualidade fundamental num parlamentar. Mas, atenção, o melhor ficou para o fim. O nosso sujeito estalinista diz que «recomeçaram os trabalhos legislativos da burguesia». Eu gosto dos meus comunistas assim. Sem luvas. 
II.  A hipocrisia histórica do PCP é uma coisa mesmo doentia. É uma coisa para o divã da Oprah. Esta gente perseguiu culturalmente Jorge de Sena (e Sophia, e Agustina, e E. Lourenço, e V. Ferreira) durante o tempo em que o PCP manteve uma ditadura cultural em Portugal, ainda antes do 25 de Abril . E, logo a seguir ao 25 de Abril, esta gente vetou, de bracito no ar, o regresso de Jorge de Sena a Portugal. Porquê? A heterodoxia de Sena nunca foi perdoada. Não aderir ao neo-realismo era o mesmo que defender o Tarrafal. Agora, depois deste comportamento vergonhoso, esta gente reinventa a história com uma doce homenagem a Jorge de Sena . Dêem um divã ao PCP, se faz favor.

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