João José
Brandão Ferreira
Os EEIN deverão ser, então, definidos em função dos diferentes cenários internacionais existentes, a análise das ameaças e riscos e nível de ambição nacional em termos de objectivos a alcançar e interesses a resguardar. Devem, ainda, ser analisados do ponto de vista das potencialidades e vulnerabilidades.
Deste modo considera-se:
A. O espaço Euro -- Atlântico, constituído pelo triângulo político --
estratégico fundamental que liga o Continente aos Arquipélagos da Madeira e
Açores; as zonas económicas exclusivas; as FIR de Lisboa e Santa Maria e ainda
o espaço interterritorial.
Todo este espaço pode ainda ser extraordinariamente aumentado com o
alargamento do PC, cujo processo está em curso e que representa o maior ganho
estratégico para o país desde 1974 e a maior extensão geopolítica, desde 1530 –
data em que Portugal obteve a sua maior expansão territorial e marítima.
Este espaço articula-se e constitui-se numa plataforma entre a Europa (da
UE e restante), os EUA, as Caraíbas e a América do Sul; finalmente, com a
África do Norte e Ocidental.
Este espaço é o mais importante para Portugal e deve ser vigiado em termos
aéreos, marítimos e terrestres; deve ser conhecido o mais profundamente nas suas
vertentes físicas e deve ser «ocupado» permanentemente de modo a evitar-se
«vazios» estratégicos.
É um espaço fundamental para o exercício da soberania e vital em termos de
segurança e desenvolvimento económico e social. Ele representa o âmago da nossa
identidade e individualidade.
B. O EEIN Regional abrange toda a Península Ibérica ocupada pela Espanha e
todo o Norte de África desde a Mauritânia até à Tunísia e toda a bacia
Mediterrânica Ocidental. É um espaço de segurança próxima e relativamente
afastada, que encerra zonas de conflitualidade histórica com que nos
defrontamos desde o início da nacionalidade. É pois um espaço que necessita uma
vigilância atenta, pesquisa de informações e avaliação de intenções, constante.
Ao mesmo tempo é palco de um xadrez de relações entre estados de alguma
complexidade, que requer uma análise política e estratégica, sem soluções de
continuidade. Importa ainda procurar equilíbrios estratégicos que criem
dissuasão mútua e evitar fragilidades que possam criar vulnerabilidades sérias.
Este desiderato é crítico em relação à Espanha, por razões que seria ocioso
explicitar, e deve contemplar todas as áreas do espectro em que se analisa o «Poder»
dos Estados, com relevo especial para o âmbito psicológico – o mais perigoso de
todos.
É um espaço onde não se pode descurar a afirmação cultural e identitária,
bem como o factor económico, sobretudo, e mais uma vez, relativamente à
Espanha, dado o incremento havido a seguir à entrada de ambos os países na CEE.
Mas a importância económica também se estende ao Norte de África, donde
importamos gás natural, onde temos interesses nas pescas e porque representa um
mercado promissor para os produtos e a tecnologia portuguesa.
Por último é necessário considerar que toda a área abrangida concorre com
Portugal em termos turísticos, o que importa acautelar dada a importância que
tal indústria tem na nossa balança de pagamentos.
C. O EEIN seguinte prolonga o triângulo estratégico português até Cabo Verde.
É já um espaço de defesa avançada e de projecção de poder. Cabo Verde é um dos
pontos mais importantes para o controle aéreo e marítimo do Atlântico Sul. Este
«triângulo» já tinha sido equacionado pelo Capitão Paiva Couceiro, num artigo
da Revista da Artilharia de 1906, em reconhecimento do então nó de comunicações
(telégrafo), instalado em S. Vicente.
A população de Cabo Verde é a mais evoluída de toda a África a Sul do
Sahara, com excepção de algumas comunidades brancas da República da África do
Sul (as existentes no Zimbabué estão praticamente destruídas). Cabo Verde é o
único caso de relativo sucesso na retirada política portuguesa das terras do
Ultramar (Macau é um caso à parte), e as suas gentes possuíam já um grau de
integração muito avançado no projecto multi-racial e multicontinental
português, de antanho, que só encontrava paralelo em Goa, Damão e Diu.
Por tudo isto, é do interesse nacional português criar os maiores laços
possíveis com aquele arquipélago e atraí-lo a ser um «estado associado», ou
mesmo a ter um estatuto posterior, de «região autónoma». Isto evitaria que
eventuais apetites brasileiros e estado-unidenses (quiçá angolanos), se
consumassem sobre o território, ao passo que permitiria tentar incluir Cabo
Verde na UE (se lá continuarmos) e aumentaria a nossa importância na NATO,
ajudando a evitar que o órgão de comando e controlo daquela organização sito em
Oeiras seja encerrado. Permitiria ainda que um futuro QG para África pudesse
ser instalado em Cabo Verde, sem ser apenas sob a égide americana…
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