Henrique Raposo
I. Há dias, o Sol tinha uma peça engraçada sobre os jovens
valores da extrema-esquerda parlamentar (devia ser um oximoro, mas não é). Foi
muito útil. Deu para perceber que o PCP ainda tem um stalinista, pior, um
stalinista de 30 anos, a saber: Miguel Tiago. Ok, podem dizer que são todos
estalinistas naquela bancada. Pois, mas este senhor nem sequer se dá ao
trabalho de meter as luvas. Ele diz que o governo é «protofascista»
(reparem no esforço de linguagem: o «proto» dá um ar fino; «protofascista»
é coisa de deputado, «fascista» é para o maquinista) e que Portas e
Passos são «cavalos» da «mafia capitalista».
Reparem como a
imagem cavalar revela um talento nato para a metáfora, uma qualidade
fundamental num parlamentar. Mas, atenção, o melhor ficou para o fim. O nosso
sujeito estalinista diz que «recomeçaram os trabalhos legislativos da
burguesia». Eu gosto dos meus comunistas assim. Sem luvas.
II. A hipocrisia
histórica do PCP é uma coisa mesmo doentia. É uma coisa para o divã da Oprah.
Esta gente perseguiu culturalmente Jorge de Sena (e Sophia, e Agustina, e E.
Lourenço, e V. Ferreira) durante o tempo em que o PCP manteve uma ditadura
cultural em Portugal, ainda antes do 25 de Abril . E, logo a seguir ao 25 de
Abril, esta gente vetou, de bracito no ar, o regresso de Jorge de Sena a
Portugal. Porquê? A heterodoxia de Sena nunca foi perdoada. Não aderir ao
neo-realismo era o mesmo que defender o Tarrafal. Agora, depois deste
comportamento vergonhoso, esta gente reinventa a história com uma doce
homenagem a Jorge de Sena . Dêem um divã ao PCP, se faz favor.
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